Uma variante genética “muito específica” do SARS-CoV-2, vinda da região da Lombardia, em Itália, entrou em Portugal, pela região norte, a 20 de fevereiro. Depois, esteve vários dias a disseminar-se, provocando várias cadeias de transmissão, sem que estivesse no radar das autoridades de saúde. O primeiro caso só foi detetado a 2 de março, mais de 10 dias depois, e aquela mutação específica do vírus nunca chegou a espalhar-se para o sul do país. Estas são algumas das conclusões preliminares de um novo estudo coordenado pelo Instituto Nacional dr. Ricardo Jorge, que foi apresentado esta segunda-feira na habitual conferência de imprensa da DGS e do Ministério da Saúde.

“Hoje já sabemos que o arranque da epidemia da Covid-19 em Portugal foi provocado pela disseminação massiva de uma mutação específica do SARS-CoV-2 no seu principal antigénio, com origem em Itália, e que isso foi responsável por 3.800 infeções em Portugal, especialmente no norte do país”, começou por dizer o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, citando as mais recentes conclusões de um estudo sobre a diversidade genética do novo coronavírus, um projeto de investigação coordenado pelo Instituto Nacional dr. Ricardo Jorge (INSA).

Ao seu lado, na sala, estava João Paulo Gomes, do INSA, que deu mais pormenores sobre as conclusões deste novo estudo, referindo, contudo, que os resultado finais só serão conhecidos nas próximas duas ou três semanas. “O arranque da pandemia começou com a introdução de uma variante genética vinda da região da Lombardia e terá entrado em Portugal a 20 de fevereiro na região norte/centro do país”, tendo-se disseminado durante 10 dias sem que pudesse ser detetado, explicou.

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Foi isso que originou a emissão de “umas quantas cadeias de transmissão que depois foram crescendo” de forma a que a meio de abril houvesse cerca de 3.800 casos de Covid-19 com origem nesta mutação do vírus. Ou seja, de todos os casos que havia em Portugal por volta do dia 9 ou 10 de abril, 1 em cada 4 terão tido origem nesta variante genética “muito específica”, explicou ainda o coordenador do projeto.

João Paulo Gomes acrescentou ainda que essa mutação genética não chegou a verificar-se no sul do país, o que mostra a eficácia das medidas adotadas em março, que terão “estancado” a propagação daquela estirpe de vírus em específico. Para o coordenador do projeto, estudos como este são importantes não tanto para agir no imediato sobre os novos casos, mas sobretudo para tirar “lições” sobre as medidas a tomar para uma eventual nova vaga da pandemia ou para uma futura pandemia.

“É importante percebermos como chegámos ao ponto onde chegámos e de que forma as medidas tomadas foram ou não atempadas e eficazes”, disse, dando depois um exemplo que mostra como é importante estancar o vírus através do impedimento da circulação: “Na fronteira de Portugal com Espanha, verificamos que os coronavírus que aí circulam têm geneticamente a ver com as linhagens do coronavírus que circulam naquelas regiões de Espanha, e verificámos que essas linhagens não se encontram noutras regiões de Portugal”. Ou seja, conseguiram ser estancadas e limitadas no espaço.

51 surtos ativos em lares, 12 em escolas e vários em hospitais

Questionada sobre os surtos ativos em hospitais, Graça Freitas garantiu que os surtos estão identificados e estão a ser investigados, sendo que se registam sobretudo em profissionais de saúde, estando a ser investigado se existem cadeias de transmissão fora do local do hospital — “uma vez que estas pessoas circulam”.

Graça Freitas começou por não identificar detalhadamente quais eram as instituições de saúde afetadas, mas, olhando depois para as tabelas que levava consigo, identificou alguns dos surtos existentes em instituições de saúde: numa clínica em Guimarães há um surto com 8 doentes, que já está a acabar; numa clínica em Paredes há um surto com 4 casos; na Póvoa de Varzim há um surto antigo, já do início de agosto, numa clínica, com 85 casos e 1 óbito; e numa clínica de Vila Nova da Galé há um surto com 7 casos.

Depois, na região centro, Graça Freitas identificou um surto no hospital Sousa Martins, na Guarda, com 10 casos, que começou a 15 setembro; um outro surto numa ala de medicina do hospital de Leiria, com 8 casos. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, a DGS destacou um pequeno surto numa ala de medicina do Hospital Garcia de Orta, com 2 casos, um outro surto numa clínica psiquiátrica do Lumiar, com 14 casos, e um surto na clínica São João de Ávila, com 16 casos. No hospital Egas Moniz também se confirma um surto, mas Graça Freitas não precisou o número de pessoas envolvidas.

Graça Freitas garante que 335 mil doses de vacinas para a gripe na primeira fase são suficientes. “Não é tudo ao mesmo tempo”

Questionada sobre o processo de vacinação contra a gripe, Graça Freitas explicou na conferência de imprensa que as pessoas abrangidas pela primeira fase de vacinação “não são vacinadas todas no mesmo dia”. O método é feito através de agendamentos, sobretudo nos lares e unidades de cuidados continuados, onde a logística é “mais complexa”.

“As pessoas vão sendo vacinadas, não é tudo no mesmo dia. Nos lares, onde a logística é mais complexa, são os centros de saúde que se organizam com os lares e unidades de cuidados continuados para vacinar os utentes, havendo deslocação de equipas nossas para programar a vacinação dos residentes e dos respetivos profissionais”, explicou Graça Freiras, falando em agendamentos para vacinação ao nível de uma “organização local”.

Graça Freitas disse ainda que, este ano, a vacinação dos profissionais de saúde é gratuita, tal como a dos utentes. Daí que afirme: “335 mil doses são suficientes na primeira fase, mas é preciso é uma organização local”.