As novas infeções pelo SARS-CoV-2 podem ultrapassar esta semana a “barreira dos dois mil casos” na região Norte, alertaram esta quinta-feira especialistas, afirmando que o atual índice de transmissibilidade (o designado RT) “permite um descontrolo rápido”.

Em declarações à agência Lusa, Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto (U.Porto) afirmou esta quinta-feira que, “nos próximos dias, o Norte ultrapassa a barreira dos dois mil casos” e “não seria impossível, na próxima semana”, atingir as “quatro mil” novas infeções pelo novo coronavírus, que provoca a covid-19.

Milton Severo, responsável pelas projeções do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), esclareceu que, com o atual RT é “um valor alto que permite um descontrolo rápido”, pelo que “é necessário tomar medidas”.

Óscar Felgueiras alerta que os dados da Direção-Geral de Saúde (DGS) por 100 mil habitantes são uma “subestimativa da realidade”, na medida em que existem diferenças entre a soma do número de casos nos concelhos e o total de casos na região.

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“Na última semana, a soma dos concelhos dá 5.035 casos. Mas, segundo o boletim da DGS, o total na região são 7.489 casos, ou seja, este diferencial de 2.454 casos são os casos que estão registados como sendo no Norte, mas não têm concelho atribuído”, clarificou.

De acordo com o matemático, a incidência na região Norte “está muito acima da fasquia máxima” de incidência estabelecida pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças de 240 casos por 100 mil habitantes ao longo de 14 dias.

O equivalente a 240 casos em duas semanas é 120 numa semana. De 12 a 18 de outubro, a região registou 210 casos, o que significa que a incidência está muito acima desse patamar”, mencionou.

O responsável destaca que a alta incidência “constitui um fator de risco para o resto do país”, pelo que “é natural que o resto do país também acompanhe esta subida”. A manter-se esta trajetória, “não seria impossível a região Norte atingir para a semana cerca de quatro mil casos”, disse.

O matemático observa ser difícil comparar as diferentes regiões do país, dadas as “características específicas” de cada uma, bem como a “qualidade dos dados”, justificando o aumento de casos a Norte a “uma conjugação desafortunada de fatores”.

Milton Severo, do ISPUP, considera que “rapidamente” a região Norte chegará aos dois mil casos de infeção pelo novo coronavírus.

Estamos com o RT algures entre 1,2 e 1,4 o que quer dizer que estamos a ter mais 20% dos casos e, tendo mais 20% dos casos a cada cinco dias, rapidamente chegamos, ao fim de uma ou duas semanas, aos dois mil casos”, afirmou.

“O RT em 1,23 é um valor alto que permite um descontrolo rápido. Se não controlarmos rapidamente o valor do RT o número de novas infeções poderá subir claramente a cada semana, por isso é que é necessário tomar medidas”, avisou.

Segundo o investigador, o número de trabalhadores em serviços e comércio, o número de trabalhadores na indústria e a dimensão familiar são as principais variáveis que explicam a diferença entre a evolução da pandemia nos concelhos da região Norte e do resto do país.

“Não é a região que explica, mas sim as características de cada região. Os fatores determinantes para o aumento exponencial de casos no Norte são diferentes dos fatores no resto do país”, afirmou Milton Severo, destacando que são esses fatores que determinam o aumento do RT.