O adiar do treino e da conferência de imprensa deu o alerta. Já tinha acontecido na terça-feira anterior, assim como na sexta-feira passada. Nesses dois dias anteriores em que aconteceu, existia um ponto em comum: um caso positivo de Covid-19 entre os jogadores. E o terceiro dia não foi exceção. A surpresa, pouco depois da hora de almoço desta quarta-feira, foi o nome associado ao teste positivo e não necessariamente o facto de este existir.

Cristiano Ronaldo testou positivo para a Covid-19, assistiu ao treino da equipa a partir da varanda do quarto da Casa dos Atletas e esta quarta-feira já deixou a Cidade do Futebol para ir cumprir o período obrigatório de isolamento já em Turim. Em Lisboa, ficava uma Seleção orfã do capitão mas com a vontade de ganhar precisamente por ele. Depois de dois empates sem golos, um no particular com Espanha e outro já na Liga das Nações com França, Portugal recebia a Suécia em Alvalade perante cinco mil adeptos e precisava de ganhar para garantir desde logo que mantinha a liderança do Grupo 3.

Ficha de jogo

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Portugal-Suécia, 3-0

Fase de grupos da Liga das Nações

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Srdjan Jovanović (Sérvia)

Seleção Nacional: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Raphael Guerreiro, Danilo, William Carvalho (João Moutinho, 80′), Bruno Fernandes (Rafa, 87′), Bernardo Silva (André Silva, 75′), Diogo Jota (Renato Sanches, 87′), João Félix (Podence, 75′)

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Rui Silva, Nelson Semedo, Rúben Semedo, Sérgio Oliveira, Trincão, Rúben Neves

Treinador: Fernando Santos

Suécia: Robin Olsen, Lustig (Johansson, 54′), Jansson, Lindelof, Bengtsson, Kulusevski, Olsson, Ekdal, Claesson, Berg (Larsson, 88′), Quaison (Isak, 62′)

Suplentes não utilizados: Johnsson, Nordfeldt, Holmén, M. Olsson, S. Larsson, Svensson, Svanberg, Krafth, Sema

Treinador: Janne Andersson

Golos: Bernardo Silva (21′), Diogo Jota (44′ e 72′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ekdal (36′), a Diogo Jota (52′), a Olsson (57′), a Jansson (61′), a Berg (79′), a Bruno Fernandes (85′)

Sem Ronaldo, Fernando Santos antecipou desde logo que essa seria provavelmente a única alteração que iria fazer face à equipa que jogou em Paris no domingo — mudanças adicionais só por motivos físicos, não táticos ou estratégicos. “Nenhuma equipa, não tendo o melhor do mundo, pode ficar melhor. Esta equipa já demonstrou que tem capacidade para resolver as questões que são colocadas. Tenho confiança nos jogadores e naquilo que vão fazer. Se gostava de ter o Cristiano? Sim, mas tenho absoluta confiança de que os onze que vão entrar irão cumprir à risca o que têm de fazer (…) O plano é o mesmo. É claro que as dinâmicas são diferentes mas não a organização e a estratégia. Mas a equipa já jogou sem ele e esteve bem, tem a ver com o ADN que a equipa tem agora”, explicou o selecionador nacional na antevisão, deixando desde logo a ideia de que o substituto do capitão na frente de ataque só seria conhecido mesmo esta quinta-feira, “por volta das 18h”.

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E por volta das 18h desta quinta-feira, lá apareceu o substituto. Diogo Jota, de forma expectável — foi o primeiro a entrar para reforçar o ataque no jogo contra França –, aparecia no setor mais adiantado da equipa ao lado de João Félix e Bernardo Silva. De resto, a tal alteração, provavelmente por motivos físicos, que Fernando Santos já tinha acautelado, com João Cancelo a substituir Nélson Semedo na direita da defesa. De resto, tudo o que já se sabia: William, Danilo e Bruno Fernandes no meio-campo, Raphael Guerreiro na esquerda da defesa e Rúben Dias e Pepe no eixo defensivo. Do outro lado estava a Suécia, uma equipa que tinha perdido os três jogos anteriores da Liga das Nações (incluindo com Portugal, graças a dois golos de Ronaldo em setembro) e tinha marcado apenas um golo.

A Seleção Nacional entrou muito bem no jogo e criou uma ocasião de golo logo nos primeiros instantes, com Diogo Jota a rematar ao lado de fora de área (2′). Seguiu-se um cabeceamento de William ao poste, na sequência de um cruzamento de Cancelo a partir da direita (4′), e era mesmo o médio do Betis que ia dinamizando o ataque português. A jogar à frente de Danilo e tombado na esquerda, William deixava patente uma confiança acima da média que lhe permitia não só recuperar bolas já no meio-campo adversário como também arriscar passes entre linhas que descobriam um dos três elementos do ataque em zonas perigosas. E além disso, e como se tem visto na liga espanhola, onde já leva dois golos esta época, o médio anda com o golo no pé e aparece agora mais frequentemente em zonas de finalização.

