“Da Eternidade”

O novo filme do lúgubre, penoso, laborioso e sobrevalorizadíssimo sueco Roy Andersson (“Canções do Segundo Andar”, “Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência”) é mais uma coleção de “sketches” onde o realizador continua a vender o seu gato por lebre de “reflexão profunda sobre o absurdo da condição humana”, combinando momentos completamente inconsequentes com outros em que tenta ocultar a superficialidade e a banalidade da sua visão e dos seus propósitos com maquilhagem de desespero existencial passivo, tiradas poético-simbólicas (o casal de amantes a voar sobre uma cidade bombardeada) ou “nonsense” pseudo-tragicómico (o “gag” do padre que perdeu a fé). A imaginação de Andersson é tal, que a certa altura até recorre a Hitler para figurar o mal e a loucura. Uma estopada vácua e presunçosa.

“Um Animal Amarelo”

Fernando (Higor Campagnaro) é um realizador brasileiro na casa dos trinta e sem cheta, que anda a tentar arranjar dinheiro para um novo filme, que terá como tema o seu avô. Além de financiamento, Fernando também anda à procura da razão de ser da sua geração, do seu propósito enquanto artista e da sua identidade e da do seu país, uma busca que o vai levar também a Moçambique e a Portugal, mergulhando no passado histórico (com as agora aparentemente obrigatórias referências ao esclavagismo e à colonização, mais os complexos de culpa e o esquematismo ideológico que trazem atrelados). As intenções estão lá, mas faltam a este “Um Animal Amarelo” de Felipe Bragança (argumentista de “O Céu de Suely” e “Praia do Futuro”), mais legibilidade, consistência narrativa e envergadura intelectual. Também com Catarina Wallenstein.

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“Trono de Sangue”

Há muito tempo que Akira Kurosawa queria filmar “Macbeth”, de William Shakespeare, mas só o fez em 1957, dado que Orson Welles se lhe havia antecipado, em 1948, com a sua adaptação. Em “Trono de Sangue”,  Kurosawa optou por não usar uma tradução japonesa do texto original, trabalhando com um argumento fiel à história nas personagens, na letra da narração e na essência trágica e dimensão moral, afeiçoando a peça, passada na Escócia do século XVI, à época feudal nipónica. O cineasta sabia que o contexto histórico-militar e social de “Macbeth” cabia perfeitamente no ambiente do Japão dos samurais, “daimyos” e clãs em luta pelo poder na época, e que os temas de “Macbeth” têm uma reverberação e um alcance universais. “Trono de Sangue” foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.