A sala tem uma dezena de ecrãs gigantes, imagens GPS, imagens ao vivo de vários portos e foi dali que o pessoal do Centro de Operações Marítimas (COMAR) já assistiu, em direto, a um naufrágio de um veleiro.

Quem trabalha no centro de operações marítimas na base do Alfeite, Almada, distrito de Setúbal, descreve rotinas e uma missão de 24 horas por dia, sete dias por semana, para as operações de salvamento numa área que inclui toda a costa portuguesa, vai além da ilha do Corvo, nos Açores, no meio do Atlântico, até às ilhas desertas, na Madeira – 5,75 milhões de quilómetros quadrados, no total.

Em direto de uma das câmaras montada num porto português, da responsabilidade da Autoridade Marítima Nacional, foi também possível assistir ao naufrágio de um veleiro em que se pôde ver duas pessoas cair à água e apenas uma chegar viva a terra.

“Em desespero”, e com “o veleiro atravessado” já perto da costa, duas pessoas, um casal, atiraram-se à água e nadaram até terra, recordou, à Lusa, o diretor do Centro de Operações Marítimas, o comandante Madaleno Galocha.

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O que mais assustou quem assistia aquele naufrágio, para o qual foi dado o alerta e mobilizado pessoal para o salvamento, foi não ver chegar a segunda pessoa, que mais tarde se confirmou ter morrido.

Na sala cheia de computador e telefones — incluindo uma “hotline” (uma espécie de telefone vermelho) com a Força Aérea, principal parceiro nas suas missões — está também instalado o centro coordenador de busca e salvamento e a célula de acompanhamento de navios mercantes de bandeira portuguesa, que também dá apoio a operações militares da Marinha, como a que está em missão em São Tomé e Príncipe, por exemplo.

No total, em 2019, foram salvas, no mar, 309 pessoas em operações coordenadas pelo COMAR. Já este ano, foram 74 os salvamentos efetuados.

A Força Aérea Portuguesa é um dos parceiros fundamentais nas missões de busca e salvamento, mas o centro não faz apenas isso, também apoia operações da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) ou da Polícia Judiciária (PJ), por exemplo.

Em novembro de 2019, durante três dias, a Marinha, PJ, um avião da Força Aérea e a polícia espanhola acompanharam um submersível carregado com droga com destino à Galiza, que foi capturado em Vigo.

Depois, há ainda outra missão, a de dar informação aos navios de bandeira portuguesa espalhados pelos mares do mundo — e são muitos os que pertencem ao registo internacional de navios da Madeira.

A célula de acompanhamento de navios mercantes de bandeira portuguesa é um “difusor de informação”, resultado da cooperação com outras agências mercantes e com centros militares, acrescentou o comandante.

Se se registar um ato de pirataria no Golfo da Guiné, essa informação é tratada no centro e transmitida “a todos os navios de bandeira portuguesa que naveguem na área para tomarem as devidas precauções, para se afastarem da área e redobrarem a sua vigilância”.

Para tudo isto, o centro tem um instrumento, que Madaleno Galocha chama de “os nossos olhos” no mar. É um sistema, o OverSee, desenvolvido pela empresa portuguesa Critical Software, “o sistema dos sistemas”, que junta numa só ferramenta a informação dispersa de outras entidades.

É uma espécie de mapa, em computador, com dezenas ou centenas de pontos, de cores diferentes conforme se trate de cargueiros, veleiros ou barcos de pesca, que se expande ou concentra conforme as necessidades.

É um sistema base para “apoiar as buscas e salvamento” e, com ele, é possível calcular, em caso de naufrágio, a área de busca, qual a deriva e estimar a “área para buscas”, descreveu.

Madaleno Galocha, que comandou o navio “Viana do Castelo” na missão de Frontex no sul de Itália, em 2017, voltou a cruzar-se com o tema dos migrantes na sala da base do Alfeite.

Em agosto, foi o 112 da Autoridade Marítima a receber o alerta para a chegada de um grupo de migrantes marroquinos na ilha do Farol.

Depois, foi difundido o alerta, passada a informação ao capitão de porto, foram “empenhados os meios” na alçada da Marinha, como a “lancha de fiscalização rápida que estava no Algarve”, enquanto as outras forças policiais também se punham em campo.