Este conteúdo é da autoria da CBRE

O que levou a CBRE a abrir escritório no Algarve nesta altura?

Foi uma decisão conjunta entre a CBRE e a sua filiada neoturis e a verdade é que já estava tomada antes da pandemia. Temos vindo a trabalhar no Algarve ao longo dos anos, mas sempre com base em Lisboa. Temos estado envolvidos em projetos relevantes, como o W Algarve ou Vilamoura World, para além de algumas transações de empreendimentos turísticos, mas sentimos a necessidade de ter uma presença constante pois uma equipa local permite uma maior proximidade aos clientes assim como um conhecimento mais rápido e sistemático das condições de mercado. Em simultâneo era necessário promover uma maior proximidade aos players locais e o acesso a informação que permite tomadas de decisão mais informadas sobre os seus ativos.

Como está a dinâmica de mercado neste momento na região ?

Nós estamos neste momento com cerca de 7 ativos em comercialização, que representam mais de 80 000 m2 de construção (entre residencial, turístico e retail). Estamos num momento de grande incerteza e isso torna o mercado mais prudente nas suas decisões, sendo que essa prudência se faz sentir com maior intensidade em ativos green field; não obstante, os terrenos prime parecem continuar a despertar atenção.

Nos processos conduzidos, sente-se maior interesse por ativos em operação, com necessidades de investimento para reposicionamento futuro. Existe a perceção de que existem ativos com estas características  com possibilidades de valorização nos próximos anos. Também temos recebido interesse por parte de first comers, o que indicia uma crença na dinâmica estrutural do destino.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Gilberto Martins, Business Developer Manager no Algarve

Que consequências se esperam da atual pandemia?

O embate está, e vai ser, duro. Com a prudência que a situação exige, mantemo-nos otimistas. Vamos ter necessariamente situações mais complexas no curto/médio prazo, pois as perdas dos últimos meses trazem dificuldades de cash-flow às empresas, mesmo as que estavam melhor preparadas. Dependendo da dinâmica entre o tempo que levará uma vacina/ tratamento e a intensidade/extensão dos apoios  governamentais, pode vir a existir a necessidade de repensar os modelos de gestão/negócio de alguns ativos. Um dos movimentos naturais do mercado numa fase de crise é a consolidação. Poderão existir ativos onde a procura de uma marca hoteleira em modelo franchising, ou a negociação de contratos de arrendamento/ gestão, podem ser uma saída economicamente interessante para os seus proprietários. Nestes momentos de crise, existe sempre a sensação de que vão existir ativos no mercado em valores muito baixos. Não acredito que isso venha a ocorrer com a intensidade que muitos esperam. As décadas de trabalho da indústria turística Algarvia, permitiram chegar a 2020 com um destino maduro e de qualidade reconhecida. Vamos continuar a ter um dos melhores climas da Europa que estimula atividades de lazer ao ar livre e na natureza, a qualidade do património natural e cultural não vai desaparecer, continuaremos a ser um dos melhores destinos de golfe do mundo, criámos empreendimentos turístico-residenciais reconhecidos internacionalmente e vamos continuar a estar a 2 / 3 horas dos principais mercados emissores – a pandemia não acaba com isso, os turistas vão voltar.

Quais os principais drivers do mercado imobiliário para os próximos anos na região?

Sempre que uma indústria domina a estrutura económica de uma região e temos uma crise, vem à discussão a necessidade de diversificar a base económica. Isso é verdade agora como sempre foi, mas ninguém terá duvidas que que vai continuar a ser o turismo/residencial os principais drivers do Algarve. Nestes setores, creio que iremos assistir a uma qualificação da oferta existente. Existe um valor intrínseco na região que não está a ser captado em toda a sua extensão por muitos dos ativos existentes. Acreditamos que existem nichos de mercado ainda com enorme potencial para ser explorados, onde o senior living, turismo de natureza são ótimos exemplos. O forte impulso no teletrabalho e a necessidade de desconcentração de empresas (para diminuir a exposição a surtos regionais) deverão aumentar os estímulos sobre o turismo residencial e abrir espaço para necessidade de outros ativos imobiliários como co-working, retail, entre outros. Mas existem ainda outras tipologias de ativos que nos próximos anos deverão ganhar relevância, o sector agrícola (criamos há pouco tempo uma área especifica para este sector na CBRE), a logística, industrial, etc.. É natural que todos os dias se fale dos problemas que a região vai enfrentar, mas nós queremo-nos focar nas oportunidades que esta crise vai trazer ao Algarve. Queremos fazer parte do que achamos que será um período de aceleração do processo de desenvolvimento regional.