Aparenta existir uma certa desorganização ou falta de comunicação na Nissan em Portugal, pois cada concessionário parece fazer o que quer com os preços das baterias dos veículos que comercializa. Isto porque, em Outubro de 2019, a marca japonesa andou pelas bocas do mundo pelos maus motivos, após um concessionário ter proposto a um proprietário de um Leaf da primeira geração, com bateria de 30 kWh, a sua substituição pela módica quantia de 30.385€. Uma verdadeira “pechincha”, uma vez que ultrapassava mesmo o valor do veículo à data. Agora a “história” repete-se, mas noutros moldes.

No caso ocorrido o ano passado, o dono do Nissan não fez o negócio, mas resolveu partilhar as suas mágoas com os órgãos de informação e nas redes sociais, o que fez com que o assunto fosse inclusivamente notícia no estrangeiro. A confusão criada pelo preço hiper inflacionado foi tal que a Nissan Portugal decidiu intervir, determinando que o preço das baterias, de qualquer capacidade, ficava tabelado em 7000€ mais IVA, ou seja, 8610€, a que é necessário juntar a mão-de-obra, entre outras despesas menores.

Afinal, quanto custa trocar a bateria de um Leaf?

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Se o problema parecia ter ficado sanado com o anúncio do construtor, eis que agora, um ano depois, surge outra notícia a atentar contra a carteira de um cliente da marca. Mais uma vez, vinda de um concessionário Nissan que estava disposto a facturar 22.890€ pela substituição da bateria de um Leaf com um acumulador de 40 kWh, conforme documentado pela emissão de uma factura proforma. Afinal, como é que depois de a marca ter determinado publicamente qual é o valor de uma bateria para o Leaf, um dos eléctricos que na altura mais vendia em Portugal, um dos seus concessionários vem propor um preço que é facilmente mais do dobro do anunciado (deduzimos que, com mão-de-obra, os 8610€ ascenderão a 10 mil euros)?

O que está de errado com a factura proforma

É estranho que um concessionário oficial da Nissan tenha entregue a um cliente da marca uma factura proforma com um valor incorrecto, por vários motivos. Primeiro, porque a empresa em causa, o Entreposto, tem um profundo conhecimento da marca ou não a tivesse representado durante décadas. Depois, porque dificilmente poderá alegar que desconhece a confusão gerada em 2019 por uma situação similar e, muito menos, o comunicado oficial da marca japonesa, em que esta anunciou um preço de 8610€, a partir dessa data, para todas as baterias do Leaf, independentemente da capacidade.

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Com base na factura proforma apresentada ao proprietário do Leaf 40, um documento que não exigindo o pagamento de IVA, tem de ser obrigatoriamente entregue à Autoridade Tributária desde meados de 2017, o cliente deve ficar com a expectativa que a substituição da bateria vai efectivamente custar 22.890€, com o concessionário a ter de emitir posteriormente uma factura/recibo no mesmo valor, caso a intervenção se confirme. Ou seja, estamos perante um compromisso assumido pelo concessionário para com o cliente.

Ora, sucede que o Leaf 40 em causa foi, no limite, comercializado em 2017, ano em que foi introduzido no mercado nacional, apresentando no odómetro 112.300 km. Por ter menos de 8 anos e menos de 160.000 km, o Nissan eléctrico está duplamente ao abrigo da garantia, a menos que a concessão prove utilização indevida ou qualquer tipo de abuso. Mas nada disto é referido, pois na factura proforma apenas surge a queixa do cliente, que afirma aparecer-lhe a mensagem “falha no sistema EV” e uma aparente dificuldade “em andar e meter mudanças para se movimentar”. Se o Leaf conseguisse engrenar 2ª, 3ª, 4ª e 5ª é que seria uma surpresa…

Afinal, as baterias da Nissan têm dois preços

Segundo o Observador apurou, a Nissan Portugal ainda não conseguiu perceber os motivos que levaram o concessionário a não respeitar o valor pré-estabelecido para a operação de substituição do acumulador, estando agendada uma reunião para breve para tirar a limpo os motivos para o erro. Ainda assim, o representante para o nosso país do construtor avançou que a origem do problema poderá ter a ver com a existência de dois preços para a bateria do Leaf.

À primeira vista, a existência de dois preços para o mesmo produto parece estranha, mas prende-se com o facto de a bateria custar efectivamente cerca de 16 mil euros (20.700€ já com IVA), antes de a Nissan avançar com um subsídio caso a bateria em causa se destine a ser montada num veículo da marca. De acordo com a Nissan Portugal, a estratégia pretende evitar que alguém decida adquirir packs novos para, por exemplo, formar baterias estacionárias, sendo que há baterias melhores e mais baratas para essa finalidade, nomeadamente as usadas com mais de 30% de perda de capacidade.

A Nissan admite que o funcionário que preencheu a factura proforma poderá ter-se esquecido de introduzir o subsídio da marca para as baterias a instalar em veículos, o que no caso presente nem sequer se justificava por este Leaf, em princípio, estar ao abrigo da garantia. Mas, por muitas justificações ou desculpas que sejam avançadas, nenhuma delas impedirá o cliente de poder pensar que, caso não tivesse vindo a público denunciar o preço absurdo, acabaria por pagar 2,4 vezes mais pela mesma bateria. E isto num concessionário oficial.

