A comunidade islâmica Ahmadia, presente em vários países, mas perseguida por muçulmanos no Paquistão, condenou todas as formas de terrorismo na sequência dos ataques extremistas que mataram um professor em Paris e três pessoas em Nice.

“O assassinato e a decapitação do [professor francês] Samuel Paty e o ataque à catedral de Nice devem ser condenados nos termos mais fortes possíveis”, defende o chefe supremo da Ahmadia, Hadrat Mirza Masroor Ahmad, numa declaração datada de 29 de outubro.

“Tais ataques dolorosos são completamente contra os ensinamentos islâmicos. A nossa religião não permite terrorismo ou extremismo em nenhuma circunstância e qualquer pessoa que afirme o contrário age contra os ensinamentos do sagrado Alcorão e contra o caráter nobre do sagrado profeta do Islão (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele)”, afirma.

Enviando condolências às famílias das vítimas e ao povo francês, o líder sublinha que a “condenação e ódio por tais ataques não é algo novo” e garante que quer o fundador desta comunidade islâmica quer os seus sucessores “sempre rejeitaram categoricamente todas as formas de violência ou derramamento de sangue em nome da religião”.

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No passado dia 16 de outubro, um professor francês, Samuel Paty, foi degolado por um extremista islâmico, nos arredores de Paris, depois de ter mostrado caricaturas do profeta Maomé numa aula sobre liberdade de expressão.

Numa cerimónia de homenagem ao professor, o Presidente Emmanuel Macron defendeu a liberdade de expressão e o direito de divulgar caricaturas, incluindo de Maomé, suscitado uma vaga de cólera no mundo muçulmano, onde se têm multiplicado os apelos ao boicote dos produtos franceses e os protestos.

Alguns dias depois, na quinta-feira passada, três pessoas foram mortas e pelo menos uma delas degolada, em Nice, num ataque com uma faca na igreja de Notre-Dame.

O autor do ataque, investigado por um ato terrorista, foi detido, depois de ter gritado “Allah Akbar (Deus é grande, em árabe) enquanto executava o ato, segundo uma fonte próxima da investigação.

“As consequências desse ato hediondo exacerbaram ainda mais as tensões entre o mundo islâmico e o ocidente e entre os muçulmanos que vivem em França e o resto da sociedade”, defendeu Hadrat Mirza Masroor Ahmad na declaração.

“Consideramos que esta é uma fonte de profundo pesar e um meio de minar ainda mais a paz e a estabilidade do mundo. Temos de unir esforços para erradicar todas as formas de extremismo e encorajar a compreensão e a tolerância mútuas”, referiu, acrescentando que a comunidade Ahmadia “não poupará esforços para promover uma melhor compreensão dos ensinamentos verdadeiros e pacíficos do Islão no mundo”.

A Ahmadia é uma comunidade que se assume como defensora da paz e do diálogo inter-religioso.

Os seus membros afirmam-se perseguidos por outros muçulmanos no seu país de origem, o Paquistão, mas garantem estar a ganhar força na Alemanha, onde têm mais de 40 mesquitas, e no Reino Unido, onde construíram mais de 30 templos.

Presente em vários Estados de África e Europa, a comunidade diz ter milhares de seguidores em Londres, onde está situada a sua maior mesquita e onde assegura deter vários hospitais, hotéis e universidades.

Em Portugal constitui uma pequena comunidade com cerca de 500 pessoas, sobretudo da zona de Loures.