Mariano Nhongo, dissidente da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), disse esta segunda-feira à Lusa estar disponível para “negociar com o Governo” uma solução para acabar com os ataques armados do seu grupo no centro do país.

“A Junta Militar está disposta a negociar com o Governo, mas só se for uma negociação de verdade”, disse em declarações por telefone, em reação à trégua anunciada no sábado pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

Nhongo pediu a divulgação prévia de uma petição enviada há um ano ao Governo.

Primeiro, divulgar o documento, depois afastar Ossufo (Momade, presidente da Renamo) como interlocutor ativo na comunicação com o partido e daí acabou o problema. Hoje mesmo não haverá mais a Junta Militar a disparar”.

O fundador da autoproclamada Junta Militar da Renamo disse que ainda não recebeu uma comunicação oficial da trégua, mas manifestou-se disponível para criar um corredor de diálogo com o Governo se este tiver uma intenção genuína de pacificação do país.

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Mariano Nhongo disse que anteriores tentativas de negociação fracassaram devido a falsidades por parte do Governo.

“Em negociações falsas a Junta Militar não vai entrar”, disse o antigo estratega militar do histórico líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu na Gorongosa em maio de 2018 por complicações de saúde.

Nhongo disse que no domingo, primeiro dia da trégua, dois membros do seu grupo foram sequestrados no distrito da Gorongosa, em Sofala, centro de Moçambique, sem mais detalhes.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou no sábado uma trégua na perseguição das Forças de Defesa e Segurança (FDS) à Junta.

Não vamos perseguir a Junta durante uma semana precisamente para dizer que nós estamos abertos, o país está aberto, eu estou aberto”.

“As vias necessárias” para esse diálogo “estão abertas”, referiu – dizendo que a Junta sabe como esse trabalho está a ser feito – para que se encontre “uma solução” para acabar com o problema de haver “moçambicanos a matar outros moçambicanos”.

A Junta Militar da Renamo é um movimento de ex-guerrilheiros dissidentes do principal partido da oposição de Moçambique que contesta o líder eleito no congresso de 2019, Ossufo Momade, e as condições de desmilitarização, desarmamento e reintegração por ele negociadas com o Governo.

O grupo surgiu em junho de 2019 e ameaçou pegar nas armas caso não fosse ouvido nas reivindicações de destituição da liderança da Renamo e quanto a uma renegociação do acordo de paz que Momade assinou em agosto do último ano com Nyusi.

Desde então é o principal suspeito da morte de cerca de 30 pessoas em ataques contra autocarros, aldeias e elementos das FDS no centro do país, mas ao mesmo tempo tem recusado vários apelos ao diálogo, inclusive patrocinados pelas Nações Unidas e União Europeia, entre outros parceiros.

A violência ocorre na mesma altura em que o país enfrenta uma crise humanitária no norte, na província de Cabo Delgado, onde uma insurgência armada que dura há três anos já provocou entre 1.000 e 2.000 mortos e 300.000 deslocados.