Com o aumento de casos positivos à Covid-19 no município de Vila Flor, em Bragança, que nas últimas duas semanas somou quase 70 infetados, a festa de aniversário do presidente Fernando Barros (PS) está a gerar polémica e discussão política.

Ao Observador, o vereador Abílio Evaristo conta que no passado dia 8 de outubro, cerca de 20 funcionários decidiram surpreender o autarca com uma festa surpresa. “O presidente tinha passado o dia em atividades fora das instalações municipais”, acrescenta. Perto de 15 minutos, corpo executivo e funcionários juntaram-se numa galeria no centro cultural, dentro do edifício da câmara municipal, para cantarem os parabéns e cortarem um bolo. “Tenho alguma dificuldade em chamar a esta iniciativa de festa. Estava toda a gente de máscara e relativamente afastada, íamos buscar uma fatia de bolo um de cada vez”, explica o vereador de Vila Flor.

Quatro dias depois do encontro, a 12 de outubro, um funcionário da autarquia é dado como infetado à Covid-19. “Segundo as informações dadas ao doente pelas autoridades de saúde, nada teve a ver com esta iniciativa”, sublinha Abílio Evaristo ao Observador. Após a comunicação do primeiro caso positivo, o executivo municipal decidiu fechar o serviço administrativo onde o funcionário trabalhava e mandou a restante equipa para casa. “Algumas pessoas que se encontravam em isolamento já regressar ao trabalho e as restantes estão em plenas condições para o fazer também”, adianta o vereador do Partido Socialista, revelando que, por precaução, os restantes funcionários foram testados.

O aniversário surpresa do presidente mereceu muitas críticas da oposição, que nas redes sociais descreveu o episódio com “consternação”. “Foi com consternação que tomamos conhecimento, através da comunicação social, que enquanto são exigidos sacrifícios a todos, o Presidente da CM celebrou o seu aniversário nas instalações da CM no dia 8 do corrente mês. Se há coisa que esta pandemia veio demonstrar é que todos somos iguais, iguais em relação ao vírus e iguais na responsabilidade do comportamento para com a sua propagação.”

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A bancada municipal do PSD em Vila Flor não poupa nas palavras, fala em “irresponsabilidade” e exige um pedido de desculpas à população. “Foi difícil escutar palavras de desvalorização do ato, a atitude teria que ser de completa humildade e assunção de responsabilidade. Exigir-se-ia um pedido de desculpas a todos os Vilaflorenses, a quem é exigido o sacrifício de prescindir de tanto e agora são confrontados com esta celebração do aniversário do Presidente, simultaneamente líder da Proteção Civil em Vila Flor. Por esta altura, a questão é: estará o Presidente acima de nós? ele pode … nós não? Devemos dizer que o Presidente do município não esteve à altura da responsabilidade nele confiada, admitiu a celebração do seu aniversário, refutou responsabilidades, desvalorizou o ato, deu respostas lacónicas.”

No entanto, o vereador Abílio Evaristo afirma que a polémica política gerada “é um não assunto”. “Lamento que a oposição use isto numa altura em que aquilo que nos une deve ser mais forte do que aquilo que nos separa. Para eles, tudo vale”, atirou.

Dias depois da iniciativa por parte de alguns funcionários, os mesmos escreveram um comunicado, colocado na porta do edifício municipal, onde pretendem esclarecer a população de “injustiças” e “inverdades”.  “Os funcionários desta autarquia, perante as acusações que ultimamente têm sido proferidas contra o senhor Presidente da Câmara, não podem permitir injustiças e inverdades e por isso vêm, por este meio, esclarecer a população sobre a veracidade dos factos: o Presidente Fernando Barros foi surpreendido, no seu dia de anos, por um belo, num gesto informal, por parte de alguns funcionários, a maior parte dos quais já trabalha em espaço aberto por motivos das obras no edifício da câmara”, pode ler-se.

O mesmo documento informa que “todos os intervenientes neste ato simbólico mantiveram o distanciamento social e usaram máscara de proteção”. “Deste gesto não resultou nenhum caso de infeção por Covia-19, repetimos: nenhum. No entanto, se alguém deve ser responsabilizado, somos nós, os funcionários, quem, de facto, preparou aquele momento. Note-se que o Estado de Calamidade viria somente a ter lugar a 14 de outubro, não havia à data casos de Covid-19 em Vila Flor, tendo o primeiro caso sido referenciado a 11 de outubro, com origem identificada no exterior do concelho.”

Com um caso registado nos Bombeiros Voluntários de Vila Flor e vários identificados no Agrupamento de Escolas, o vereador socialista Abílio Evaristo recorda que é na Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa de Misericórdia que o cenário “mais preocupa” o município. “Até ao momento, tenho conhecimento de 24 casos positivos, entre funcionários e utentes”, revela.