Luís Marques Mendes diz que “mais dia, menos dia, será decretado. Até para se estabelecer o recolher obrigatório que se vai tornar inevitável”, afirmou o comentador no seu espaço habitual de comentário no Jornal da Noite da SIC. Mendes diz mesmo que o Serviço Nacional de Saúde “corre risco de rutura dentro de 2 a 3 semanas.”

Para que o combate à crise pandémica seja mais eficaz, será necessário “recriar um ambiente de consenso político, consenso técnico e coesão social no combate à pandemia. Este ambiente existiu na primeira vaga. Mas deixou de existir. Há demasiada divisão, conflito e clivagem. O país não precisa de união nacional. Mas precisa de um mínimo de consenso e de coesão social para enfrentar este tempo difícil”, diz.

Tendo em que o comentador considera que a ministra Marta Temido e a Direção-Geral de Saúde (DGS) perderam credibilidade, têm de ser o primeiro-ministro António Costa ou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a “falar ao país sem meias palavras” para explicar a situação que vivemos, os desafios que temos, o plano de ação que existe, as responsabilidades de cada um”. “A situação é muito séria”, conclui.

Marques Mendes propõe mesmo que sejam tornados públicos os mapas de risco do país e que sejam estabalecidas zonas diferenciadas para o país. Exemplos:

  • A “Zona Verde” seria composta por localidades que tivessem tido menos de 60 novos casos por cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias. Logo “não precisam de medidas especiais”;
  • A “Zona Amarela” teria localidades que tenham “entre 60 e 120 novos casos” por cada 100 mil habitantes e que podem precisar de medidas cautelares”;
  • E a “Zona Vermelha” teria localidades que, no mesmo período, tivessem “mais de 120 casos e que podem precisar de confinamentos pontuais.”

Ao contrário do que tem sido dito pela ministra Marta Temido, “fazer isto não é discriminar ou estigmatizar as populações. Pelo contrário. É dizer a verdade. É fazer o diagnóstico correto porque sem ele não há terapêutica adequada. É ter indicadores objectivos, públicos e transparentes, porque sem indicadores claros não há combate eficaz”, afirmou Marques Mendes.

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Para o comentador, a melhor forma de “preservar a economia é cuidar a sério da pandemia. Doutra forma, acabamos em novo confinamento geral”, diz.

“SNS corre risco de rutura dentro de 2 a 3 semanas”

Marques Mendes iniciou o seu comentário com a constatação de que, tendo em conta subida exponencial dos casos de novos infetados das últimas semanas, “a situação” pandémica “começa a ser muito preocupante” por três razões:

  • “O número de novos infetados está praticamente descontrolado, sobretudo na Região Norte;”
  • “O número de internados ultrapassou, pela primeira vez, esta semana o valor da pior semana da primeira vaga;”
  • “O número de óbitos está a crescer a ritmo acelerado.”

O comentador diz que falou durante a semana com “médicos e especialistas” e chegou à conclusão de que a “situação da Covid 19 está descontrolada dentro da comunidade”. Ou seja, as equipas da saúde pública já não conseguem fazer os rastreios” e a “situação mais crítica no Norte corre o risco de se espalhar para o resto do país.”

Por outro lado, a “situação que se vive nalguns hospitais é de caos. Por este andar, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) corre o risco iminente de rutura”. Marques Mendes diz mesmo que o SNS corre o “risco de entrar em rutura dentro de 2/3 semanas. É o momento de maior pressão que alguma vez teve o SNS. E ainda estamos no início da segunda vaga”, constata.

O ex-ministro dos Assuntos Parlamentares considera que “estamos na iminência de, para evitar o colapso, ficarem de lado os doentes não Covid. Um desastre. Na primeira vaga, ainda se compreendia. Agora é inqualificável. Se nada for feito para achatar esta segunda onda, ainda corremos o risco de acabar, mais dia, menos dia, naquilo que todos queremos evitar – um novo confinamento geral. Seria uma catástrofe.”

“Fórmula 1 no Algarve foi uma loucura e irresponsabilidade da DGS e do Governo”

Luís Marques Mendes criticou duramente a realização da prova de Fórmula 1 que decorreu este fim-de-semana em Portimão, no Algarve, classificando-a como uma “loucura” e uma “irresponsabilidade”. “Não é preciso ser-se cientista ou epidemiologista para se perceber que no atual estado da arte, ter quase 30 mil pessoas nesta prova é uma loucura. Uma irresponsabilidade da Direção-Geral de Saúde (DGS) e do Governo”, afirmou.

Marques Mendes considera que a deslocação de “pessoas do Norte, região de contágio alto” para o Algarve poderá “agravar o risco de o vírus se propagar ainda mais pela comunidade.” Mais: “que lógica tem proibir a circulação entre concelhos no fim de semana do Dia de Finados e bem, e autorizar toda esta circulação neste fim de semana? São maus exemplos destes que “matam” as instituições”, enfatizou.

Numa intervenção muito dura para com o Executivo de António Costa, o comentador analisou ainda os confinamentos em três concelhos do norte do país (Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras) como “medidas na direção certa” mas “tardias e insuficientes“. Ou seja, são medidas que deviam ter sido tomadas há “três semanas” e deviam ter sido alargadas a “algumas dezenas de concelhos em situação igualmente crítica”, como uma notícia do semanário Expresso de sábado indicava. “Andamos sempre a empurrar os problemas em vez de os enfrentarmos”, concluiu.

Covid-19. Há pelo menos 72 concelhos com “risco muito elevado” de infeção

Sobre o Orçamento de Estado (OE) que esta semana será votado na Assembleia da República, Marques Mendes falou em “encenação e teatro a mais” porque “há três semanas que a viabilização do OE está garantida.”

Classificando a abstenção do PCP como uma “não surpresa”, Marques Mendes diz que ficou surpreendido com a “imaturidade política e a incoerência do Bloco de Esquerda. Convenceu-se de que estava sozinho a negociar e desvalorizou o PCP. Um erro”, concluiu.