“As Bruxas de Roald Dahl”

Robert Zemeckis realiza e Guillermo del Toro e Kenya Barris assinam o argumento deste “remake” menor do filme de 1990 de Nicolas Roeg, que adapta o clássico de “dark fantasy” infantil escrito por Roald Dahl. A história é transferida de Inglaterra para o sul dos EUA nos anos 60 e até aqui o politicamente correto se manifesta, já que o pequeno herói e a sua avó são agora negros. O enredo mantém-se basicamente igual ao do filme original, com exceção (e desnecessariamente) do fim, mas tanto faz. Anne Hathaway não chega nem aos calcanhares de Anjelica Huston, que era uma magnifica e assustadoramente credível Bruxa-Mor no original de Roeg, os efeitos digitais não têm o mesmo encanto nem impacto dos efeitos mecânicos e de maquilhagem do primeiro filme, e o ambiente de comédia de terror cruel (as bruxas que querem transformar todas as crianças do mundo em ratinhos) construído por Dahl e reproduzido por Nicolas Roeg na versão de 1990, dilui-se aqui em manigâncias de computador, “gags” insípidos e muito espalhafato. Zemeckis já foi um bom contador de histórias, agora parece ter-se transformado em mais um prestidigitador de efeitos especiais.

“Notre Dame de Paris”

Uma comédia de e com Valérie Donzelli no papel de uma arquiteta parisiense divorciada e com dois filhos pequenos, que ganha — literalmente — por artes mágicas um importante e milionário concurso para construir uma estrutura inovadora junto à Catedral de Notre Dame (a fita foi rodada antes do incêndio que atingiu o monumento). Donzelli diverte-se a satirizar a arquitetura contemporânea e as controvérsias que surgem quando os municípios apostam em patrocinar obras públicas que são, esteticamente, muito longe de serem consensuais, embora a realizadora, argumentista e atriz não precisasse de introduzir um elemento fantástico-extravagante em “Notre Dame de Paris”, que se manifesta mais absurdamente no final da bicicleta que levanta voo, e que não convive bem com o registo comédia ligeira estriada de farsa predominante na fita.

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“A Cidade Onde Envelheço”

Já data de 2017 este filme da brasileira Marília Rocha, em que Teresa (Elisabete Francisca Santos), uma jovem portuguesa, deixa o seu país para ir morar para o Brasil, instalando-se na acanhada casa de Francisca (Francisca Manuel), uma amiga também portuguesa que mora em Belo Horizonte há quase um ano, tem um namorado brasileiro, gosta de viver sozinha e está mais adaptada ao país. Percebe-se que a realizadora quer explorar as diferenças de personalidade entre as duas principais protagonistas, que têm que conviver num espaço limitado, e as respetivas diferenças na forma de habituação a uma nova cultura e um novo estilo de vida, mas o filme é muito mortiço e pobre em peripécias que espevitem a intriga e as personagens, e as interpretações são quase todas pouco mais que amadoras.

“Aznavour por Charles”

Desde que, em 1948, Edith Piaf lhe ofereceu uma máquina de 16 mm, que Charles Aznavour não mais parou de filmar tudo e todos em seu redor, à medida que se ia tornando cada vez mais famoso e os espectáculos, ou as férias com a família, o conduziam aos quatro cantos do mundo. Pouco antes de morrer, em 2018, com 94 anos, Aznavour, que tinha todo este material catalogado e guardado na sua casa do Sul de França, confiou-o ao seu produtor e amigo Marc Di Domenico, também realizador de um documentário sobre ele, “Autobiographie,” para que o transformasse num filme. E eis este original objeto, situado algures entre o auto-retrato cinematográfico e o filme autobiográfico, composto por imagens filmadas pelo cantor entre 1948 e 1982. “Aznavour por Charles” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.