Giuseppe Conte começou pelas boas notícias. Há menos italianos, em proporção, a ficarem doentes na segunda vaga da pandemia, os hospitais italianos estão mais (e melhor) equipados para lutar contra a Covid-19 e o vírus já não é o desconhecido que era em março de 2020. A seguir, o primeiro-ministro de Itália deu as más notícias. A situação é preocupante e é preciso agir no imediato para travar a propagação do SARS-CoV-2 com mais medidas de restrição.

Como? Criando três níveis de risco com medidas diferenciadas — semelhante aos sistema criado no Reino Unido — que permitem ao Governo atuar com medidas específicas e proporcionais à situação.

E, claro, há medidas nacionais que seguem a lógica dos DPCM anteriores — a sigla italiana para decreto do presidente do Conselho de Ministro que, neste caso, é Conte. Ensino 100% à distância para os alunos do ensino médio (entre os 11 e os 18 anos), proibição de entrar e sair nas regiões mais afetadas (com algumas exceções), transportes públicos com 50% da lotação habitual e o já esperado recolher obrigatório, uma medida que está a ser seguida por um número crescente de países europeus.

Para já, não ficou definida a hora de os italianos recolherem a casa. Conte apenas falou em final da noite — e a imprensa italiana leu nas entrelinhas 21h00 — quando, esta segunda-feira, apresentou primeiro na Câmara dos Deputados e, depois, no Senado as medidas que serão oficializadas na terça-feira. No dia seguinte, já deverão estar em vigor.

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Neste momento não estamos a enfrentar uma pressão insuportável nos cuidados intensivos, pelo contrário, registamos uma crescente e preocupante aglomeração nos demais departamentos, com destaque para as terapias sub-intensivas”, explicou o primeiro-ministro de Itália ao deputados.

Apesar de lembrar que os italianos infetados são em número muito maior do que em março e abril, “a gravidade das infeções parece ser diferente — e menor — do que na primeira onda”, Conte sublinhou que é importante olhar para os números porque eles “eles confirmam e fazem-nos entender que existe um diferença significativa em relação à primeira onda”.

Fonte: Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças

Esta segunda-feira, um dia da semana em que os números são habitualmente mais baixos devido ao efeito do fim de semana, Itália contou mais de 22 mil novas infeções (22.253) e 233 mortes. No domingo, foram 27.907 novos casos e a curva da pandemia, quando se olha para as infeções, está em sentido crescente, uma realidade que o primeiro-ministro não tentou esconder, já que mostra que o país se dirige para o pior cenário possível traçado pelas autoridades de saúde no plano outono-inverno, o “cenário de tipo 4” que significa transmissão descontrolada do vírus.

“A partir do acompanhamento realizado na semana de 19 a 25 de outubro, parece que o número de novos casos relatados quase dobrou em comparação com semana anterior (100.446 casos em comparação com 52.960 casos)”, disse Conte. “Apesar dos inúmeros esforços feitos para fortalecer o nosso sistema saúde, a evolução da epidemia, especialmente com referência aos dados das mais recentes semanas, e dos últimos dias, é preocupante.”

O primeiro-ministro italiano frisou que “o quadro epidemiológico descrito está em transição para um cenário do tipo 4″ e que há uma alta probabilidade de que 15 regiões excedam os limites críticos dos cuidados intensivos” já no próximo mês.

Os três níveis de risco: medidas serão cirúrgicas e proporcionais

Antes de passar a explicar, em traços gerais, como irão funcionar os três níveis de risco, Giuseppe Conte deixou claro que a situação “é grave na território nacional e particularmente crítica em algumas regiões”. Por isso mesmo, o objetivo agora, ao contrário do início da pandemia, foi o de criar “uma estratégia mais rigorosa de contenção e mitigação do contágio”.

“Em março, diante de um acontecimento avassalador, na ausência de um plano operacional” com base científica, e sem um sistema de monitorização, Itália emitiu “disposições gerais e uniformes em todo o território nacional que, embora com etapas intermediárias, nos levou a um bloqueio generalizado”, relembrou. Hoje, a realidade é outra, e o Governo tem ferramentas que antes não tinha.

“Se, na presença de um plano tão avançado, preparado com tanto cuidado científico, hoje voltassemos a propor um regime indistinto e indiferenciado no território nacional, teríamos um duplo resultado negativo: por um lado correríamos o risco de não adotar medidas verdadeiramente eficazes, dado o atual estado crítico das regiões em maior risco e, por outro lado, iríamos impor medidas excessivamente restritivas em áreas do país onde, no momento, não são necessárias”, esclareceu Conte.

É assim que nascem os três níveis, cada um com medidas adaptadas ao nível da pandemia, e de onde e para onde cada região pode entrar e sair por despacho do Ministério da Saúde. Para se tomar a decisão serão analisados diferentes indicadores como o índice de transmissão do vírus, a presença de focos de contágio e a taxa de ocupação de camas nos hospitais. Também serão levados em conta o número de casos sintomáticos, internamentos, casos em cuidados intensivos, percentagem de testes positivos e tempo médio entre sintomas e diagnóstico, entre outros.