Miguel Oliveira fez tudo bem. Preparou tudo ao limite, olhou para todos os pormenores, foi chegando aos objetivos que tinha balizado. No final da qualificação, depois de uma terceira sessão de treinos livres onde conseguiu ser o mais rápido a rodar no quarto e último setor, assegurou a oitava posição na grelha de partida, naquele que foi o segundo melhor resultado no MotoGP apenas superado pelo quinto na Andaluzia. Depois, apanhou um susto. De acordo com a organização, a última volta que fizera não iria contar. Comentou numa primeira instância a sessão à luz desse registo anulado, falou a seguir com o oitavo lugar confirmado. No final, conseguiu o que queria.

Miguel Oliveira consegue igualar segunda melhor qualificação do ano e sai do oitavo lugar para o Grande Prémio de Teruel

“Estou contente com a qualificação. Senti-me mais competitivo do que no fim de semana anterior. Sinto-me bem, sinto-me competitivo, mesmo para o ritmo de corrida, e isso dá-me motivação para domingo podermos fazer uma boa corrida”, destacou. Contas feitas, e apenas em alguns dias, o português colocou a Tech3 a rodar mais rápido do que as motos de fábrica da KTM e só na qualificação subiu dez lugares em relação ao que conseguira uma semana antes no mesmo circuito de Aragão. Por isso, e depois de uma dececionante prova onde não foi além do 16.º lugar (a primeira do ano em que chegou ao fim e não entrou nos pontos), estava na luta pelo terceiro top 5 da época, quase que correndo contra o tempo para subir algumas posições no Mundial ou pelo menos ficar mais próximo dos adversários mais diretos nesta fase antes das duas provas em Valencia e a última em Portugal.

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Depois da queda no Grande Prémio da Catalunha, um marco negativo na segunda temporada no MotoGP onde o português conseguiu o primeiro triunfo de sempre na categoria rainha, Miguel Oliveira queria fazer três top 5 entre França, Aragão e Teruel para se chegar mais à frente na classificação. Em Le Mans, mesmo correndo mais uma vez de trás para a frente naquela que foi a sua primeira corrida com pista molhada, ainda lutou pelo quarto lugar mas acabou por cair para sexto. Em Alcañiz não teve hipóteses sequer de pontuar, com as dificuldades sentidas ao longo dos treinos livres e da qualificação a prolongarem-se na corrida. Na pior das hipóteses nesse cenário, que era fazer quintos lugares, ganhou dez em 22 pontos. Em Teruel, mesmo sendo difícil, lutava por essa meta.

KTM falha abordagem, Miguel Oliveira falha entrada nos pontos: português termina Grande Prémio de Aragão no 16.º lugar

Olhando para o que se passou na semana passada, as Yamahas voltaram a andar bem na qualificação, havendo dúvidas na capacidade de fazer o que não aconteceu no Grande Prémio de Aragão e aguentarem o ritmo na corrida. As Hondas deram um salto grande, com Takaaki Nakagami a ficar como grande destaque desde sexta-feira e Álex Márquez a mostrar andamento para voltar a ir ao pódio. As Suzukis eram uma incógnita, com Alex Rins a sair do terceiro lugar da grelha mas o líder do Mundial, Joan Mir, a ser o último no Q2. E ainda havia Zarco, uma exceção na Ducati que voltou a falhar a qualificação. Era neste cenário que entrava Miguel Oliveira e a Tech3, que conseguiu qualificar as duas motos diretas para o Q2 mas que ainda recuperava do “fosso” da semana anterior, sendo que antes da corrida aproveitou para dar alguns conselhos a Verstappen e Albon sobre o circuito de Portimão que recebia este domingo o Grande Prémio de Fórmula 1 e que no próximo mês terá também o MotoGP.

A saída foi mais emocionante do que no fim de semana passado, com Franco Morbidelli a ter um bom arranque, Jack Miller e Brad Binder a caírem logo na primeira curva (num filme muito parecido com aquilo que aconteceu entre o piloto da KTM e Oliveira na Andaluzia) e Nakagami a não passar da curva 4, caindo depois de perder o controlo da moto e perdendo a hipótese de ser o primeiro japonês a ganhar uma corrida de MotoGP desde 2004. Quanto a Miguel Oliveira, um filme já antes visto: um bom arranque na reta, uma descida de posições depois das duas curvas inicias deixando a sensação de ter receio de levar algum toque que o atirasse para fora da corrida, a estabilização no décimo lugar para correr de trás para a frente tendo pela frente Pol Esgargaró que foi ultrapassado por Álex Márquez, a única Honda com aspirações na prova depois da queda de Nakagami.

