Reforçou a defesa com Alex Telles, reforçou o meio-campo com Van de Beek, reforçou o ataque com Cavani e tem ainda Amad Diallo como esperança de futuro a partir de 2021. Num contexto que não era propriamente fácil para grandes investimentos, o Manchester United quis compensar alguns desequilíbrios no plantel (que mesmo assim manteve pesos diferentes entre setores, nomeadamente nas opções para o eixo defensivo), investiu pouco mais de 80 milhões em caras novas e aparecia na nova temporada apostado não só em ter uma boa campanha na Liga dos Campeões mas também diminuir o fosso para os principais rivais na Premier League. Em condições normais, e até pelos muitos pontos perdidos, podia fazê-lo. Mas há um reforço que não se compra: a regularidade.

Era um jogo sem história até Pogba rasgar a página e oferecer a vitória de bandeja ao Arsenal

Na antecâmara de uma difícil deslocação a Liverpool para defrontar o surpreendente Everton (pelo menos até ter James Rodríguez, porque quando o colombiano se lesionou os resultados caíram a pique), os red devils tiveram uma derrota caseira frente ao Arsenal num dos encontros menos conseguidos até ao momento e que veio depois de uma goleada na Champions diante do RB Leipzig, antecedido de um nulo também em Old Trafford com o Chelsea. Esse era o problema nas contas de Solskjaer, esse era o problema também em termos individuais para elementos como Bruno Fernandes, que depois de um arranque forte sofreu várias críticas pelo último encontro.

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“Correr riscos faz parte do seu estilo de jogo mas hoje [domingo] foi um desperdício a um nível extremo. Foi bem substituído”, escreveu o Manchester Evening News, secundado por outras análises que expressaram a diferença de rendimento entre a partida com o RB Leipzig e o Arsenal. “Foi mantido em silêncio por longos períodos na sala de máquinas do Arsenal, era impossível vê-lo de forma menos influente”, salientou ainda o The Sun, encaixando essa perspetiva no grande jogo feito pelo reforço Thomas Partey nos londrinos. “Se estamos a discutir o desempenho dele, foi muito mau e em todos os aspetos do jogo. É tão simples quanto isso. Mas não esteve sozinho. Achei que McTominay esteve mal, que Fred esteve abaixo dos padrões normais. Penso que ninguém se cobriu de glória naquele meio-campo”, comentou o ex-capitão Gary Neville, na Sky Sports. Roy Keane foi mais cáustico.

“Dizíamos que eles estavam a virar a esquina [para voltar à elite] mas é a maior esquina de sempre. Há falta de energia, de entusiasmo, acima de tudo de qualidade. Na segunda parte fiquei verdadeiramente preocupado, vimos uma equipa sem qualidade, sem postura. Os desempenhos foram muito, muito maus. Não vejo líderes nesta equipa”, destacou o antigo médio irlandês e capitão do Manchester United na mesma cadeia televisiva, tocando em Pogba que seria defendido por Solskjaer na conferência de antevisão a novo jogo na Champions, na Turquia: “O Paul percebeu logo que podia ter feito melhor. Tal como todos os jogadores ficou frustrado com a derrota mas ele vem de um período complicado, com uma lesão na última época e a infeção por Covid-19 e está a trabalhar para encontrar a melhor forma. Já vimos muitas coisas positivas dele e esperamos que continue”.

Era neste contexto que o Manchester United chegava ao encontro com o Basaksehir, que em caso de vitória dava nove pontos à equipa da Champions e deixava a passagem aos oitavos da competição a um pequeno passo. Pela frente estaria um clube recente, criado e dominado pelo presidente Erdogan (da sua constituição quando era ainda presidente da câmara de Istambul, olhando para o bairro mais conservador e ligados a islâmicos, à evolução, com um estádio novo e ligações a ministros e líderes de grandes empresas sobretudo depois da sua privatização que teve sempre a falta de adeptos como principal e incontornável obstáculo a um crescimento mais sustentado). E foi esse mesmo clube que expôs as dificuldades de uma equipa reforçada mas com muito ainda por reforçar.

Com um meio-campo reformulado com Matic, Van de Beek e Bruno Fernandes e Juan Mata num apoio mais direto a Martial e Rashford entre outras alterações (até na baliza, onde Henderson ocupou o habitual lugar de David de Gea), o Manchester United até teve um início melhor não sendo bom, conseguindo jogar no meio-campo contrário e tendo um cruzamento/remate perigoso de Luke Shaw que passou perto da baliza dos turcos. Estávamos então com apenas dez minutos de jogo. Depois, o eclipse. E uma exibição abaixo do vulgar: sem ideias no plano ofensivo, com uma evidente falta de ligação de setores, a defesa começou a meter água em lances consecutivos e os visitados aproveitaram para escrever mais um capítulo na sua história recente, agora na Liga dos Campeões.

Visca, num remate de fora da área onde os jogadores de corredor central da equipa inglesa quase que fizeram um convite à meia distância, deixou a primeira ameaça antes de Demba Ba, aos 35 anos, fazer ainda um sprint de meio campo na sequência de um canto do Manchester United que apanhou em contra pé toda a equipa para inaugurar o marcador e fazer o primeiro golo de sempre do Basaksehir na Champions. E a surpresa não ficou por aí: Aleksci, de cabeça, testou a atenção de Henderson antes de Visca, em mais uma bola com Demba Ba na jogada, aumentar a vantagem para 2-0 (40′). O máximo que os britânicos conseguiram, e até um pouco contra a corrente do jogo, foi chegar ao 2-1 ainda antes do intervalo, com Martial a concluir uma boa jogada de Luke Shaw (43′).

No segundo tempo, pelo menos no arranque, já com Matic a central e McTominay em campo para dar outra força ao corredor central nas transições defensivas, Bruno Fernandes ainda deu o mote com um livre direto para defesa apertada de Günok e mais um remate de fora da área desviado num defesa para canto mas nem as entradas de Pogba e Cavani conseguiram ter um impacto direto no rumo do encontro, que continuou a ter um Basaksehir com uma organização defensiva quase irrepreensível apesar de ter perdido capacidade para esticar jogo até à baliza dos red devils, com a melhor oportunidade a surgir nos descontos com Epureanu a salvar em cima da linha um desvio inadvertido para a própria baliza. Se o jogo com o Arsenal tinha sido mau, a exibição na Turquia foi ainda pior. E se Solskjaer já era colocado em causa, o seu futuro em Old Trafford está cada mais tremido.