Em direto, na passada terça-feira à noite, Donald Trump e Joe Biden debateram ao longo de uma hora e meia, sem máscara, mas à distância de segurança de mais de dois metros, cada um no seu púlpito, com o moderador Chris Wallace no meio. Antes e depois do confronto, que tem sido descrito como um dos menos edificantes da história dos debates presidenciais dos Estados Unidos, ambos circularam pelo estúdio preparado em Cleveland, no Ohio, de cara destapada e acompanhados das respetivas mulheres — várias fotografias atestam: Jill Biden era a única a usar máscara.

Agora que tanto o Presidente dos Estados Unidos como Melania, sua mulher, testaram positivo para o novo coronavírus, a questão impõe-se: poderão ou não ter sido infetados também o candidato democrata e o moderador, jornalista da Fox News, bem como todos os presentes no estúdio?

Questionado pelo Observador, João Manuel Braz Gonçalves, virologista da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, não tem dúvidas: todas as pessoas que na noite de terça-feira, dia 29 de setembro, estiveram no estúdio onde decorreu o debate devem ser testados — a possibilidade de terem sido infetados é real.

“Se Trump testou positivo ontem, na terça-feira já estava com capacidade infecciosa. Portanto, depois de uma hora e meia a falar — ainda por cima da maneira como fala, sempre com perdigotos —, mesmo que à distância, acho que há claramente uma necessidade de Joe Biden e os outros testarem”, explicou o especialista.

O facto de terem sido mantidas as distâncias consideradas seguras, acrescentou ainda, não é garantia de nada: “Uma das coisas que nós já sabemos sobre este vírus é que fica latente, ou seja consegue sobreviver muito tempo, nas micro-partículas de humidade do ar. Certamente o ar condicionado estava ligado, portanto circulação do ar havia por todo o estúdio. Há possibilidade de infeção”.

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Ainda assim, ao contrário de Sanjay Gupta, neurocirurgião e o principal correspondente médico da CNN, que defendeu que Biden deveria ser “imediatamente testado” — e do que o próprio candidato democrata, aliás, fez, logo esta sexta-feira de manhã, juntamente com a mulher —, Braz Gonçalves garante que antes do final desta semana não valia a pena fazer o teste ao SARS-CoV-2.

“Neste momento ainda não faz sentido, normalmente só ao fim de cinco ou seis dias depois de uma infeção é que conseguimos detetar o vírus, portanto se foi terça-feira, no domingo ou na segunda Biden deve fazer um teste para ver se está infetado ou não”, explicou o virologista.

Ou seja, o teste negativo que o candidato democrata recebeu esta sexta-feira à tarde não significa necessariamente que Biden, de 77 anos, não esteja infetado: se tiver sido exposto ao vírus na passada terça-feira, há menos de 72 horas, o mais provável é que a análise feita não consiga detetar qualquer carga viral.

Foi através do Twitter que Biden revelou que tanto ele como a mulher testaram negativo. “Espero que isto sirva como um alerta: usem máscara, mantenham a distância social, e lavem as mãos”, aconselhou o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e atual candidato presidencial.

Atualizado às 17h43 com a informação de que o teste feito por Joe Biden deu negativo