Portugal cumpriu 20 minutos de grande qualidade, apenas interrompidos por um remate perigoso de Lustig que passou por cima da baliza de Rui Patrício na sequência de um canto (13′), e acabou por conseguir inaugurar o marcador. Rúben Dias ganhou um duelo aéreo, a bola caiu em Bruno Fernandes e o médio do Manchester United fez um passe a desmarcar Jota; o avançado do Liverpool recebeu na esquerda, podia ter rematado mas decidiu assistir Bernardo, que apareceu a atirar cruzado e bateu Olsen pela primeira vez (21′).

Em desvantagem, a Suécia subiu no relvado e intensificou a pressão ao portador da bola, obrigando Portugal a recuar para conseguir esvaziar as investidas adversárias. Durante 20 minutos, a Seleção Nacional mostrou algumas dificuldades na hora de responder à perda da posse de bola e reagir à pressão sueca — que arrastava sempre um médio para junto dos avançados para depois conseguir progredir já com menos obstáculos. O calcanhar de Aquiles português ia mesmo sendo a ala esquerda da defesa, onde Raphael Guerreiro até estava a fazer um bom trabalho a parar Kulusevski mas Rúben Dias falhava repetidamente as dobras e o apoio ao lateral, deixando o jogador da Juventus livre para desequilibrar. Foi nesta altura que a Suécia ficou muito perto de empatar, com um remate de Berg que Rui Patrício defendeu precisamente depois de um lance pela direita do ataque da equipa escandinava (35′).

Antes do intervalo, porém, Portugal conseguiu aumentar a vantagem e foi para o balneário mais descansado. João Cancelo soltou um cruzamento perfeito a partir da direita e a rasgar toda a defesa adversária e descobriu Diogo Jota, que recebeu já na grande área, segurou e rematou em força para dentro da baliza (44′). No fim da primeira parte, a Seleção vencia por 2-0 e mantinha a liderança do Grupo 3 da Liga das Nações, tendo como grande destaque a exibição de Diogo Jota — que não sentiu o peso da responsabilidade de estar a substituir Cristiano Ronaldo e levava uma assistência e um golo.

Numa segunda parte que começou sem alterações, Portugal ofereceu parte da iniciativa à Suécia e tirou o pé do acelerador, privilegiando uma transição defensiva mais compacta e atenta que evitasse desde logo alguma surpresa. O selecionador sueco foi o primeiro a mexer, ao trocar Lustig por Johansson, e a primeira grande oportunidade do segundo tempo pertenceu precisamente aos escandinavos, com Rui Patrício a aplicar-se com uma enorme defesa para intercetar um remate forte de Claesson (55′). O objetivo de Portugal passava por causar perigo através do contra-ataque e da profundidade, na sequência de recuperações de bola e de um desdobrar veloz da equipa, e a verdade é que a Suécia demonstrava poucas soluções para chegar à baliza portuguesa.

Janne Andersson voltou a mexer, ao trocar Quaison por Isak, e os minutos iam passando sem que a Suécia desse sinais de poder lutar pelo resultado — assim como Portugal mostrava que estava satisfeito com o marcador, sem imprimir grande ritmo na partida. Na melhor ocasião de que beneficiou na segunda parte, originada por um passe vertical perfeito de Bruno Fernandes na faixa central, João Félix atirou por cima quando só tinha o guarda-redes pela frente e confirmou aquela que foi uma exibição muito discreta e apagada do avançado do Atl. Madrid (67′).

O jogo perdeu características a partir dos 60 minutos e entrou numa fase mais anárquica que Portugal aproveitou para resgatar novamente a posse de bola. Foi nesta altura, precisamente, que Diogo Jota apareceu para espalhar mais um pouco de brilhantismo em Alvalade: William lançou o avançado em profundidade na esquerda e o jogador do Liverpool, sozinho, movimentou-se da ala para a zona central, do corredor para a grande área, tirou dois adversários da frente e rematou rasteiro para bisar e fazer o terceiro golo português (72′).

A um quarto de hora do final, Fernando Santos lançou André Silva e Podence para tirar Bernardo Silva e João Félix e, até ao final do jogo, ainda colocou João Moutinho, Rafa e Renato Sanches em campo. O resultado não voltou a alterar-se, Portugal venceu pela primeira vez neste triplo compromisso de outubro e mantém-se na liderança repartida do Grupo 3 da Liga das Nações, já que França também ganhou na Croácia e tanto os croatas como os suecos estão já fora da fase final da competição. Diogo Jota, que foi chamado ao onze na ausência de Cristiano Ronaldo, respondeu ao voto de confiança da melhor maneira e esteve nos três golos portugueses, ao marcar dois e assistir para o outro. O avançado do Liverpool bisou pela primeira vez por Portugal, leva um golo a cada 62 minutos nas sete internacionalizações que tem e chegou aos 11 golos em 2020 entre clube e seleção.