Desde o início do ano e até ao final de agosto já nasceram 56.678 bebés em Portugal, menos 900 do que em 2019 em igual período. Os números foram revelados à Rádio Observador pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge e são relativos aos testes do pezinho realizados em todo o País nos primeiros oito meses do ano — seis deles em situação de pandemia.

Entre março, altura em que foi registado o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus, e o final de agosto, foram mais de 42.700 os nascimentos a acontecer no País (menos 125 do que no ano passado).

A Rádio Observador falou com as mães de Vasco e Afonso, dois bebés nascidos durante a semana da Páscoa, em abril, para perceber o que mudou com a pandemia e como foram os respetivos partos em estado de emergência, numa altura em que nem sequer era permitida a livre circulação entre concelhos.

“Parece que se vingaram de todos os anos em que tiveram de ter os acompanhantes ao pé das grávidas”

“A partir do momento em que não deixaram o acompanhante entrar, parece que se vingaram de todos os anos em que tiveram de ter os acompanhantes ao pé das grávidas e fizeram tudo aquilo que quiseram e mais alguma coisa”, queixou-se Leonor, mãe de Vasco, que nasceu no hospital, a 6 de abril de 2020.

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“A grávida, ali, principalmente em trabalho de parto não tem quase opinião nenhuma a dar, eles fazem o que querem e se nós não quisermos podemos ir embora.”

Já Marta, a sua irmã mais velha, que planeou “desde sempre” ter o segundo filho em casa, partilhou uma experiência completamente diferente. Afonso nasceu a 11 de abril, cinco dias apenas depois do primo. Ao contrário de Leonor, Marta teve o pai do filho sempre ao seu lado: “Foi um parto domiciliário, portanto não sofreu muito com a pandemia, até nos salvaguardou de todas estas questões de o pai não poder estar presente e de haver intervenções desnecessárias”.

Quase seis meses depois dos nascimentos, o efeito pandemia mantém-se nas vidas de Marta e Leonor que tentaram resguardar ao máximo os bebés durante os primeiros meses de vida, mas que agora se prepararam para a inevitável entrada na creche.

“Não é tanto o medo de que ele apanhe alguma coisa mas o medo do que vão fazer se acontecer alguma coisa, tivermos de ir com ele ao hospital e ele testar positivo, se nos vão separar. Isso é impensável”, justificou Marta.

Convidada a descrever ao filho o ano em que nasceu, a mãe de Afonso respondeu assim: ” É o ano em que está tudo maluco. Apareceu uma doença e as pessoas ficaram todas malucas com medo e deixou de haver bom senso”.

Pode ouvir a reportagem completa aqui:

Do parto às idas à rua, as vidas de Vasco e Afonso, dois primos bebés nascidos em plena pandemia

“Cada serviço deverá avaliar, dia a dia, caso a caso, as condições que tem”

Entrevistado esta quinta-feira na Rádio Observador, João Bernardes, presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, garantiu que, tal como para as grávidas, também para os médicos “é muito importante” a presença do pai ou de outro elemento da família no momento do parto, mas explicou que a tomada de medidas de segurança como aquela que afastou os acompanhantes das maternidades foi inevitável.

“Isso foi necessário para assegurar a segurança das outras parturientes e evitar que tivéssemos uma escalada de mortes de parturientes e perinatais como aconteceu noutros países, como o Brasil, por exemplo”, começou por dizer.

Depois, questionado sobre se, no momento atual, ainda se justificam tais medidas, João Bernardes explicou que as normas foram entretanto alteradas, pelo que desde junho, “desde que se salvaguarde a segurança dos próprios e da família”, a presença dos pais já voltou a ser permitida nas salas de parto.

“O que a norma diz é que cada serviço deverá avaliar, dia a dia, caso a caso, as condições que tem. Um serviço pode num dia ter um parto sem nenhuma infeção e, no dia seguinte, ter dez partos, com cinco infeções”, acrescentou ainda.

Pode ouvir toda a entrevista ao presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos aqui:

Nascer em tempos covid. “Houve grandes mudanças, mas foram necessárias”, defende presidente do Colégio de Ginecologia da Ordem dos Médicos