Parece uma pacata ervanária no centro de Novara, cidade perto de Milão. O dono da loja é um homem de 76 anos chamado Gianni Maria Guidi. A “Quintessenza srl”, nome do estabelecimento comercial, não tinha qualquer problema legal.

Ninguém que se dirigisse à ervanária, localizada no primeiro andar de um apartamento na via Osoppo, suspeitaria de que algo errado se passava. Mas o que se veio a descobrir no verão destoou da aparente normalidade. Em julho de 2020, a Procuradoria de Turim decidiu encerrar a ervanária, procedendo a investigações dentro da loja — mais concretamente nos escritórios localizados ao lado da loja. E o simples dono de uma ervanária, também chamado de “Doutor”, foi acusado de liderar uma seita sexual.

Ao que a polícia italiana apurou, Guidi encabeçava uma rede de escravatura sexual, que já durava desde 1990. O ervanário apoiava-se numa sólida rede de contactos — aliás, outras 26 pessoas foram constituídas arguidas no processo. De acordo com Francesco Messina, diretor anticrime da polícia de Turim, Guidi possuía inúmeros cúmplices, que também operavam sob disfarce. Notários, contabilistas, uma loja de artesanato, outros ervanários e uma escola de dança eram vértices importantes numa pirâmide liderada pelo “Doutor”.

Era principalmente na escola de dança que Guidi recrutaria as escravas. Escolhia-as de acordo com alguns requisitos: beleza, dinheiro, mas também elegia aquelas que aparentavam ser mais frágeis e com a autoestima mais débil. A partir daí, as jovens começavam a sofrer abusos psicológicos por parte não só do ervanário, como dos seus cúmplices. Depois de uma forte pressão psicológica, as vítimas eram levadas para a Suíça, onde o ervanário organizava bailes e rituais tribais, que incluíam atos sexuais, ao que apurou o Corriere della Sera depois de um relato de uma jovem que integrou a rede.

A investigação continua em marcha e o arguido optou pelo silêncio. A advogada Silvia Alvares aponta várias inconsistências à acusação, segundo o mesmo jornal. Mas talvez os seus maiores apoiantes sejam os vizinhos, que continuam sem acreditar que o idoso ervanário que viam todos os dias encabeçava uma rede criminosa daquela dimensão.

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