A um ano das autárquicas, os partidos no poder afirmam estar a trabalhar para conseguirem o maior número possível de autarquias, num contexto de pandemia em que é sublinhado o importante papel dos autarcas no relançamento da economia local.

De entre os partidos que detêm lideranças municipais no atual mandato, CDS-PP, PCP e PS destacam que as eleições locais começam sempre a preparar-se logo no dia seguinte às autárquicas e têm como objetivo comum ganhar em 2021 o maior número de autarquias possível.

No caso do PS, segundo a deputada e ex-autarca Maria da Luz Rosinha, o objetivo é mesmo manter a maioria de autarquias, repetindo os “bons resultados de 2017”, altura em que ganhou em 159 das 308 câmaras.

Para o conseguir é preciso andar “todos os dias no terreno”, ouvir as populações e os seus problemas, fazer um levantamento exaustivo das preocupações em todos os concelhos do país e equacionar soluções, o que nas autarquias envolve “milhares e milhares de pessoas”.

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Segundo a deputada socialista, um presidente da câmara de hoje tem desafios que ultrapassam às vezes o domínio local, como a criação de emprego, a captação de investimento e a promoção dos seus territórios, temas que ganham mais destaque atualmente, em consequência da Covid-19.

Combater a pandemia e relançar a economia segundo as particularidades de cada território serão fundamentais no atual contexto e é preciso encontrar “os melhores candidatos, os mais empenhados, os mais competentes”, especialmente para os cerca de 20 concelhos onde os presidentes socialistas chegaram ao limite de mandatos.

“O PS, e desde logo os responsáveis pelo setor das autarquias, não podem nunca deixar de lado aquilo que são os grandes objetivos do Governo e as grandes preocupações do Governo para um período como o atual”, afirmou, salientando também que está em curso um processo de descentralização e que as novas competências na área social “são fundamentais” neste contexto.

O objetivo do CDS-PP é “concorrer ao maior número de câmaras e autarquias possível em listas próprias”, mas também contar com o parceiro de coligação, “que é o PSD, e dessa forma concorrer ao maior número de câmaras possível numa frente de direita onde seja possível conquistar autarquias de esquerda”, disse o secretário-geral do partido, Francisco Tavares.

As conversações com o PSD já foram iniciadas, mas, segundo o dirigente centrista, “muita água ainda há de correr até um resultado”.

Já fixado está o patamar de, pelo menos, manter as seis câmaras onde o partido popular vendeu sozinho: Velas, Ponte de Lima, Albergaria-a-Velha, Vale de Cambra, Santana e Oliveira do Bairro. Em 2017, o CDS-PP conseguiu ainda outras 15 câmaras em coligação.

A pensar nas autárquicas, o partido está a ouvir as concelhias e as distritais até ao final de novembro, para preparar um documento conjunto com os critérios de financiamento e o modelo de repartição dos recursos pelas candidaturas, e “um manifesto geral autárquico com conteúdo que pode ser aproveitado pelas concelhias para o seu programa eleitoral”.

Em breve apresentará também um manual prático “para apoiar os autarcas naquele que será o trabalho que irão desempenhar”, destacou.

Numa resposta escrita, o PCP, que em 2017 perdeu 10 câmaras, nove delas para o PS, considerou que a preparação das eleições para as autarquias “é inseparável da intervenção e do trabalho que se realiza ao longo do mandato”.

Interviremos nesta eleição com o objetivo do reforço da CDU, em votos, mandatos e maiorias. Sem desvalorizar o papel de cada um dos eleitos por si, o que determina a afirmação da CDU é a imagem do trabalho, honestidade e competência justamente reconhecida à ação coletiva dos eleitos”, escreveu o partido.

Mais pessimistas estão os movimentos de cidadãos, de acordo com Aurélio Ferreira, presidente da Associação Nacional dos Movimentos Autárquicos Independentes (AMAI), que representam mais de 900 grupos e todos muito heterogéneos.

Aqui não há uma estratégia comum, cada qual prepara-se ao seu ritmo, e se há quem esteja já a preparar-se para o objetivo de vencer, também há quem nem se tenha apercebido bem da implicação para os independentes das recentes alterações à lei eleitoral.

Segundo Aurélio Ferreira, aquilo que era para serem alterações cirúrgicas à lei tornou-se “numa cirurgia de peito aberto” para estes movimentos.

As dificuldades das candidaturas de grupos cidadãos já eram bastante grandes comparadas com as candidaturas partidárias e agora esta nova alteração da lei foi promulgada em agosto e é uma maldade”, disse.

A exigência de que um grupo candidato à câmara tenha de constituir listas diferentes para se candidatar a cada assembleia de freguesia no mesmo concelho é uma dessas dificuldades. Outra é a exigência de reconhecimento das assinaturas presencialmente.

“Agora imagine o que acontece, por exemplo, em Barcelos, que é uma cidade que tem mais de 60 freguesias. Poderemos ter em Barcelos a exigência de 60 grupos de cidadãos diferentes. Isto vai ser uma confusão tremenda. Uma confusão e uma dificuldade acrescida”, considerou.

Aurélio Ferreira afirmou que ainda espera que “os partidos ponham a mão na consciência” e que “haja uma alteração”.

“Com estas atitudes, o que fazem é afastar ainda mais os cidadãos na vida política e as pessoas refletem já isso nas abstenções. Creio que muitos cidadãos vão desistir”, considerou.

Contactada pela Lusa, fonte do PSD afirmou que o partido apenas poderia ter dados para falar sobre autárquicas a partir de 15 de outubro.