Concorrência vende mais barato ou puxa pelo preço?

Para ver até que ponto a Nissan pratica preços elevados ou aceitáveis pelas suas baterias, realizámos uma ronda por outros fabricantes de veículos eléctricos. A Renault, que faz parte do mesmo grupo, propunha em 2019 todas as suas baterias de substituição por 8300€ (IVA incluído). Agora, que deixou de transaccionar o Zoe com aluguer de acumulador, alterou a sua estratégia, mantendo o preço, mas também ela admitindo o subsídio, para que as baterias se destinem exclusivamente aos modelos da marca, uma vez que também este fabricante tem um departamento de vendas de sistemas de baterias estacionárias para uso residencial ou comercial.

A Volkswagen, em relação às baterias dos seus e-up! (com 32,3 kWh de capacidade) e e-Golf (35,8 kWh), uma vez que o ID.3 ainda agora chegou ao mercado nacional, avançou-nos com preços de 11.624€ para o primeiro e 15.281€ para o segundo, incluindo IVA em ambos os casos. É provável que com a introdução do ID.3 – produzido em maiores números, o que deverá permitir uma considerável redução de custos – possa vir a praticar preços mais atractivos para a substituição dos acumuladores.

A Tesla é apontada como possuindo as baterias com a maior densidade energética do mercado, o que faria supor que seriam igualmente as mais caras, tendo em conta a capacidade que oferecem. O Tesla Club Portugal reuniu a informação relativa ao custo das baterias no nosso país junto da marca norte-americana, de forma a difundi-la junto dos seus membros, o que nos permite saber que as baterias novas com 75 kWh são propostas por 19.128€, com as de 85 kWh a exigirem um investimento de 22.959€ e as de 100 kWh a custarem 24.600€, sendo os valores com IVA e respeitantes aos acumuladores destinados aos Model S e X. Para o Model 3 Long Range, a bateria de 75 kWh é comercializada por 15.375€.

Tendo presente que estas baterias possuem refrigeração líquida e podem ser recarregadas com potências de até 250 kW, em vez de apenas 70 kW do Leaf (podendo atingir em determinadas condições 100 kW), não deixa de impressionar que os acumuladores da Tesla sejam transaccionados a 246€/kWh (para a bateria de 100 kWh) e 205€/kWh para a mais moderna e eficiente 75 kWh do Model 3, enquanto a Nissan propõe a sua bateria a 215€/kWh.

As marcas do Grupo PSA praticam o mesmo tipo de estratégia de preços, pelo que não há diferenças entre os custos para substituição de uma bateria na Peugeot, DS ou Opel. Todos os modelos são muito recentes, daí que estejam cobertos pela garantia do fabricante (8 anos ou 160.000 km), mas solicitámos que nos dessem um preço para um cliente que fizesse questão em mudar a bateria de um e-208, e-2008, DS3 Crossback E-Tense ou Corsa-e. O preço avançado para o pack com 50 kWh de capacidade é de 13.000€ (15.990€ com IVA, com um custo de 319€/kWh), com o grupo francês a compensar o preço mais elevado, face ao Nissan, com um menor custo de mão-de-obra, uma vez que os franceses cobram apenas 200€ (mais IVA) para trocar o pack, contra os 743€ do modelo japonês.

Também recebemos informações relativas às baterias dos modelos da Daimler, para substituir o pack de acumuladores que equipa os modelos 100% eléctricos da Mercedes e da Smart. Para o Mercedes EQC, o fabricante alemão cobra 26.180€ (32.201€ com IVA, o que coloca os custos por kWh em 402€) para substituir a bateria com uma capacidade de 80 kWh. Nos Smart ForTwo e ForFour, cujo acumulador tem apenas 17,6 kWh, o investimento é de 12.327€ (15.162€ já com IVA).

A BMW, que de momento possui apenas na sua gama de eléctricos o i3, que muito em breve vai ser reforçado com a chegada do iX3 e do iNext, dois SUV de maiores dimensões, informou-nos que a estratégia da marca passa por não trocar de baterias, mas sim substituir os módulos danificados ou com menor capacidade. O acumulador do i3 com 120 amperes, ou seja de 42,2 kWh (42200 Wh = 120A x 353V) é composto por 8 módulos, que a BMW vende por 2325€, o que com IVA ascende a 2860€. A marca alemã afirma que analisa cada um dos módulos e, ao abrigo da garantia, substitui apenas o módulo, ou os módulos, com menos de 70% da capacidade original. Fora da garantia, o condutor pode sempre optar por suportar a substituição da totalidade dos módulos, o que implica um investimento de 22.880€ (IVA incluído), sendo que mantém a estrutura do pack, bem como o sistema de refrigeração.

Actualizado às 14h32, com informação referente às marcas DS, Opel, Peugeot, Mercedes e Smart. 

Actualizado às 18h22 com os elementos relativos aos custos da bateria da BMW.