O aviso chegou logo no início da conferência de imprensa — marcada para o final do dia desta sexta-feira: vêm aí dias “complicados e com elevada pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. A ministra da Saúde, que tinha acabado de estar numa reunião com os especialistas do Conselho Nacional de Saúde Pública, reconheceu que se vive “um momento muito difícil da evolução da pandemia em Portugal e na Europa” e, por isso, marcou já uma nova reunião para a próxima semana com esses especialistas. O objetivo? “Aprofundamento da agenda de análise das medidas que podem ser tomadas nesta fase tão distinta da primeira”.

Quanto aos números, Marta Temido adiantou também que há 63 escolas com surtos de Covid-19 ativos no país. Nos lares, o número é um pouco maior: 107 surtos ativos. Desses, 29 são na região Norte, 17 no Centro, 49 em Lisboa e Vale do Tejo, oito no Alentejo e quatro no Algarve. Estes surtos traduzem-se em cerca de 1.400 utentes e 570 funcionários infetados com o novo coronavírus.

É um dos aspetos da evolução da pandemia que mais preocupações tem suscitado desde o início e para o qual olhamos com natural preocupação e humildade no sentido de melhorar práticas porque temos a perceção clara que estes são os mais vulneráveis e expostos e aqueles entre os quais a letalidade é mais elevada”, salientou.

A ministra da Saúde explicou ainda que a região Norte  — a mais efetada pela pandemia da Covid-19 neste momento — está a ser avaliada com mapas de risco, mas reconhece que “mapear uma zona com tipologia de cores pode ter algum efeito negativo”. “Utilizamos os mapas para nos ajudarem a tomar medidas, mas temos que os ler com cautela. Vimos utilizando este instrumento há muito tempo”, explicou.

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Sobre Felgueiras, Paços de Ferreira e Lousada, a ministra disse que a “disseminação está muito associada a outros contextos que não são especificamente o trabalho ou a escola”, afirmou.

Sobre a capacidade do SNS, Marta Temido detalhou que, no total, os hospitais do SNS têm capacidade de cerca de 21 mil camas. No entanto, este número inclui camas em hospitais especializados, como psiquiátricos ou oncologia, e, por isso, consideram-se apenas 19.700 camas — mas não este não é o número final. Destas, algumas não podem ser consideradas para respostas a picos de afluência porque algumas se destinam para casos de AVC ou queimados. Tirando estas, sobram 17.700 camasé a “capacidade máxima do SNS no momento atual em termos de camas de enfermaria médico-cirúrgicas”, explicou a ministra da Saúde A estas, acrescem 1.021 camas nos cuidados intensivos e 566 nos cuidados intermédios. Destas, algumas camas dos cuidados intensivos têm de estar “sempre reservadas” para doentes coronários ou casos específicos.

Este valores podem no entanto ser expandidos com a criação de hospitais de campanha. Como é o caso de Penafiel: Marta Temido anunciou que, neste momento, está a ser montado um hospital de campanha no perímetro do Hospital de Penafiel. “Há uma pressão especial no Norte, daí que esteja a ser montado neste momento um hospital de campanha no perímetro do hospital de Penafiel, integrando o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa”, disse.

Portugal tem 1.891 ventiladores e 100 mil testes rápidos chegam em novembro

A ministra da Saúde anuncia que estão pré-reservados pela Cruz Vermelha Portuguesa um total meio milhão de testes rápidos antigénios. Vão ser recebidos de forma faseada: 100 mil testes rápidos chegam “na primeira semana de novembro”, disse Marta Temido.

O Ministério da Saúde aceitou a disponibilidade da Cruz Vermelha Portuguesa para o fornecimento de testes rápidos. Estão pré-reservados, pela Cruz Vermelha Portuguesa, um total de 500 mil testes. [Vão ser recebidos] em tranches, de forma faseada, ao abrigo de um financiamento europeu. A primeira fase de entrega, 100 mil testes, será na primeira semana de novembro”, explicou.

Quanto aos ventiladores, a governante explicou que, em março, Portugal tinha 1.142 ventiladores. Atualmente há mais 749 distribuídos, anuncia Marta Temido. São assim 1.891 os ventiladores existentes em hospitais do país. No entanto, a ministra não revela quantos destes estão a ser utilizados e quantos estão disponíveis.

O Ministério de Saúde recebeu 58 milhões de máscaras cirúrgicas até hoje e não prevê dificuldades de abastecimento. Sobre à obrigatoriedade de utilização de máscara, a ministra da Saúde diz que o plano de Saúde para o inverno faz uma “recomendação forte” para o seu uso mesmo em ambientes ao ar livre, “independentemente do circuito legislativo que o processo que foi hoje decidido venha a ter”

Médicos de saúde pública vão ser pagos por horas extras

Os médicos de Saúde Pública vão ser pagos por “todo o trabalho suplementar que por eles foi ou venha a ser realizado, para além das 200 horas anuais de trabalho efetuadas fora do seu período normal de trabalho”, explica a ministra. O pagamento será feito desde março deste ano. Esta decisão vem na sequência de um parecer da PGR pedido pelo Ministério da Saúde que será publicado em Diário da República.