Chegou a ter data marcada, mas só agora se tornou real: a ferramenta com que a rede social de Mark Zuckerberg quer ajudar as pessoas a encontrar o amor chega esta quinta-feira a Portugal. Chama-se Encontros do Facebook e, para a utilizar, não precisa de instalar nada a mais no seu smartphone. Basta atualizar a app que já tem.

Ao longo dos últimos 16 anos, aquela que é a maior rede social do mundo acompanhou – e foi em grande parte responsável – pela forma como as relações interpessoais se foram alterando. A ideia de uma rede social que aproximava pessoas, criada num quarto na Universidade de Harvard, havia de moldar a forma como todos comunicamos mas, com a entrada no mercado de aplicações como o Tinder, a Happen ou o Grindr, nos últimos anos, ficou um espaço por preencher: agora, mais do que ligar amigos, conhecidos, estreitar relações ou procurar companhia, o Facebook quer ajudar os seus utilizadores a apaixonarem-se.

Anunciada em maio de 2018, o Facebook Dating (nome em inglês) entrou oficialmente na Europa esta semana, depois da fase de testes que decorreu em 20 países (incluindo Estados Unidos, Brasil, Canadá, México ou Tailândia) ter já somado mais de 1,5 mil milhões de matches (correspondências entre pessoas). Segundo Kate Orseth, gestora de produto responsável pelo anúncio, será um serviço focado nas pessoas e não em perfis estáticos.

“Queremos oferecer uma experiência que lembre as pessoas que existe uma pessoa do lado de lá, com sentimentos, personalidade. É fazer com que as pessoas falem e se liguem, não apenas fazer swipe [deslizar o dedo para a esquerda ou direita como acontece noutras aplicações]”, explica numa apresentação a jornalistas.

Disponível a partir desta quinta feira, os Encontros do Facebook são uma ferramenta embutida na própria rede social. É, por isso, preciso ter um perfil válido no Facebook e que a aplicação esteja atualizada com a última versão disponível. Apesar de ser tudo feito na mesma aplicação — não precisa de instalar outra –, o Encontros do Facebook funciona de forma independente do resto. O que é que isto quer dizer? Que o perfil que criar no Encontros, bem como a informação que lá disponibilizar, não serão visíveis para os restantes utilizadores da rede social, a menos que também estes estejam registados na plataforma.

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Para o encontrar, basta encontrar o bookmark ou procurar o separador no fundo da app do Facebook.

No Encontros do Facebook, os utilizadores vão poder partilhar stories como já fazem na rede social

Se quiser usar esta opção, o que devo fazer?

Para quem quiser aderir, o processo é simples: o utilizador, que deve ter pelo menos 18 anos, cria um perfil adaptado a esta funcionalidade. Assim, preenche a informação que quer que apareça na parte do Encontros, sendo que a rede social já lhe sugere que dados do perfil original poderá utilizar, como fotografias. Mas só as aceita se quiser.

Quando termina o registo, começam a ser-lhe apresentadas sugestões de pessoas que também estejam no Encontros, que são feitas tendo por base interesses e preferências em comum, bem como outras informações que tenha disponíveis no Facebook.

“Não devemos ter de esperar que um swipe nos junte a alguém. Com o Encontros do Facebook sabemos sempre quando alguém gosta de nós e temos sempre o controlo sobre a decisão”, clarifica Kate Orseth.

Esta é uma das novidades do serviço face à concorrência: o swipe, que existe noutras dating apps (aplicações com cariz romântico para juntar pessoas), desaparece, dando lugar ao pass (passar à frente, em português). Em alternativa, podemos fazer like ou comentar diretamente o perfil da outra pessoa, tal como já acontece no Facebook. A rede está pensada para nos sugerir apenas amigos de amigos. Como é que sabemos se alguém está interessado? Quando o like é recíproco, dá-se o tal match, que se visualiza no canto superior direito.

Exemplo de um perfil que pode ser criado no Encontros do Facebook, com os likes, os matches e os eventos em comum com outros utilizadores

Paixões secretas e stories para partilhar a vida quotidiana

Aproveitando os recursos do Facebook e Instagram, o Encontros dá aos utilizadores a possibilidade de partilhar stories (imagens ou vídeos que desaparecem que têm um período de vida de 24 horas tanto no Facebook como no Instagram). Espera-se assim que “ao demonstrar momentos autênticos da vida quotidiana se consiga uma ligação mais verdadeira com uma pessoa interessada nas mesmas coisas”, afirma Orseth.

“Se escolher partilhar as stories no perfil do ‘Encontros’ está a demonstrar quem é, antes mesmo de fazer um match,”, adianta a gestora do produto.

