Uma vitória é sempre uma vitória mas há vitórias que, sendo vitórias, representam mais do que vitórias. No caso do Sp. Braga, até foi contra o Vitória. O triunfo em Guimarães, na sequência de dois sucessos no Campeonato e uma estreia forte na Liga Europa diante do AEK Atenas, teve esse condão de representar em termos figurativos outra coisa além dos três pontos, como o próprio Carlos Carvalhal assumiu no final do jogo no Dom Afonso Henriques que terminou com três jogadores expulsos numa confusão própria de dérbi. “Este tipo de vitórias, com muito caráter e determinação, é importantíssimo”, sublinhou. E trabalhar em cima delas também faz diferença.

Sendo uma equipa com chip ofensivo, no tal ADN Braga que o treinador falou quando foi apresentado na Pedreira depois de ter feito história com um quinto lugar no Rio Ave, mostrou frente ao rival minhoto não só mais vontade de ganhar mas também capacidade para materializar essa postura em equilíbrios táticos que conseguiram secar as individualidades ofensivas do adversário. “A equipa tem tido esse tónico, essa postura de procurar o golo, mas nós treinadores gostamos de ter uma vitória assim, com os jogadores a sofrer, com nove jogadores, mas a fechar bem a nossa baliza. Confirma que a equipa tem uma identidade forte e agarrou-se ao jogo”, analisou. No entanto, e no meio de todos esses elogios, sobrou também uma espécie de “reparo” para algo esquecido.

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“É importante realçar a nossa equipa ter mostrado caráter. Há um facto, e fico triste por ter passado ao lado da imprensa portuguesa, que é termos sido a equipa que mais ataques fez na última jornada da Liga Europa, com grandes equipas”, apontou, recordando uma estreia europeia que terminou com a vitória por 3-0 frente à equipa grega onde Paulinho, Galeno, Fransérgio e Ricardo Horta surgiram várias vezes na cara do golo aproveitando a boa dinâmica ofensiva ou as transições rápidas que exploravam a velocidade e mobilidade no ataque. No entanto, e de forma previsível, o encontro na Ucrânia frente ao Zorya teria características diferentes.

“Da análise superficial que fiz ao sorteio, tive a oportunidade de dizer que o nome do Zorya pode não dizer muito mas trata-se de uma equipa com competência elevada. Estudámos bem o adversário e vamos ter que estar muito concentrados para conseguir vencer. No ano passado, a seguir ao Shakhtar, o Zorya foi a segunda a equipa a ter mais posse de bola no campeonato ucraniano. Tem uma ideia de jogo muito positiva, gosta de ter bola. São equipas com uma forma de jogar muito idênticas e estão reunidas as condições para um jogo muito interessante”, referiu na antecâmara do encontro Carlos Carvalhal, que passou ao lado do mau registo histórico dos arsenalistas contra as equipas ucranianas (quatro empates e seis derrotas em dez jogos) mesmo conhecendo esses números: “Sabemos disso, que o balanço não está a nosso favor, mas queremos acabar com essa malapata e, se entrarmos muito fortes em jogo, vamos conseguir terminar com esse ciclo sem vencer as equipas ucranianas”.

E bastaram 11 minutos para o Sp. Braga mostrar ao que vinha. E, já agora, para Nico Gaitán mostrar que quem sabe nunca esquece. Logo aos quatro minutos, no seguimento de uma jogada de envolvimento pela direita com Ricardo Esgaio em mais uma boa subida pela direita que começou com um lançamento longo com a mão de Matheus da área para o meio-campo, Paulinho apareceu de rompante na área e desviou sem hipóteses para Vasilj, com um gesto técnico que deixou o guarda-redes dos ucranianos sem reação. Ato contínuo, em mais uma boa saída dos minhotos, o argentino encheu o pé e rematou ao ângulo para o 2-0, no melhor golo da noite (11′). Os poucos adeptos do Zorya presentes na zona da claque bem tentavam incentivar para a reviravolta mas, dentro de um jogo com duas equipas a pensar positivo e que nunca abdicaram de visar a baliza contrária, a equipa de Carlos Carvalhal foi conseguindo controlar a vantagem da melhor forma, chegando assim ao intervalo.

No segundo tempo, o Zorya apareceu mais subido no terreno, conseguiu remeter durante mais tempo o Sp. Braga para o seu meio-campo mas por falta de pontaria, mérito da defesa e boas intervenções de Matheus não conseguiu reduzir sequer a desvantagem, havendo pelo meio uma grande oportunidade de Paulinho que rematou ao lado quando tinha outras opções com quem jogar numa transição rápida. Ainda assim, e entre muita pressão da equipa ucraniana, os minhotos seguraram a vantagem com uma postura competitiva muito semelhante à que valeu três pontos no último dérbi frente ao V. Guimarães, ganharam pela primeira vez a uma equipa ucraniana apesar de terem sofrido o 2-1 no quinto minuto de descontos num remate de fora da área de Ivanisenya e confirmaram a liderança do grupo, que será disputada agora na próxima jornada frente aos ingleses do Leicester.