A maioria dos pais considerou os filhos autónomos na escola, mas admitiu ter dedicado várias horas por dia a apoiá-los no estudo durante o isolamento, abdicando muitas vezes de tempo de descanso, revela esta quinta-feira um estudo nacional.

Mais de 23 mil encarregados de educação de todo o país responderam a um inquérito que mostra como os pais descobriram lacunas nos filhos durante a pandemia, em especial durante o período em que a escola e o emprego se transferiram para dentro de casa.

A maioria dos pais considerou o filho autónomo: alguns disseram que é “totalmente autónomo” (12%), outros viram os filhos como “muito autónomo” (23%) e há quem os tenha classificado como “moderadamente autónomo” (39%), indicou o estudo feito entre junho e julho deste ano. No total, 74% dos encarregados de educação indicaram que a palavra “autónomo” se adaptava ao filho.

No entanto, a maioria dos pais admitiu ter apoiado os filhos nos estudos durante a pandemia: 40% disseram dedicar uma a duas horas do dia e outros 26% mais de mais horas diárias. Quase metade dos pais (45%) disse que os educandos precisavam “frequentemente da presença de um adulto” para a realização de tarefas e outros 31% disseram que os filhos conseguiam realizar as tarefas sozinhas, mas ficavam sempre a aguardar pela “supervisão final de um adulto”. Apenas 24% realizavam as tarefas sozinhos.

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Estes são resultados médios. Numa análise por idades percebe-se que o 6.º ano é o ponto de viragem: até aquele nível de ensino, as crianças precisam de ajuda e dali para a frente vão ficando cada vez mais independentes.

A maior parte do trabalho voltou a recair sobre as mães, alertou o psicólogo Eduardo Sá em declarações à Lusa. Os estudos indicaram que as mulheres trabalham, em média, 98 horas por semana e que os filhos são o segundo trabalho. “Não estamos longe dessa realidade”, lamentou o psicólogo.

Durante a quarentena, muitos pais trouxeram o trabalho para casa, mas foi também ali que passou a estar reunida toda a família, 24 horas por dia. O “trabalho de pais” passou a ser a tempo inteiro e muitas vezes teve de fazer também as vezes de professor, explicador e até gestor de conflitos. Os pais andavam mais preocupados com os filhos, tendo muito mais trabalho e muito menos tempo para si, lembrou o psicólogo.

Mais de 80% dos pais reconheceram que, no período de confinamento, tiveram menor disponibilidade de tempo para si. Em média, os pais sentiram-se, de forma muito significativa, menos satisfeitos com a sua vida. Apoiar as tarefas escolares, acompanhar as crianças na telescola, ocupá-las e gerir os conflitos familiares em torno delas foram identificadas como as maiores dificuldades. Para conseguir responder a todas as tarefas do dia-a-dia, acabaram por sacrificar o tempo que dispunham para si próprios.

No entanto, apesar de todos os problemas identificados, os pais continuaram a dizer que as tarefas que lhes dão mais prazer, tanto antes como depois da quarentena, são brincar e ensinar os filhos. Durante a pandemia, o mais habitual foi os alunos terem entre duas a quatro horas de atividades escolares por dia, segundo o estudo que apontou ter sido esta a situação vivida por metade das crianças e jovens. Já um em cada quatro alunos (28%) teve entre quatro a seis horas de aulas diárias.

Apenas 86% dos alunos da amostra tiveram ensino à distância, os restantes 14% ficaram sem aulas, segundo o estudo desenvolvido pela Escola Amiga da Criança, em parceria com a Porto Business School da Universidade Católica do Porto e a Faculdade de Psicologia da Universidade Católica do Porto. No ensino à distância, que começou em meados de março quando as escolas foram todas encerradas, o mais habitual foram as aulas síncronas (27%), o #Estudoemcasa TV (21%) e as aulas assíncronas (19%). Segundo os pais, as maiores dificuldades dos miúdos prenderam-se com a interpretação e compreensão das tarefas que lhes eram atribuídas.

O estudo, que será apresentado esta quinta-feira no Canal Youtube da LeYaEducação, contou com a participação de pais de todas as zonas do país com filhos de todas as idades. No entanto, quase metade (46%) frequentava o 1.º ciclo, seguindo-se os encarregados de educação de alunos do 2.º ciclo (20%), do 3.º ciclo (18%), do pré-escolar (8%) e do secundário (7%). Nove em cada dez encarregados de educação tinham entre 31 e 50 anos, sendo que metade tinha entre 41 e 50.

Pais dão boa classificação a trabalho dos professores