Pediatras do hospital de Évora reclamaram esta segunda-feira “medidas urgentes e sólidas” que viabilizem a “sobrevivência” do Serviço de Pediatria, devido à falta de médicos, e alertaram que os Cuidados Intensivos Neonatais podem fechar em novembro.

Num manifesto subscrito por 21 pediatras e apoiado por 10 internos deste serviço, enviado à agência Lusa, os especialistas justificam o documento como “a tentativa derradeira para que seja prestada atenção ao Serviço de Pediatria” e defendem a adoção de “medidas urgentes e sólidas que tornem viável a sua sobrevivência”.

Quando aludem à falta de pediatras no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), os subscritores do manifesto alegam que “a face mais visível do problema” coloca-se no Serviço de Urgência Pediátrica (SUP) e avisam que “escondido atrás deste está um maior, a viabilidade da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais”.

Esta unidade “é suportada à custa de quatro pediatras fazerem urgência quando, pela sua idade, já não o deveriam fazer” e de “um que continua a assegurar turnos noturnos apesar de idade para dispensa”, restando quatro “cujo horário permite assegurar no total cinco períodos de 12 horas de urgência, dos 14 necessários”.

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Sem reforço de recursos humanos, a unidade pode fechar já a partir de 01 de novembro”.

Na semana passada, o HESE anunciou ter implementado temporariamente “um novo modelo de atendimento” no SUP para “garantir a assistência às crianças e jovens do Alentejo” e procurar contrariar a falta de pediatras.

O novo modelo, desenhado em articulação com a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, “mantém o atendimento pediátrico urgente com um pediatra de presença física – continuando-se a recorrer a prestadores de serviços, se tal se revelar necessário – e com um ou dois médicos com treino pediátrico, que farão o primeiro atendimento”, revelou o hospital.

Sobre a criação deste novo modelo, os especialistas dizem que consistiu “apenas em mudar o nome do local onde são atendidas as crianças e colocar a sua direção a cargo de um médico não pediatra”, o que “diminui o nível de diferenciação do serviço e torna legal o seu funcionamento sem pediatra”.

No manifesto, os pediatras garantem que “desde 2016 foram sistemáticos os apelos” ao conselho de administração do HESE e à ARS do Alentejo sobre a escassez de recursos humanos e que as “múltiplas cartas [ficaram] sem resposta”.

Em 2019, a equipa enviou à Ordem dos Médicos e ao conselho de administração o seu pedido de escusa de responsabilidade profissional por alguma situação que, não obstante o seu esforço, decorresse do facto de trabalharmos em condições que não permitem o exercício seguro da medicina. Não obtivemos resposta”.

E em 2020, prosseguem, a pandemia de Covid-19 “veio pôr a descoberto e agravar uma carência já irreversível”.

Segundo o manifesto, cujo primeiro subscritor é o diretor do Serviço de Pediatria, Hélder Ornelas, o corpo clínico é constituído por 23 pediatras, dos quais quatro estão a gozar licença de maternidade/baixa por gravidez, três de baixa médica, um de licença sem vencimento, três com horário reduzido e um a exercer as funções de direção.

“Dos 15 profissionais em exercício de funções atualmente, a média etária é de 53 anos”, adianta, referindo que “estes pediatras dividem-se em dois serviços, a pediatria (composta pela enfermaria, consulta, hospital de dia e urgência de pediatria) e a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais”.

Os dois serviços, salientam, têm “necessidade de assegurar assistência 24 horas por dia, todos os dias do ano” e cada um comporta uma “urgência com equipas distintas e que não se podem intersubstituir pelas especificidades das funções”.

Atualmente, adiantam, “apenas cinco pediatras exercem funções” no SUP, que “conciliam com a restante atividade, que não pode igualmente ser negligenciada”, o que é “insuficiente” para o manter “aberto ininterruptamente com dois pediatras como legalmente lhe compete”.

A Lusa contactou o HESE a propósito do manifesto dos médicos, mas não obteve resposta.