Centenas de pessoas marcharam este domingo na capital de Taiwan, para exigir a libertação de 12 manifestantes antigovernamentais de Hong Kong, que foram presos pelas autoridades da China continental, em agosto, entre eles um jovem luso-chinês.

Os protestos começaram na sexta-feira, em várias cidades do mundo — desde Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Vancouver, no Canadá, a Adelaide, na Austrália – manifestando o seu apoio aos jovens que foram presos, numa campanha que recebeu o nome #save12hkyouths (salvem os 12 jovens de Hong Kong).

Entre os detidos está o estudante universitário Tsz Lun Kok, detentor de passaporte português e chinês.

De acordo com a Associated Press (AP), entre a multidão que se manifestou este domingo em Taipé estavam ativistas de várias organizações taiwanesas, bem como residentes da ilha democrática autogerida e habitantes de Hong Kong que se mudaram para Taiwan, vestidos de preto e a usar máscaras faciais, enquanto gritavam “Glória a Hong Kong”.

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Muitos de nós, manifestantes, queremos que o mundo saiba que Hong Kong não é mais a mesma”, disse à AP Tsang Cheung-kui, que se mudou de Hong Kong para Taiwan em fevereiro.

Não pensem que Hong Kong é como antes, onde havia democracia, liberdade e estado de direito. Isso agora é completamente inexistente”, acrescentou.

Os 12 manifestantes, a maioria ligados aos protestos anti-governamentais do ano passado, em Hong Kong, estão detidos há quase dois meses em Shenzhen, cidade chinesa adjacente a Hong Kong, por “travessia ilegal” das águas continentais. Dois detidos são ainda suspeitos de organizar a passagem ilegal da fronteira.

O grupo tinha iniciado a viagem com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, quando a lancha em que seguiam foi intercetada, em 23 de agosto, pela guarda costeira chinesa.

É um jogo diplomático que é delicado e que exige muita paciência e muita determinação”, disse aos jornalistas esta semana o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, numa conferência de imprensa no consulado de Portugal em Macau.

“Estamos a desenvolver uma atividade de contactos com as autoridades chinesas. Seguimos uma metodologia própria, que até agora tem sido alentadora, na esperança que é a melhor via para conseguir aquilo que mais se pretende”, ou seja, o tratamento humanitário, “dentro de um enquadramento legal”, acrescentou.

Segundo familiares dos detidos, desde a detenção nenhum dos ativistas pôde contactar a família nem ter acesso a advogados mandatados pelos seus familiares, denunciando igualmente a nomeação de advogados oficiosos pelo Governo chinês.

O jovem, que tem nacionalidade portuguesa e chinesa, embora a China não reconheça a dupla nacionalidade, tinha já sido detido em 18 de novembro em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objetivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.

O grupo inclui ainda o ativista pró-democracia Andy Li, de 29 anos, anteriormente detido na região ao abrigo da nova lei de segurança nacional, aprovada pelo regime chinês, no final de junho.

O diploma imposto por Pequim à antiga colónia britânica pune atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua, e levou vários ativistas pró-democracia a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan.

A líder de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou repetidamente que os 12 detidos têm de enfrentar a lei na China continental, uma vez que foram presos por delitos aí cometidos. Embora Hong Kong faça parte da China, tem um sistema judicial e de imigração distinto do continente, com controlos fronteiriços separados.