O presidente executivo da Altice Portugal pediu esta segunda-feira que “deixem os engenheiros trabalhar”, em vez de “pôr políticos” e entidades reguladoras “a fazer o trabalho” destes profissionais no processo do 5G.

Alexandre Fonseca falava num encontro com jornalistas sobre os problemas do regulamento e todo o processo do 5G, considerando que é preciso pôr um “basta” à situação que o setor vive, apontando o “autismo” e “falta de diálogo” do presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom). O gestor começou por dizer que, “ninguém dúvida hoje, até quando exportamos tecnologia, da capacidade da engenharia” portuguesa.

“Então, porque é que nós estamos hoje em temas tão sensíveis como o 5G – que é uma tecnologia – a pôr políticos e entidades reguladoras a fazer o trabalho dos engenheiros”, questionou, lançando o repto: “Deixem os engenheiros trabalhar”. Ou seja, “em vez de estarmos a ter aqui políticos, reguladores” que dão “os seus palpites sobre como é que se garante a cobertura das pessoas, porque é que não dão espaço aos engenheiros para eles fazerem aquilo que fazem, que é engenharia”, prosseguiu.

Deem-lhes os requisitos, nós executamos a parte tecnológica. Queremos cobertura ubíqua. Ótimo, nós mostramos quais são as soluções para ter uma cobertura ubíqua do país. Queremos ter uma solução de partilha de infraestruturas? Ótimo, nós partilharemos as nossas infraestruturas, disse Alexandre Fonseca.

“Mas não coloquemos aqui decisões políticas e regulatórias a entrar em áreas que são tecnológicas e operacionais. Porque nós não fazemos política, nem queremos fazer política, nós estamos cá para fazer telecomunicações, é nisso que somos bons e líderes e o que nós só pedimos é que o nosso regulador e decisores definam claramente o caminho, definam a estratégia”, salientou Alexandre Fonseca.

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5G: “Vamos ter de reequacionar” níveis de investimento e todos projetos

O presidente da Altice Portugal admitiu esta segunda-feira reequacionar os níveis de investimento e todos os projetos, incluindo o 5G, tendo em conta o “ambiente hostil” para o setor, apontando críticas ao presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom).

“Se estamos na iminência de continuarmos a ter um ambiente regulatório que tem vindo a avolumar a sua hostilidade para com o setor” e um regulamento do leilão de 5G “em cima da mesa que é um verdadeiro atentado do ponto de vista legal às regras de concorrência que vivemos”, então terá de haver um reequacionamento do investimento, referiu. “Quando digo que vamos reequacionar, sim, vamos ter de reequacionar se continuaremos níveis de investimento” na ordem dos 500 milhões de euros, “que são dos maiores níveis de investimento do nosso país, e vamos ter que reequacionar todos os projetos, incluindo o 5G”, afirmou o gestor.

“Vamos ter que perceber qual será o nosso papel no 5G”, acrescentou, sem avançar se a dona da Meo admite comprar mais ou menos espectro. “Obviamente que todos os cenários estão em cima da mesa e terão de ser analisados financeiramente”, asseverou Alexandre Fonseca. “E, claro, seria mais um vexame para Portugal, era inconcebível que o leilão em Portugal fosse também ele, apesar de todos estes atrasos e estes problemas, um ‘flop’ do ponto de vista de participação e de atribuição de espectro”, considerou o presidente executivo da Altice Portugal.

A empresa “primou desde o primeiro dia quando assumi estas funções por trabalhar com todos os colaboradores, estarmos ao lado de todos e, acima de tudo, fomos capazes nestes três anos de construir aquilo que nós próprios aqui dentro chamamos a ‘família Altice’, contando com todos”, prosseguiu. A realidade “é que, no entanto, este é o momento em que tudo tem que ser reequacionado e, claramente, que a rentabilidade e a sustentabilidade da organização do todo serão sempre mais importantes do que casos particulares. Não nos compete a nós colocar em causa – e não o estamos a fazer, que fique claro – a continuidade daquilo que são as estruturas e daquilo que são os postos de trabalho do grupo Altice”, salientou.

“A nossa intenção e a nossa vontade é continuar a manter, como até agora temos feito, esta nossa estrutura, esta nossa ‘família’, esta nossa proximidade aos nossos colaboradores”, acrescentou Alexandre Fonseca.

“Se o ambiente mudar, se nos obrigarem a tomar medidas mais difíceis, os recursos humanos serão sempre o último ponto onde nós iremos obviamente mexer, mas não sei”, porque não há previsão, sobre “o que vai acontecer com este leilão” como sobre as regras que vão ser colocadas e sobre os “impactos que possam ter na nossa rentabilidade”, afirmou.

“Uma coisa vos digo: antes de proteger o que quer que seja, temos que proteger aquilo que é a sustentabilidade da empresa”, considerou, rejeitando fazer “cenários dantescos, negros”, pois “já está suficientemente negro o ambiente relativamente ao tema do 5G e do regulamento”. Por isso, “a seu tempo tomaremos as decisões que forem necessárias para garantirmos a sustentabilidade e a continuidade das nossas operações”.