A economia portuguesa cresceu 13,2% no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Mas a economia, em termos homólogos, contraiu-se em 5,8%, diz o INE.

Em nota publicada esta sexta-feira, o INE diz que “no 3º trimestre de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) em termos reais registou uma redução homóloga de 5,8%, após a forte contração de 16,4% no trimestre anterior. A redução menos intensa do PIB no 3º trimestre ocorreu no contexto de reabertura progressiva da atividade económica, que se seguiu à aplicação de medidas de contenção à propagação da Covid-19 com forte impacto económico nos primeiros dois meses do segundo trimestre”.

A evolução do PIB deveu-se sobretudo ao comportamento da procura interna, que registou um contributo para a variação homóloga do PIB consideravelmente menos negativo que o observado no trimestre anterior, traduzindo principalmente a menor contração do consumo privado. O contributo negativo da procura externa líquida foi menos acentuado no 3º trimestre, em resultado da recuperação mais significativa das Exportações de Bens e Serviços que a observada nas Importações de Bens e Serviços, devido em grande medida à evolução das exportações de bens, uma vez que as de serviços mantiveram reduções expressivas.”

No segundo trimestre de 2020, tinha sido registada uma variação em cadeia de -13,9%. “Este resultado é também explicado, em larga medida, pelo expressivo contributo positivo da procura interna para a variação em cadeia do PIB, após um contributo fortemente negativo no 2º trimestre”, afirma o INE, acrescentando que “o contributo da procura externa líquida passou de muito negativo no trimestre anterior para positivo, verificando-se um crescimento acentuado das exportações de bens”.

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Siza destaca melhorias da economia no terceiro trimestre, mas alerta que no último as coisas poderão piorar

Na primeira reação do governo aos números do PIB, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, destacou o crescimento em comparação com o trimestre anterior (e não referiu a quebra face ao ano passado), mas admite que a evolução da doença vai deixar mossa na economia no último trimestre deste ano.

“O PIB no terceiro trimestre deste ano cresceu 13,2% relativamente ao trimestre anterior. É um crescimento acima da média da Zona Euro, o que mostra que, mais uma vez, Portugal continua a convergir com a União Europeia, ou seja a crescer mais a média europeia”, disse Pedro Siza Vieira à entrada de uma reunião com os parceiros sociais.

Esta performance do PIB, disse o ministro, foi acompanhada “de um aumento da população empregada e da redução da taxa de desemprego em Setembro face aos meses anteriores”. “E também foi acompanhada por um crescimento importante das exportações”. Para Siza, só há uma conclusão a tirar: “Isto significa que a trajetória económica estava a ser consistente com as projeções do Governo”, que apontavam para uma contração “muito abrupta e violenta” no segundo trimestre, seguida de uma “recuperação também muito rápida e forte no terceiro trimestre”.

Mas a situação já não vai ser essa no último trimestre, admite.

“Obviamente que as notícias que agora vamos tendo na frente sanitária, na Europa, não são boas. Vamos precisamente aqui ouvir os parceiros sociais sobre a questão sanitária e discutir essas questões. Isso eventualmente pode vir a ter algum impacto na economia no último trimestre deste ano, mas julgo que temos de continuar focados naquilo que é necessário”.

E enumerou que é preciso continuar a “proteger o emprego”, a “preservar a capacidade produtiva das empresas” e a “proteger o rendimento das famílias”.

“Temos de ser mais ambiciosos nos apoios ao emprego e às empresas”

O ministro reiterou ainda a projeção de contração do PIB em 8,5% no final do ano, um valor “consistente com os números que tivemos no terceiro trimestre”, mas admite que é preciso mais ambição nos apoios ao emprego e às empresas. “O que podemos sentir é que se tivermos de fazer algumas contrações, se temos alguns dos nossos principais mercados de exportações como a Alemanha, França ou Espanha em situações de mais restrições de atividade social isso não vai ter um impacto positivo”.

Daí que, defende, “temos de ser mais ambiciosos nos apoios que vamos dar ao emprego e às empresas para permitir ultrapassar mais uma vez este percurso”.

O ministro considera que o mais importante para a economia neste momento é “o controlo do ritmo de contágios”. Se “deixarmos descontrolar a situação sanitária” e tivermos serviços de saúde “sobrecarregados” isso “não é bom para a economia”. “O controlo da situação sanitária é condição indispensável ao melhor desempenho da economia“, frisou.

O maior contributo que cada um dos cidadãos pode dar para a melhoria da situação económica e do emprego é ser extremamente responsável e cauteloso na forma como se comporta: na maneira como respeitamos o distanciamento social, como usamos a máscara, como descarregamos a aplicação StayAway Covid e como mantemos as regras de higiene que já todos conhecemos”, concluiu.

PIB espanhol recupera 16,7% no 3.º trimestre face ao anterior mas queda anual é de 8,7%

Seguindo uma trajetória semelhante, a economia espanhola cresceu 16,7% no terceiro trimestre face ao anterior, com o regresso da atividade económica após meses de confinamento que provocaram uma queda histórica no segundo trimestre de 17,8%, segundo o Instituto Nacional de Estatística espanhol.

Em termos anuais, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 8,7% em relação ao terceiro trimestre de 2019, embora a taxa seja 12,8 pontos percentuais inferior à contração de 21,5% do trimestre anterior. Em cadeia, a procura interna (consumo e investimento) contribuiu com 15 pontos percentuais para o crescimento durante o terceiro trimestre, enquanto a procura externa (exportações e importações) contribuiu com 1,7 pontos.

Todos os setores de atividade registaram crescimentos trimestrais significativos, exceto a agricultura, que cresceu apenas em 0,2%, visto ter sido uma das atividades que se manteve durante o confinamento. A indústria cresceu 27,4% no trimestre, a construção 22,5% e os serviços 15%, embora com um aumento significativo de 42,5% para os subsetores do comércio, transportes e hotelaria, algumas das atividades mais afetadas no segundo trimestre.

Fazendo a comparação com um ano antes, apenas a agricultura cresceu (5%), enquanto o resto dos setores continuaram a diminuir, com decréscimos de 3,6% para a indústria, 11% para a construção e 9,8% para os serviços, onde houve uma contração de 22% no comércio, transportes e hotelaria.

Economias da zona euro e UE com subidas recorde em cadeia no 3.º trimestre

A tendência é comum a quase todos os países. As economias da zona euro e da União Europeia (UE) registaram no terceiro trimestre as maiores subidas em cadeia da série, tendo crescido, respetivamente, 12,7% e 12,1% face aos três meses anteriores, estima o Eurostat.

Na zona euro, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 12,7% entre julho e setembro, depois de ter recuado 11,8% entre abril e junho, o maior crescimento desde o início das séries cronológicas, em 1995. Na variação homologa, no entanto, o PIB da zona euro caiu 4,2%, um abrandamento face ao recuo de 14,8% do trimestre anterior

Na UE, a subida de 12,15% do PIB no terceiro trimestre, face ao recuo de 11,4% no anterior, é também a maior desde o início da série temporal. Na comparação homóloga, o PIB dos 27 Estados-membros recuou 3,9%, que se compara com o de 13,9% registado entre abril e junho. O gabinete estatístico europeu alerta, no entanto, que esta estimativa se baseia em fontes de dados incompletos que serão objeto de revisão.