Um estudo indicou, na quinta-feira, que a classe média baixa no Brasil aumentou para 133,5 milhões de pessoas, ou 63% da população do país, devido aos subsídios governamentais de resposta à pandemia da Covid-19.

O estudo da autoria do economista e diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Social, Marcelo Neri, publicado pelo jornal O Globo, aponta que esse aumento foi potenciado pela auxílio de emergência do Governo de Jair Bolsonaro aos mais pobres durante a pandemia de Covid-19 e pela perda de rendimentos das famílias de classe média alta, entre 2019 e agosto deste ano.

Esse aumento da classe média baixa, identificada com classe C, foi alimentado por boas notícias dos pobres e más notícias de quem estava acima. Aumentou muito o auxílio de emergência, com uma dose cavalar de transferências (…) Com isso, 15 milhões de pessoas saíram da pobreza”.

Porém, o autor do estudo frisou que se o auxílio de emergência terminar este ano, o que já foi confirmado pelo Governo, 15 milhões de pessoas voltarão para a pobreza.

Esse número representará cerca metade da população da Venezuela. Vão para pobreza, com as cicatrizes do mercado de trabalho e os efeitos mais permanentes da pandemia”.

Em causa está um subsídio mensal, no valor de 600 reais (cerca de 90 euros), que começou a ser atribuído, em abril, pelo Ministério da Economia brasileiro para ajudar as pessoas com baixos rendimentos a enfrentar a crise provocada pela pandemia.

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Este auxílio mensal de emergência tinha um prazo inicial de três meses, mas acabou por ser prolongado por mais dois meses, até agosto. Já no início de setembro, o executivo de Bolsonaro decidiu estender a ajuda até ao final do ano, mas em parcelas menores, reduzindo o valor para 300 reais mensais (45,5 euros).

Segundo Marcelo Neri, os nove meses de duração do auxílio de emergência equiparam-se a nove anos do Bolsa Família, um programa social que foi criado em 2004, pelo antigo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que hoje chega a cerca de 14 milhões de famílias pobres.

Além de uma parcela da classe baixa ter ascendido à classe média baixa, outros 4,8 milhões de pessoas que pertenciam à classe média alta (rendimentos ‘per capita’ acima de dois salários mínimos locais) perderam rendimentos e desceram para a chamada classe C.

O salário mínimo no Brasil é atualmente de 1.045 reais (cerca de 158,5 euros).

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de cinco milhões de casos e 148.957 óbitos), depois dos Estados Unidos.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e cinquenta e sete mil mortos e mais de 36,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.