Há 25 anos nasceu nos subterrâneos da Universidade de Aveiro o Serviço de Apontadores Portugueses, um sapo especial, que começou por ser uma brincadeira de seis estudantes e é esta quarta-feira o maior portal de Língua Portuguesa.

Apesar de a universidade confinar com zonas húmidas, habitat natural dos sapos, não se tratava do animal anfíbio do mesmo nome, mas era o maior apontador e site de informação em língua portuguesa da Internet que conhecia a luz do dia, a partir de uma brincadeira estudantil e que, faz na sexta-feira 25 anos, nasceu com uns anos de avanço em relação, por exemplo, ao Google.

Fundado em 1995, O SAPO, portal e fornecedor de produtos e serviços para internet em Língua Portuguesa, ultrapassou já um milhão de visualizações diárias e “procriou”, alargando-se a Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste, em sapos descendentes, uns mais larvares, outros mais adultos.

Longe estava de imaginar, nesse ano de 1995, o grupo de seis amigos que frequentavam a universidade numa pacata cidade que viria a ter tal sucesso a brincadeira que criaram nas chamadas “catacumbas”, mais precisamente onde  é o posto médico da Universidade de Aveiro.

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Helder Bernardo considerado “o pai do SAPO” por lhe ter dado o nome, recorda o entusiasmo desses tempos de improviso, de que guarda ainda alguns objetos curiosos, como a primeira publicidade que o SAPO teve, por si desenhada numa tábua e pintada à mão.

A cidade de Aveiro ainda não tinha sequer o Lago da Fonte Nova nem os passeios turísticos em barcos moliceiros, a Praça do Peixe não conhecia a animação noturna que tem a própria Universidade, atualmente com cerca de 15 mil alunos, não passava então dos seis mil.

“Juntaram-se várias situações propícias e ideais para isso acontecer. A cidade de Aveiro era um marasmo à noite e não tínhamos nada que fazer, por isso íamos para o Centro de Informática da Universidade para ter acesso à internet”, explica Helder Bernardo.

Essa facilidade de acesso e o estímulo da Universidade de Aveiro para que continuassem com a brincadeira foi decisivo: “o facto de a Universidade ter percebido o potencial e nos ter deixado continuar a brincadeira foi crucial. Deu-nos as condições, deu-nos o suporte ao domínio, deixou-nos usar os recursos, porque as máquinas estavam no seu centro de informática e deu apoio jurídico quando foi preciso. No fundo, a Universidade teve a visão de nos deixar continuar com a história“, disse Helder Bernardo à Lusa.

Dos seis criadores do SAPO, a maior parte foi para Lisboa, continuando na área do desenvolvimento de sistemas, espalhados por várias empresas e só dois continuam a trabalhar na Universidade de Aveiro.

“Como estávamos no meio académico, tivemos a oportunidade de ter a visão do que era a Internet e do que ia ser, porque não havia internet na casa das pessoas”, recorda.

A internet era “quase um canal académico” e o objetivo inicial dos seis amigos era coligir os endereços das páginas portuguesas que havia, a maioria criadas em universidades portuguesas, ao jeito de lista telefónica. “Cabia tudo numa folha A4”.

Considerado um dos primeiros, senão o primeiro, ‘webdesigner’ português, Helder Bernardo explica que essa primazia lhe é atribuída porque fazia a parte de interface e toda a parte gráfica do portal.

“No grupo dos seis, cada um tinha a sua especialização. Eu era o gráfico que fazia toda a parte do webdesign e cuidava do e-mail, depois havia o relações públicas que era o mais velho de nós, o Fernando Cozinheiro, que era fundamental porque ele tinha os conhecimentos certos que permitiram criar o domínio ‘sapo.pt’ “, descreve.

“O Celso Martinho, que depois passou para a PT, era o programador, o Benjamim Júnior era o responsável pelo servidor e o meu irmão Sérgio Bernardo e o João Martins andavam pela Net a vasculhar e a caçar endereços para catalogar”, recorda Helder Bernardo.

A escolha do nome foi da sua autoria e suscitou uma polémica dentro da comunidade académica com os biólogos porque o SAPO, afinal, era representado por uma rã verde.

“Demos a volta dizendo que o serviço se chamava SAPO, mas as pessoas que nele trabalhavam eram Rãs como registadores de apontadores e a coisa passou”, explica.

Helder admite agora que além de encaixar na designação ‘Serviço de Apontadores Portugueses Online’, a inspiração veio do sapo Cocas, a personagem do programa de televisão Os Marretas criado por Jim Henson e que estava em voga, e a figura escolhida foi de facto uma rã, “um animal mais fofinho”.

De então para cá, o SAPO deu vários saltos: em 1997 foi criada uma empresa para a sua exploração comercial, que dois anos depois foi adquirida pelo grupo PT, assistindo-se à sua profissionalização.

Em 2002 o SAPO passou a ser direcionado para os conteúdos de banda larga e atualmente oferece serviços de vídeos, mail, blogs e mapas aos seus utilizadores.