A compra de armas no Brasil está em alta com as vendas a triplicarem desde a chegada de Jair Bolsonaro à presidência, em janeiro de 2019, conforme noticia o El País. Em abril deste ano, durante uma reunião com o seu gabinete de ministros, o presidente brasileiro chegou mesmo a dizer: “Quero que o povo se arme!” E o facto é que cumpriu a sua promessa eleitoral de facilitar o acesso às armas.

A intervenção, que foi divulgada em maio pelo Supremo Tribunal Federal (STF), deixou o Brasil boquiaberto e foi encarada como um apelo para a organização de milícias armadas contra as decisões menos populares dos adversários.

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Através de uma série de mudanças legislativas, o Brasil, que seguia um modelo de controlo de armas similar ao europeu que tinha sido aprovado por Lula da Silva no início de seu mandato, aproximou-se dos Estados Unidos nesta matéria.

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A venda de armamento triplicou, sendo que durante os primeiros 11 meses do governo Bolsonaro os registos para posse de arma de fogo aumentaram 48%, em 2019. Já em 2020, foram contabilizadas 130 mil novas armas até outubro, de acordo com dados oficiais, como indica o El País.

Segundo o mesmo jornal, os registos de porte de arma aumentaram — cada vez mais pessoas podem sair de casa com uma arma, podem possuir mais unidades, comprar calibres mais potentes e mais munições. E a renovação do porte de arma é feita agora de dez em dez anos e já não a cada cinco anos.

Os defensores da flexibilização do porte de armas defendem que os altos índices de criminalidade é o que leva muitos a criar um pequeno arsenal, com o intuito de proteger as suas famílias e o seu património.

Em declarações ao El País, Melina Risso, especialista em segurança pública do Instituto Igarapé, desmente a crença de que com mais armas a tendência é que a criminalidade diminua, realçando que “a ciência mostra-nos que se existem mais armas em circulação, os homicídios aumentam”. A especialista indica ainda que a flexibilização das leis sobre armamento promovida por Bolsonaro influenciou o aumento em 6% do número de assassinatos no primeiro semestre deste ano.

O que Bolsonaro está a fazer ao aumentar a capacidade das pessoas comprarem armas e munições é muito perigoso. Os grupos radicais estão a acumular um arsenal e isso é minar o Estado de Direito democrático”, acusa Risso.

Paralelamente, os grupos pró-armas fazem mais barulho, acrescenta a investigadora, mas estes “são uma minoria radical” e a maioria dos cidadãos rejeita facilitar o acesso dos brasileiros ao armamento, o que tem ajudado a conter, em certa medida, o esforço do presidente brasileiro para que o país se assemelhe aos Estados Unidos, onde a presença de armas é quotidiana.