1974, 1975, 1979, 1980, 1983, 1985 e 1986. Em 12 anos, Chris Evert ganhou Roland Garros sete vezes. Nenhuma tenista o tinha conseguido, nenhuma voltou a consegui-lo. Steffi Graf ganhou seis, entre os anos 80 e 90, e a francesa Suzanne Lenglen também conquistou o torneio seis vezes ainda na década de 20 do século passado. Sete, só Chris Evert. E, por isso mesmo, a tenista norte-americana é ainda uma das vozes mais pertinentes de ouvir quando Roland Garros está prestes a começar.

Apenas duas semanas de o US Open ter terminado, a primeira ronda do Open francês começa este domingo — uma data reagendada depois de a inicial, entre o final de maio e o início de junho, se ter tornado impossível de cumprir devido à pandemia de Covid-19. A enorme proximidade entre os dois Grand Slams fez com que Naomi Osaka, a vencedora do último US Open, tivesse anunciado que não vai estar em Roland Garros por estar ainda a recuperar fisicamente. Já Ash Barty, que ganhou o torneio francês em 2019, também estará ausente por receios relacionados com a pandemia. Os holofotes viram-se assim para Serena Williams, Simona Halep, Sofia Kenin e Azarenka, entre muitas outras. Mas os olhares estarão principalmente no quadro masculino — até porque um dos recordes mais importantes de sempre poderá ser quebrado.

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Rafa Nadal defronta este domingo o bielorrusso Egor Gerasimov e começa aí a caminhada que o pode levar até ao 20.º Grand Slam da carreira, igualando os 20 que Roger Federer completou com o Open da Austrália de há dois anos. No piso onde se sente mais confortável, o rei da terra batida vai à procura da 13.ª vitória em Roland Garros e a terceira consecutiva — sendo que esta, com a possibilidade de igualar Federer, pode tornar-se a mais importante.

No meio de tudo isto, Chris Evert deu uma entrevista à Eurosport e respondeu a perguntas de vários meios de comunicação social internacionais, incluindo o Observador. Sobre Nadal, especificamente, a antiga tenista norte-americana garantiu que o espanhol não é desta vez o “claro” favorito, como aconteceu nos últimos anos. “Principalmente depois da derrota da semana passada [quartos de final do Open de Roma, contra Diego Schwartzman]. Mas continua a ser a escolha número 1, é a escolha número 1 para qualquer pessoa que tenha alguma inteligência”, explicou Evert, recordando que Djokovic também estará em França — depois da polémica desqualificação do US Open — e que a temperatura estará alguns graus abaixo daquilo que é o normal em maio.

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“Tudo importa, tudo, cada coisa pequena que será diferente daquilo que foi nos últimos anos vai obrigar a uma adaptação por parte do Rafa. A questão é: eu acho que ele não vai perder confiança depois de perder com o Schwartzman na semana passada, isso só o vai motivar mais. O jogo dele não estava lá mas ele não jogou muito antes disso e não podemos culpá-lo. Só acho que o golpe na armadura dele é o facto de não ter jogado ao mais alto nível nos últimos seis ou sete meses. Só jogou em dois ou três torneios de terra batida antes disto. Não quero ser pessimista em relação a ele, continua a ser o favorito, só acho que deixou de ter alguma vantagem por causa da pandemia e porque os outros atletas podem estar mais relaxados e talvez um pouco mais preparados para jogar em terra batida. Ele precisa de que esteja tudo alinhado. Por isso, se de repente estiver frio num dia, a chover no seguinte, calor no outro, todas essas adaptações são difíceis para qualquer pessoa, até para o Rafa, porque ele é um ser humano”, adiantou Evert, que tem agora 65 anos e terminou a carreira em 1989 depois de 34 finais de Grand Slams, mais do que qualquer outro tenista na história, homem ou mulher.

Sobre Dominic Thiem e Alexander Zverev, dois dos nomes mais entusiasmantes do futuro do ténis masculino e os finalistas do US Open, Chris Evert garante que ambos têm a vantagem do “nível de confiança”. “Estão ambos a sentir-se bem, de certeza. Acho que a terra batida não é a melhor superfície para o Zverev, com aquele serviço forte, ele tem um bom vólei (…) Mas é o estilo do Thiem e o Thiem já se deu bem em Roland Garros antes, já chegou à final [2018 e 2019]. Acho que o Thiem tem este tipo de jogo e ganhou o US Open, pode usar isso como vantagem para estar no topo do mundo e jogar muito bem. Tem o jogo e tem a confiança. Depois de Nadal e Djokovic, ele é a escolha seguinte. São esses três”, sublinhou a antiga tenista da Flórida, realçando que o espanhol, o sérvio e o austríaco são os favoritos à vitória em França.

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E no torneio feminino? “A minha favorita é a Simona Halep. De todas as jogadoras, para mim ela é a mais sólida, a mais confiável. Tem o jogo perfeito em terra batida, é perfeita, movimenta-se bem e é consistente. E esses dois ingredientes tornam-na uma jogadora ótima. Acho que se tornou mais dura psicologicamente nos últimos anos. E não jogou no US Open, o que lhe pode dar mais ‘fogo'”, disse Chris Evert, sublinhando ainda os momentos de forma de Muguruza e Azarenka e recordando que é necessário “ter atenção” a Coco Gauff, a norte-americana de apenas 16 anos.

Chris Evert viveu uma rivalidade entusiasmante com Martina Navratilova, enquanto que no ténis masculino o trio Nadal/Djokovic/Federer há muito que compete internamente pelos títulos, numa hegemonia que só nos últimos anos começou a ser questionada. No quadro feminino, porém, são muitas as tenistas que surgem agora com capacidade para chegar a grandes finais, ainda que não existam rivalidade com as de antigamente. “Tivemos a Steffi [Graf] e a Monica [Seles], a rivalidade que se seguiu a mim e à Martina. E que infelizmente foi interrompida devido ao incidente com a Monica [foi esfaqueada por um adepto no Open de Hamburgo, em 1993], mas teria sido incrível. Tivemos a Venus e a Serena durante um tempo, foram rivais durante algum tempo depois de aparecerem. E depois não apareceu ninguém para contrariar a Serena, nunca foi “a Serena e alguém”. Por isso talvez agora seja Coco Gauff e Naomi Osaka ou Sofia Kenin e a Naomi. Há tantas jogadoras diferentes e tantos cenários diferentes de rivalidade. Mas até jogarem uma contra a outra pelo menos 10 vezes, na minha opinião, não é uma rivalidade”, atirou a antiga número 1 do mundo, que foi também presidente da WTA nos anos 70 e 80.

French Open Finalists

Chris Evert (à direita) com Martina Navratilova: as duas tenistas foram as grandes protagonistas da maior rivalidade do ténis feminino nos anos 80

E como é que Chris Evert, a antiga tenista, olha para os próprios recordes a serem quebrados? Principalmente depois de Serena Williams ter igualado os seis US Open que a norte-americana venceu. “Não ligo muito, não, a sério que não. Quer dizer, eu gosto de ter sete Roland Garros, tenho muito orgulho disso. E gosto de ter seis US Open, tenho muito orgulho disso. Mas se quebrarem os recordes não perco o sono com isso, podemos dizer assim”, terminou a norte-americana, que terminou a carreira com 18 Grand Slams e oito Fed Cups conquistadas com a seleção dos Estados Unidos.