O Instituto Financeiro Internacional (IFI), representante dos credores privados, disse esta segunda-feira que o prolongamento da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) até dezembro de 2021 representa poupanças de 23 mil milhões de dólares.

Estimamos que uma extensão da DSSI até junho de 2021 pode libertar 11 mil milhões de dólares [9,3 mil milhões de euros] para os países elegíveis, e uma eventual extensão subsequente para a segunda metade do ano pode elevar o alívio da dívida para 23 mil milhões de dólares [19,5 mil milhões de euros] em 2021″, lê-se numa nota de análise deste grupo que representa os credores privados da dívida pública.

Na análise, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, o grupo com sede em Washington lembra que o Fundo Monetário Internacional prevê uma recessão de 1,8%, em média, nestes países este ano e uma recuperação para um crescimento de 4,8% em 2021, mas afirma que “uma recuperação total não é previsível antes do final de 2022 em muitos casos, o que levanta questões sobre as necessidades futuras de endividamento destes países”.

Entre os países elegíveis para participar na DSSI, um instrumento financeiro que adia os pagamentos da dívida, montado pelo G20 com o apoio do FMI e do Banco Mundial em abril, estão todos os países lusófonos africanos.

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Refletindo essencialmente um aumento nas necessidades líquidas de financiamento, que passaram de 4,3% do PIB em 2019 para 6,4% em 2020, estimamos que as necessidades brutas de financiamento nos países elegíveis para a DSSI cheguem a 260 mil milhões de dólares [220 mil milhões de euros] em 2021, representando 12,5% do PIB, mais 45 mil milhões de dólares [38,2 mil milhões de euros] do que em 2019, mas ligeiramente abaixo dos níveis de 2020″, apontam os analistas.

Na nota, escrevem que os pagamentos do serviço da dívida aos credores privados e oficiais vão representar 60% das necessidades de financiamento e, por isso, “preservar e expandir o acesso aos mercados internacionais privados continua vital para muitos países de baixo rendimento”.

A dívida destes países, confrontados com uma forte quebra nas receitas e um aumento da despesa para impedir a propagação e para tratar a pandemia, aumentou fortemente nos últimos meses, também por via de um grande abrandamento na economia.

“Devido à forte contração da atividade económica, a dívida pública média dos 73 países elegíveis para a DSSI deve ultrapassar os 56% do PIB em 2020, quando em 2019 estava nos 51%”, lê-se na análise, que conclui que “apesar de as projeções do FMI anteverem uma descida dos rácios da dívida face ao PIB a partir de 2021, este cenário benigno implica um crescimento económico sustentado, taxas de juro baixas e acesso contínuo aos mercados internacionais”.

A DSSI foi um dos instrumentos lançados para colmatar o défice de financiamento de 345 mil milhões de dólares [293 mil milhões de euros] até 2023 só em África, de acordo com os cálculos do FMI.

Até agora, dos 73 países que podem beneficiar da DSSI, apenas cerca de 40 pediram a adesão formal, beneficiando de uma poupança potencial que pode chegar aos 12 mil milhões de dólares [10,2 mil milhões de euros] até final deste ano, de acordo com a contabilização feita pelo Banco Mundial, que pediu o prolongamento da DSSI até final de 2021 para dar espaço de manobra orçamental aos países mais frágeis.

A adesão à DSSI não implica automaticamente um alívio da dívida por parte dos credores privados, levando muitos analistas a considerar que, ao manterem os pagamentos da dívida privada para evitar um default, os países estão a prejudicar a aposta no combate à pandemia de covid-19.

Na semana passada, o G20 anunciou um prolongamento da iniciativa até junho de 2021, podendo ir até dezembro.