Outro dos recursos anunciados é o Paixões Secretas – Secret Crush em inglês – que permite explorar possíveis relacionamentos com pessoas que já conhecemos no Facebook, mas também no Instagram, que pertence à mesma empresa-mãe. Aqui, é possível selecionar até nove amigos/seguidores como Paixões Secretas.

Se algumas destas pessoas também selecionarem o utilizador como Paixão Secreta, automaticamente acontece um match. Porém, se a pessoa identificada como Paixão Secreta não estiver inscrita no Encontros do Facebook, nunca vai saber que foi selecionada. Esta é a única forma de incluir amigos diretos como potenciais match.

Há ainda outras ferramentas que migram para o Encontros, como a possibilidade de integrar grupos e eventos, tornando mais fácil conhecer pessoas com interesses semelhantes. Basta, para isso, ativar a opção de adicionar os Eventos e Grupos à opção dos Encontros do Facebook. Por exemplo, se alguém vai a um concerto ou pertence a um grupo de donos de cães, pode ver quem são as outras pessoas que estão no Encontros e que vão a esse mesmo evento ou pertencem a esse grupo.

“Perguntámos a algumas pessoas o que é que queriam numa app de online dating e a primeira coisa que querem num parceiro romântico é interesses partilhados. É por isso que criámos os grupos. Tal como na vida real, quanto mais envolvidos na comunidade estamos, mais provável é conhecermos alguém e iniciar uma conversa”, afirma Orseth.

As Paixões Secretas são a única forma de fazer match com seguidores que já tenham no Instagram ou com amigos do Facebook

E porque continua a existir amor em tempo de cólera – ou de pandemia, neste caso –, para os utilizadores que preferirem um encontro dentro de portas, existem os Encontros Virtuais. O Facebook permite começar uma videochamada de imediato ao clicar no ícone vídeo presente na caixa de mensagens. Ao iniciar a videochamada, será enviado um convite e, assim que for aceite, começa a ligação, sendo que o nome e foto de perfil no Encontros é visível.

O objetivo final é chegar ao match com outra pessoa e iniciar conversa, mas, também aqui há diferenças em relação a outras aplicações. No caso do Encontros do Facebook, não é possível enviar vídeos, links ou fotos, singindo a conversa unicamente a texto. As preferências são definidas por fatores como a idade, distância do outro, interesse por género ou grau de educação.

E a privacidade? Há uma equipa só dedicada a isto

Ao longo da apresentação que decorreu na terça feira, levantaram-se várias questões sobre a privacidade dos utilizadores e a forma como a informação recolhida pode ser utilizada pelo Facebook e parceiros. Mas também sobre a autenticidade de cada um dos perfis: como saber se é legítimo? Também surgiram preocupações relacionadas com a encriptação de conversas ou com a criação de comunidades anteriormente banidas pelas normas do Facebook.

Sabe-se, para já, que existe uma equipa inteiramente dedicada ao Encontros e que as regras comunitárias desta plataforma são as mesmas do Facebook. Na prática, a equipa está encarregue de verificar irregularidades e resolver as questões que os utilizadores possam levantar, num modelo de moderação a “dois tempos”, proativo e reativo, como descreveu a gestora de produto.

“Proativo, por exemplo, é ver fotos de perfil para perceber se existe nudez, ver as biografias do perfil, para perceber se estão ligadas a solicitação sexual ou prostituição. No modelo reativo, temos testes robustos de segurança que mostramos aos utilizadores sobre como identificar e reportar conteúdo impróprio, que depois serão avaliados pela nossa equipa”, clarificou Kate Orseth

Sobre a recolha de informação, a responsável reitera que o Encontros é um serviço do Facebook e que a atividade vai ser usada para personalizar a experiência dentro dessa mesma plataforma. De fora, ficam algumas exceções, como a informação do género ou géneros em que o utilizador está interessado, ou a religião. Isto indica que as sugestões de pessoas são baseadas essencialmente na informação disponibilizada tanto no perfil de Facebook como no do encontros. Quando questionada sobre se a equipa teria acesso às conversas entre os utilizadores, Kate Orseth não respondeu diretamente.

Em contrapartida, o Encontros do Facebook está pensado para tornar a experiência segura entre utilizadores, explicou a gestora de produto. É possível, por exemplo, escolher se quer ou não partilhar a informação de localização e com quem; não é exibido o sobrenome no perfil do Encontros; não é necessário especificar a cidade natal, ocupação e pode utilizar um género diferente daquele que utiliza na conta pública de Facebook.