Elogios de um lado, elogios do outro, elogios para todo o lado. A ligação entre Pep Guardiola e Marcelo Bielsa não é propriamente nova mas esta seria a primeira vez que ambos iriam defrontar-se na Premier League, após alguns duelos memoráveis na Liga espanhola entre Barcelona e Athl. Bilbao. Na antecâmara, claro está, elogios sem fim. Se o argentino do Leeds influenciou de forma direta a forma de ver o futebol de dezenas de treinadores (algo que foi assumido pelos próprios), o espanhol do Manchester City abriu uma nova era ao construir um dos melhores Barças de sempre com todos os títulos que daí chegaram. Ainda assim, títulos parece não ser tudo no futebol.

“Acho que ele é provavelmente a pessoa que mais admiro no futebol, como treinador e pessoa. Acho que é o técnico mais autêntico na maneira como lidera as suas equipas, é único. Principalmente o seu comportamento como pessoa fora do campo”, começou por referir Guardiola, na antecâmara do jogo. “Sinto que os treinadores não devem ser apenas julgados pelo número de títulos e prémios que ganham porque me sinto ainda muito longe em relação aos conhecimentos que ele tem enquanto técnico. As minhas equipas ganharam mais troféus do que as dele mas em termos de conhecimento do jogo e muitas outras coisas ele está muito à frente”, completou.

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“Uma coisa é o Klopp, outra coisa é o Guardiola, outra sou eu. Não posso considerar-me num plano de comparação ou igualdade com eles. Guardiola causou muitos danos ao futebol porque, sem querer, proporcionou a invenção de sistemas para as equipas se defenderem das suas próprias equipas. Esse sistema é ficar com dez jogadores dentro na própria metade do campo, atrás do círculo central. É um sistema para neutralizar as equipas de Guardiola, de Klopp, aqueles que tentam realmente jogar…”, referiu Bielsa que, ainda assim, minimizou o facto de estar agora na Premier League. “Para mim nada supera aquilo que podes sentir quando orientas uma equipa como o Newell’s mas se estivermos a falar da Europa, dos clubes europeus, Marselha e Athl. Bilbau são dois lugares únicos para se respirar futebol”, adiantou o argentino, recordando outras passagens recentes na carreira.

Elogios são elogios, palavras são palavras, futebol é futebol. E mesmo sendo a quarta jornada da Premier League havia muito em jogo dos dois lados. O Leeds até começou a perder neste regresso ao primeiro escalão mas se essa exibição em Anfield onde o Liverpool ganhou apenas nos minutos finais por 4-3 acabou por ser confirmada nos encontros seguintes, com triunfos frente a Fulham e Sheffield United que rapidamente colocaram a formação de Bielsa como principal candidata a equipa sensação da prova. Já o Manchester City, que iniciou mais tarde a prova, arrancou uma complicada vitória fora com o Wolverhampton num jogo onde facilitou no segundo tempo e, na última jornada, foi goleado no Etihad frente ao Leicester no resultado surpresa da ronda. Os dados estavam lançados para um dos jogos grandes da ronda, para confirmar se os momentos eram conjunturais ou algo mais.

Com Rúben Dias a assumir a titularidade ao lado de Laporte poucos dias antes de ser apresentado (terça-feira, ao mesmo tempo de Otamendi no Seixal… com mais de três horas de atraso devido a questões de documentação), os citizens entraram a todo o gás e em cinco minutos já levavam três remates e uma bola no poste, de Kevin De Bruyne, que tentou enganar Meslier num livre lateral e ficou muito perto de inaugurar o marcador (4′). Do Leeds, pouco ou nada, ao contrário do que tinha acontecido em Anfield com o Liverpool onde a equipa teve uma grande resposta às zonas de pressão mais altas montadas por Klopp. E também chegaria a oportunidade de golo para o central português, na sequência de uma bola parada, com o cabeceamento a sair ao lado (12′).

Os visitados tiveram ainda um lance que podia trazer algum período por demérito de Kyle Walker, que permitiu que o adversário ganhasse a frente por não atacar logo a bola, mas a primeira parte estava mesmo talhada para ter um domínio total do Manchester City, que se adiantou no marcador por Sterling após mais um erro na saída a partir de trás no Leeds e o recuo em demasia da linha defensiva (17′). Para se ter noção da avalanche ofensiva do conjunto de Guardiola, os visitantes levavam 11 remates em 22 minutos contra apenas um do opositor, que aos poucos foi conseguindo ter mais bola aproveitando também o ligeiro recuo do início da pressão contrária. E até foi o Leeds a acabar o primeiro tempo com uma oportunidade flagrante já depois de um aviso de Dallas, com Ayling a aproveitar um erro crasso de Mendy mas a não ultrapassar a “mancha” de Ederson (45+1′).

Rúben Dias, que teve problemas em entrar no estádio por não ter no telemóvel a aplicação que todos os elementos devem exibir à chegada e onde estão todos os dados relativos ao estado de saúde e à Covid-19, mostrava-se seguro em dia de estreia na Premier League e teve também uma boa entrada no segundo tempo, com um corte fulcral para canto em mais uma investida do Leeds pela direita do seu ataque. Seguro e, para mal do City, mais seguro do que Ederson: acabado de fazer uma grande defesa para canto a remate de Rodrigo, o brasileiro saiu mal da baliza e permitiu que o internacional espanhol também ex-Benfica fizesse o empate numa bola perdida na área (59′). A história estava mesmo a ser escrita pelos dois jogadores que passaram pela Luz (e ainda havia mais Hélder Costa e Bernardo Silva em campo, o último entrado na segunda parte), com Ederson a redimir-se com uma sensacional defesa a cabeceamento de Rodrigo que fez ainda a bola bater na trave (70′). O conjunto de Bielsa, que esteve encostado às cordas, mudara por completo o jogo mas não passaria do empate apesar das oportunidades.

“O Rúben vai jogar o mais rapidamente possível e vai adaptar-se. O Eric [Garcia] está com problemas musculares e o John [Stones] esteve de fora durante dez dias portanto não tivemos grande escolha. Considero que tem uma boa personalidade, é bom de cabeça e bom na construção. É inteligente na movimentação, em termos táticos. Foi por isso que fizemos um grande esforço para o contratar. Quero agradecer ao clube por tê-lo trazido mas não nos podemos esquecer que ele só tem 23 anos. É jovem portanto terá tempo para evoluir”, comentara pouco antes do início do jogo Pep Guardiola, à Sky Sports, falando sobre a titularidade do internacional português marcada por um empate que atrasa ainda mais a equipa em relação aos primeiros lugares da Premier League.