O ministro da Defesa resolveu recuar na diretiva sobre a utilização da linguagem não discriminatória nas Forças Armadas. Num despacho com data de 2 de outubro, assinado por João Gomes Cravinho, o ministro considera “anulados” os ofícios da Secretaria Geral do Ministério com as orientações sobre o uso dessa linguagem por a decisão “carecer de aprovação superior e por se tratar de um documento de trabalho que não evidencia um estado e maturação adequado”.

A orientação que está na base desta decisão do Ministério liderado por Gomes Cravinho foi noticiada esta semana pela TSF e definia que os militares começassem a usar uma linguagem mais inclusiva e menos discriminatória nos documentos e comunicações oficiais. No texto era explicado que o objetivo passava por “salientar a importância para a utilização de linguagem sensível ao género, dar a conhecer exemplos práticos que previnam a utilização de linguagem discriminatória e contribuir para a eliminação dos estereótipos existentes”.

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Mas a diretiva de 16 páginas, datada do dia 18 de setembro, e enviada aos três ramos das Forças Armadas foi rapidamente contestada pelos militares. A Associação de Oficiais das Forças Armadas estava, começou por decidir “ignorar” a diretiva que considerou “uma patetice e mais uma tentativa de distrair as pessoas”, segundo disse ao Observador há dois dias o tenente coronel António Mota, da AOFA.

A associação depressa mudou de ideia e começou “a ponderar fazer qualquer coisas mais ruidosa, mais mediática”. Uma manifestação? “Não queremos fazer figuras de patetas. No cumprimento do nosso objetivo, de defender os nossos direitos, vamos ter que fazer mais qualquer coisa. O mais qualquer coisa poderá ser o sair à rua“, disse o mesmo responsável.

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Entretanto, na quinta-feira, o ministro da Defesa veio tentar acalmar os ânimos da situação criada pela diretiva do seu Ministério, e afirmou que “o que é verdadeiramente importante é o trabalho que está a ser feito na promoção da igualdade de género dentro das Forças Armadas. Depois se se deve prever ‘nascido em’ ou ‘data de nascimento’, isso é absolutamente menor, não tem relevância nenhuma e, do meu lado, confesso que não pretendo passar muito tempo a pensar nessa matéria”, disse João Gomes Cravinho que acabou agora por ter de vir a tomar uma decisão contrária sobre o assunto que desdramatizou ainda há dois dias.

Artigo atualizado com despacho a que o Observador teve acesso