Adama Traoré explodiu na última temporada. Não só para o futebol mas fisicamente. O avançado do Wolverhampton, formado no Barcelona e nascido na Catalunha com pais malianos, deu nas vistas na época passada devido à velocidade, ao poderio físico e à capacidade de explosão que demonstrou na Premier League e que lhe garantiram a convocatória para a seleção espanhola.

Uma convocatória que apareceu pela primeira vez em novembro de 2019, para substituir Rodrigo nos jogos contra Malta e Roménia e a contar para a qualificação para o Euro 2020. Na altura, Traoré não conseguiu estrear-se devido a uma lesão. Foi normalmente chamado no passado mês de agosto, para as partidas contra a Alemanha e a Ucrânia, na Liga das Nações, e voltou a falhar a primeira internacionalização por testado positivo para a Covid-19. Em outubro e à terceira foi de vez e Traoré estreou-se pela seleção espanhola contra Portugal, na passada quarta-feira, em Alvalade.

A matemática de um particular: 2500 adeptos, duas traves, cinco defesas, zero golos (a crónica do Portugal-Espanha)

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A exibição do avançado do Wolverhampton contra Portugal deu origem a notícias no mundo inteiro, principalmente na comunicação social portuguesa e espanhola, apesar de Traoré só ter entrado já na segunda parte. A força e a rapidez do jogador, que deu muitas dores de cabeça a Raphael Guerreiro, a Rúben Semedo e a Rúben Dias, impressionaram e levaram a reportagens e longos parágrafos sobre a história do possante avançado que fica na retina apenas pela forma física. Uma forma física que, segundo o próprio e os que lhe são mais próximos, nem sequer é muito trabalhada.

Se Traoré garante que não levanta pesos no ginásio e que é tudo “genética”, essa mesma ideia é sublinhada por Conor Coady, capitão do Wolves, e Luis Enrique, selecionador espanhol. Em entrevista ao jornal AS, o jogador espanhol já contou alguns segredos. “O meu trabalho de ginásio é guiado pelo preparador físico. Mas não levanto pesos. A minha genética é assim, faz com que a musculatura cresça rápido. Faço outros exercícios, cada pessoa tem de se adaptar ao que é melhor para si. Faço muito core, abdominais excêntricos… O segredo está em conheceres o teu corpo e adaptares o treino às tuas condições físicas”, explicou Traoré, que garantiu ainda que começou a fortalecer os músculos no ginásio também para evitar lesões e que a alimentação é “fundamental”.

Spain v Switzerland - UEFA Nations League

A forma física do avançado espanhol tem impressionado tanto em Inglaterra como na seleção

“A água, embora durante os jogos não beba muita, é vital. Manter os níveis de hidratação durante um treino é fundamental para um desportista. Tento variar os pratos, ter uma alimentação diferenciada, saudável e equilibrada. Posso comer um pouco de paella ou um prato típico do Mali. A minha mãe é a melhor cozinheira do mundo! Mas também, como todos os desportistas, como muita massa. Como em função daquilo que o nutricionista me diz e do que gosto”, completou o avançado do Wolves que, esta terça-feira, se estreava no onze inicial da seleção espanhola. Depois de ter sido suplente utilizado contra Portugal e contra a Suíça, Adama Traoré voltava a mostrar que à terceira era de vez e era titular contra a Ucrânia em Kiev.

Depois de vencer a Suíça em Madrid com um golo solitário de Oyarzabal, Espanha visitava a Ucrânia de Shevchenko com a possibilidade de reforçar a liderança do Grupo 4 da Liga das Nações — à hora do apito inicial, a Alemanha tinha menos dois pontos e jogava em Colónia contra os suíços. Além de Traoré, também Rodrigo e Ansu Fati estavam na frente de ataque da equipa de Luis Enrique, com Rodri, Canales e Merino no meio-campo. Dani Olmo, avançado do RB Leipzig que deu nas vistas contra Portugal, começava enquanto suplente pela primeira vez neste triplo compromisso internacional.

Numa primeira parte que terminou sem golos, as duas melhores oportunidades acabaram por pertencer a Sergio Ramos: o central do Real Madrid viu Bushchan roubar-lhe o primeiro golo do jogo com uma enorme defesa na sequência de um livre direto (21′) e pouco depois rematou pouco por cima da trave (25′). Na ida para o intervalo, Ucrânia e Espanha estavam empatadas e, apesar da superioridade evidente da equipa de Luis Enrique, os ucranianos não se privavam de explorar as costas da defesa adversária e algumas incursões mais rápidas acabaram por arrancar aplausos ao selecionador Shevchenko.

No início da segunda parte, Luis Enrique trocou Merino por Ceballos e demorou pouco mais de dez minutos até perceber que tinha de voltar a mexer. Ansu Fati e Rodrigo, ambos algo discretos esta quarta-feira, foram substituídos por Ferran Torres e Oyarzabal e Shevchenko respondeu com a entrada de Kovalenko, médio do Shakhtar Donetsk de Luís Castro. Rodri protagonizou a melhor oportunidade do segundo tempo, com um remate rasteiro que passou a centímetros do poste da baliza ucraniana (64′), mas acabou por ser a seleção de Shevchenko a agarrar a vitória graças a um golo Tsyhankov já dentro do último quarto de hora — num lance onde De Gea parece estar demasiado adiantado e ter uma má abordagem à jogada (76′).

Espanha perdeu com a Ucrânia em Kiev e só manteve a liderança do Grupo 4 da Liga das Nações porque a Alemanha empatou com a Suíça em Munique, tendo agora um ponto de vantagem. A equipa de Luis Enrique termina este triplo compromisso de outubro com apenas um golo marcado em três jogos e uma derrota, um empate e uma vitória em três partidas. Apesar de Adama Traoré ser agora nome regular na convocatória e de até ter sido titular esta quarta-feira, falta músculo a esta Espanha, principalmente numa transição defensiva que tem muito de virtuosa mas, à exceção de Ramos, pouco de combativa. Fator que ficou claramente à vista contra uma seleção forte fisicamente como a ucraniana e que acabou por abrir espaço ao golo de Tsyhankov.