Artigo em atualização

Foi com movimentos de anca e de punhos, em vez de palavras, que Donald Trump optou por abrir no Twitter as hostilidades do dia eleitoral nos EUA. Ainda não eram 3h da madrugada em Washington, e já o ainda presidente dos Estados Unidos partilhava na sua rede social de eleição aquele que se previa o primeiro de muitos tweets ao longo da terça-feira de presidenciais — mas que acabou por ser o único durante horas a fio.

Como se tornou habitual nos seus comícios, Donald Trump escolheu entrar a dançar e partilhou uma montagem de dois minutos de si próprio a abanar ao som de YMCA, dos Village People.

O vídeo original tinha sido publicado horas antes na mesma rede por uma conta chamada “4 MORE YEARS”, “Mais quatro anos”. O presidente assinou por baixo e pediu na legenda: “Votem! Votem! Votem!”.

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Depois de longas horas de silêncio (mas apenas via Twitter, na Fox News o presidente foi marcando posição e até revelou que conta ter “pelo menos” 306 votos no colégio eleitoral — quando 270 bastam para a reeleição), Trump voltou a partilhar naquela rede.

Mais uma vez, o vídeo foi o meio escolhido, agora com uma banda sonora menos popular e mais épica. “Esta nação é a nossa tela e este país é a nossa obra-prima”, ouve-se Donald Trump a dizer, enquanto as imagens de bandeiras americanas —hasteadas em edifícios públicos e monumentos, a decorar os capacetes de soldados ou a identificar foguetões em plena descolagem — se vão sucedendo no ecrã e o ritmo da música segue em crescendo até ao grande final. “O meu espírito ainda é jovem, o sol continua a nascer, a graça de Deus continua a brilhar e, meus caros americanos, o melhor ainda está para vir”, promete o presidente em tom pausado.

Com a duração de pouco mais de um minuto, o vídeo partilhado a meio da tarde pelo republicano foi originalmente publicado na conta oficial da Casa Branca, que ao longo do dia tem sido bem mais prolífica do que a de Donald Trump e tem-se multiplicado em posts a dar conta dos feitos do presidente nos últimos quatro anos.

Menos de uma hora mais tarde, Trump voltou a ficar online e fez novo retweet, desta vez de um vídeo onde já tinha sido identificado há oito dias e que provavelmente estava a guardar para esta ocasião especial. “Uma parada para mim na Nigéria, uma grande honra!”, escreveu o ainda presidente americano, que há quase três anos escandalizou pelo discurso anti-imigrantes africanos provenientes de “shithole countries”.

A parada em questão foi organizada por um reverendo cristão e juntou centenas de pessoas no passado dia 25 de outubro em Onitsha, uma cidade a 450 quilómetros da capital nigeriana, Abuja.

De acordo com uma sondagem feita no início deste ano, e independentemente do incidente de 2018, 58% dos cidadãos nigerianos confiam no presidente americano — a comunidade amish também, veio dizer pouco tempo depois, mais uma vez através de imagens emprestadas, Donald Trump, agora com um vídeo de carroças em movimento, presumivelmente a caminho das urnas, com bandeiras “Vote for Trump” a adejar.

À medida que a tarde vai avançando, o 45º presidente dos Estados Unidos tem partilhado mais na sua conta de Twitter — mas continua parco em palavras. Eis mais dois vídeos:

Às 18h30 de Washington, mais cinco horas em Lisboa, Donald Trump voltou ao Twitter para comentar o destino dos votos que se vai espreitando agora que as urnas começam a fechar nos Estados Unidos. “Isto está com muito bom ar em todo o país. Obrigada”, escreveu em letras maiúsculas.

Logo depois do discurso de Joe Biden à nação, em que o candidato democrata disse estar esperançoso sobre uma vitória na Casa Branca, Donald Trump acusou os democratas de estarem a sabotar as eleições: “Estamos em grande, mas eles estão a tentar roubar-nos a eleição. Nunca vamos deixar que isso aconteça. Os votos não podem ser lançados após o encerramento das votações”.

Mas o tweet foi ocultado (não eliminado) pela rede social pouco tempo depois: “Alguns ou todos os conteúdos compartilhados neste tweet são contestáveis e podem ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”, justificou a rede social.

Depois de ter passado mais de nove horas em silêncio, Donald Trump voltou finalmente ao Twitter na manhã de quarta-feira (15h em Portugal) e manteve o discurso de descrédito em relação ao processo eleitoral, voltando a insinuar que há fraude. “Ontem à noite eu estava à frente, frequentemente de forma sólida, em muitos Estados-chave, quase todos eles dirigidos e controlados por democratas”, escreveu o ainda presidente dos Estados Unidos. “Depois, um a um, começaram a desaparecer como que por magia, à medida que urnas de voto que apareciam de surpresa eram contadas. É MUITO ESTRANHO, e as sondagens enganaram-se completamente e historicamente!”.

Como já tinha acontecido durante a madrugada, também esta mensagem do presidente americano foi assinalada e ocultada pelo Twitter, por conter “informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”.

Alguns minutos mais tarde, Donald Trump voltou ao tema e questionou: “Porque é que de cada vez que contam os votos por correspondência são tão devastadores na sua percentagem e poder de destruição?”.