O líder social-democrata escusou-se esta segunda-feira a clarificar se o partido nos Açores está a negociar o apoio parlamentar do Chega a um executivo PSD-CDS-PPM na região, limitando-se a afirmar que se pretende reeditar a Aliança Democrática na região.

As informações que eu tenho relativamente aos Açores — o partido tem autonomia — é que o partido está a tratar de reeditar a Aliança Democrática do tempo do doutor Sá Careiro. Uma coligação entre PSD, CDS e o PPM. Faltam só os reformadores, que era um grupo individual”, afirmou.

Como conseguir os votos na Assembleia Legislativa regional para alcançar uma solução maioritária de Governo, “isso a comissão política regional está a tratar e logo veremos”, disse Rui Rio.

O líder dos sociais-democratas, que falava aos jornalistas, no Porto, à margem de uma reunião com a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), não respondeu às perguntas relacionadas com uma possível negociação com o Chega, um desafio que o PS lhe tinha lançado no sábado.

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Pelo que sei, na prática [está em cima da mesa] a reedição da AD [Aliança Democrática] de há muitos anos. Ele [referindo-se ao socialista José Luís Carneiro] perguntou se eu estava de acordo com uma revisão constitucional que tenha prisão perpetua, castração química, etc. Eu tenho bom feitio (…). Não respondo”, referiu o presidente do PSD.

No sábado, o secretário-geral adjunto do PS desafiou Rui Rio a esclarecer se, nos Açores, os sociais-democratas estão em negociações com o Chega para a constituição de um executivo na região.

Em declarações à agência Lusa, José Luís Carneiro disse não querer colocar em causa a “autonomia” dos partidos e a própria autonomia das estruturas açorianas, mas ressalvou que uma das contrapartidas do Chega para a negociação, a avaliar por “informações” que circulam no “espaço público”, passam por um apoio social-democrata à revisão constitucional proposta pelo partido de André Ventura.

Tal, disse o socialista, representaria uma “rotura com o património cultural e de valores humanistas que estão inscritos” na Constituição, ao incluir, por exemplo, a pena de prisão perpétua.

“Em função dessas informações, o PS entende que o dr. Rui Rio tem o dever de, primeiro, esclarecer se há ou não há negociações em curso tendo em vista estabelecer um acordo com o Chega e se, em segundo lugar, esse acordo pressupõe” essa referida revisão constitucional, prossegue José Luís Carneiro.

O PS venceu as eleições regionais nos Açores tidas no domingo, elegendo 25 dos deputados à Assembleia Legislativa Regional, mas um bloco de direita, numa eventual aliança (no executivo ou com acordos parlamentares) entre PSD, CDS, Chega, PPM e Iniciativa Liberal poderá funcionar como alternativa de governação na região, visto uma junção de todos os parlamentares eleitos dar 29 deputados (o necessário para a maioria absoluta).

O PAN, que também elegeu um deputado, pode também viabilizar parlamentarmente um eventual governo mais à direita.

Tal como o Observador avançou no sábado, o PSD/Açores aprovou plano de José Manuel Bolieiro para governar com CDS e PPM. Com estes dois partidos dentro do executivo açoriano, ficam a faltar, ainda assim, três deputados para viabilizar esta solução. O Observador sabe que Bolieiro terá nos seus planos fechar nos próximos dias acordos de incidência parlamentar com Chega e Iniciativa Liberal, partidos que já disseram que chumbariam um governo PS. A hipótese de incluir o PAN também não está de todo excluída.

O PSD/Açores confia que os dois deputados eleitos pelo Chega serão capazes de se sentar à mesa com os sociais-democratas e chegar a um entendimento para viabilizar documentos importantes como o programa de governo e os orçamentos. O mesmo valerá para a Iniciativa Liberal e, no limite, para o PAN, o que permitiria tornar ainda mais sólida esta maioria.