Morbidelli descolava de Alex Rins fazendo a volta mais rápida do circuito, Johann Zarco aguentava a terceira posição mas eram muitos os duelos interessantes dentro dos dez primeiros incluindo Miguel Oliveira, que passou Cal Crutchlow já depois de Pol Espargaró ter também superado o britânico. Álex Márquez era o melhor em pista, chegando à quinta posição a 17 voltas do final e apostando no ataque ao líder do Mundial, Joan Mir, enquanto Maverick Viñales e Fabio Quartararo tentavam estabilizar também na corrida para evitarem a queda a pique na segunda metade da corrida como aconteceu na semana passada. No caso do francês, a tentativa não teve grande efeito, com Pol Espargaró a saltar para oitavo. E esse acabou por ser o “tampão” para o português, que foi tendo uma grande defesa de Quartararo e viu o espanhol da KTM fugir na frente passando Viñales.

A luta pelo pódio começava a desenhar-se para quatro pilotos: Morbidelli, a única Yamaha a dar-se bem em Teruel, as duas Suzukis de Alex Rins e Joan Mir e a Honda de Álex Márquez. Ou seja, os mesmos do Grande Prémio de Aragão com o italiano que liderava a corrida. Pelo menos até a dez voltas do final: o irmão do campeão mundial Marc Márquez, teve uma saída de pista e adensou um fim de semana de pesadelo da marca nipónica. Com a habitual forma mais cerebral de ultrapassar, Miguel Oliveira saltou para o sétimo lugar quando Quartararo alargou um pouco mais a trajetória e o português percebeu que não mais o francês teria hipótese de contra-atacar, partindo a partir daí para o ataque ao sexto posto de Maverick Viñales, que estava apenas a meio segundo e que demorou bem menos a ser superado do que Quartararo, o que fez diferença para a ponta final da corrida.

A cinco voltas do final, Morbidelli mantinha a liderança, Rins e Mir tentavam ainda dar luta à Yamaha do italiano, Pol Espargaró atacava Johann Zarco pela quarta posição e Miguel Oliveira diminuía a distância em relação ao espanhol da KTM podendo também ter em vista o francês que estava em quebra nos registos e que foi mesmo superado numa curva onde se notou a instabilidade da Ducati. Depois de um arranque tímido na primeira volta fugindo a episódios como aquele onde Brad Binder tirou Jack Miller da corrida com um toque no pneu traseiro, o Falcão começou a abrir as asas e colocava pressão em Zarco, não esquecendo também aquela ultrapassagem na última curva de Le Mans que tirou a quinta posição ao português. Já não chegou para mais mas ficou o terceiro melhor resultado de Miguel Oliveira no MotoGP depois de ter descido a 12.º no arranque, igualando Rep. Checa e França e sendo apenas superado pela vitória na Estíria e pelo quinto lugar em Emilia Romagna.

Em termos de classificação geral, Joan Mir voltou a ganhar alguns pontos a Fabio Quartararo, liderando agora por 24 (137-123) tendo ainda Maverick Viñales (118) e Franco Morbidelli (112) por perto. Já Miguel Oliveira ocupa o décimo lugar do Mundial com 79 pontos, tendo aumentado a distância em relação a Pol Espargaró (90) e Álex Rins (105) mas reduzido para Jack Miller (82), Takaaki Nakagami (92) e Andrea Dovizioso (109).

“Estou feliz com a minha corrida. Senti que podia ir pouco mais para a frente, pelo menos chegar ao quinto lugar, mas foi difícil para mim ultrapassar. Demorei algum tempo, não foi fácil. Senti-me forte, competitivo e penso que foi uma boa reação ao que sucedeu no último fim-de-semana. Foi um fim-de-semana consistente, muito bom para nós com o oitavo lugar na grelha e a quinta posição na corrida, acho que fizemos um bom trabalho. Temos de estar satisfeitos, mesmo sabendo que podíamos ter feito mais. Vamos agora centrar atenções nas últimas três corridas em novembro”, comentou Miguel Oliveira à sua assessoria de imprensa no final da prova.