O candidato da oposição em Zanzibar, detido esta manhã pela polícia, foi libertado durante a tarde, na véspera das eleições gerais na Tanzânia, e acusou as forças de segurança de terem abatido dez pessoas naquele arquipélago semiautónomo.

Outras duas pessoas terão sido mortas e três feridas em Nyamongo, no nordeste da Tanzânia, quando participavam num comício do maior partido da oposição, o Chadema. De acordo com testemunhos locais à Associated Press, o serviço de Internet está mais lento, e existe o receio de que possa vir a ser interrompido esta quarta-feira, no dia das eleições.

“Como podemos ter uma eleição quando há gás lacrimogéneo e tiros com balas reais por todo o lado? Isto não é uma eleição justa, não passa de uma farsa”, denunciou, segundo a agência France-Presse, em declarações à comunicação social, Maalim Seif Sharif Hamad, que se apresenta pela sexta vez como candidato à Presidência de Zanzibar.

Um comunicado anterior do partido de Seif Sharif Hamad, o ACT-Wazalendo, dava conta de nove mortos.

O Presidente cessante, John Magufuli, e o seu principal rival, Tundu Lissu (Chadema), terminaram esta terça-feira a campanha eleitoral no continente, com o primeiro a apelar à realização de eleições “pacíficas”.

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Mais de 29 milhões de eleitores estão inscritos para votar esta quarta-feira na Tanzânia continental, para eleger o chefe de Estado e os deputados ao Parlamento em Dodoma, e 566 mil podem votar no arquipélago semiautónomo de Zanzibar.

Para além de Zanzibar, também a cidade de Nyamongo, no nordeste da Tanzânia, foi palco de violência e mortes, de acordo com o maior partido da oposição, o Chadema, de Tundu Lissu, que deu conta de que duas pessoas foram mortas e três feridas quando membros do partido no poder — Partido da Revolução, Chama Cha Mapinduzi, em suaíli — abriram fogo contra um comício do Chadema.

Lissu condenou as mortes e apelou aos tanzanianos para virem “para as ruas” e reclamarem “justiça”, caso a Comissão Nacional de Eleições anuncie os resultados das eleições na próxima quinta-feira, antes da contagem adequada dos votos.

Em Zanzibar, embora as tensões eleitorais sejam recorrentes no arquipélago, a campanha decorreu este ano de forma pacífica até esta segunda e terça-feira, precisamente a véspera das eleições.

O ACT-Wazalendo acusou esta manhã a polícia de ter disparado mortalmente sobre, pelo menos, sete cidadãos durante uma manifestação na segunda-feira à noite e de ter prendido Seif Sharif Hamad esta manhã.

A detenção foi confirmada à Associated Press pelo responsável policial deste arquipélago semiautónomo, Mohammed Hassan Haji, que não acrescentou detalhes.

O ACT-Wazalendo começou por anunciar a morte de três pessoas, e a responsável local do partido pelos direitos humanos, Pavu Juma Abdalla, aumentou depois o número para sete, acrescentando que mais de 100 pessoas tinham sido presas.

“Vai ser uma situação muito terrível”, vaticinou a responsável em declarações à AP, explicando que quando o exército estava a distribuir os boletins de votos pelos locais onde as pessoas irão votar, “os cidadãos disseram que as urnas já tinham votos preenchidos e tentaram impedir a transferência para os locais de voto”.

A polícia na cidade de Pemba, em Zanzibar, não comentou as alegações de ter aberto fogo sobre os cidadãos na segunda-feira à noite e o inspetor-geral da polícia da Tanzânia, Simon Sirro, negou mais tarde qualquer morte, em declarações aos jornalistas.

Esta manhã, Zanzibar acordou sob uma forte presença policial e militar, com a polícia a utilizar gás lacrimogéneo em cidadãos que desafiaram uma ordem para permanecerem em casa. Muitas estradas foram bloqueadas.

A polícia disse que 72 pessoas foram presas e acusadas de saquear e queimar propriedades perto de locais de votação, onde as forças de segurança e outros cidadãos com estatuto especial estavam a votar. O comandante da polícia regional do Oeste Urbano, Awadhi Juma Haji, disse à comunicação social que algumas pessoas foram feridas “acidentalmente”, mas “não houve mortos”.

“Estou alarmado com as notícias de Zanzibar e de outros locais sobre violência, mortes e detenções”, disse o embaixador dos EUA na Tanzânia, Donald J. Wright, numa declaração na terça-feira citada pela AP. “Não é tarde demais para evitar mais derramamento de sangue! As forças de segurança têm de mostrar contenção”, acrescentou.

O gabinete das Nações Unidas para os Direitos Humanos também revelou que está “particularmente alarmado” pelos relatos dos tiroteios em Zanzibar, exortou a que seja feitas investigações independentes aos incidentes de segunda e desta terça-feira e apelou à calma.

“Temos seguido com preocupação a diminuição do espaço democrático no país, com relatos preocupantes de intimidação, assédio, detenções arbitrárias e ataques físicos contra opositores políticos”, afirmou a porta-voz do gabinete, Ravina Shamdasani.