Chamam-lhes objetos extraordinários, o que é verdade. Afinal, um artesão no norte do Vietname pode demorar meses a concluir um destes tabuleiros, impecavelmente lacados e inspirados em ilustrações científicas do século XIX. Qual gabinete de curiosidades, a Côco Gin quer aguçar o apetite colecionista de um mercado que se alimenta luxos como este como do pão nosso de cada dia.

Lucília e Ludovic de La Bédoyère são, já por si, um casal que mistura latitudes. Há cinco anos, mudaram-se para Lisboa, uma nova e arejada casa, depois de Brasil, Londres e França assinalados no passaporte. A partir daqui, moldaram uma marca que comunica para o mundo. “A Côco Gin começou como agência criativa, no Soho londrino. Trabalhava no desenvolvimento de marcas nas áreas da decoração,da gastronomia, dos vinhos e da moda. Sempre fiz algum design por prazer, mas esse projeto foi ganhando dimensão, até que comecei a idealizar a minha própria marca”, contextualiza Lucília, em conversa com o Observador.

Lucília e Ludovic de La Bédoyère são o criadores da Côco Gin © Divulgação

Conheceu o marido, francês e um homem dos meandros da publicidade, e voltou a apaixonar-se por Portugal. A família mudou-se e o projeto de converter uma agência de estratégia e comunicação numa marca de utilitários de luxo tornou-se real. “Passámos os últimos dois anos de desenvolver a marca, juntos. Peguei em tudo o que aprendemos com a agência, principalmente essa capacidade de contar histórias”, continua.

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Numa coleção de quatro tabuleiros feitos à mão, cada um deles conta uma história. De Tycho Brahe, o astrónomo dinamarquês que perdeu o nariz num duelo originado por um problema de matemática, à imagem boémia e decadente da Marquesa Luisa Casati, são quase telas que remetem para descobertas científicas e de espécies exóticas. Limitados a 40 exemplares, os preços destas peças varia entre os 1.840 e os 2.120 euros.

“Queríamos entrar no mercado com uma peça versátil, que estivesse sempre no centro da atividade do anfitrião”, explica ainda. Há quem use como bar, como mesa, como mero elemento decorativo ou que o use para servir os convidados. Lucília fala em peças para acompanhar uma vida, mas também em recuperar a arte de receber à moda antiga, missão que levou o casal a viajar pelo sudeste asiático durante três meses, até encontrar uma comunidade de artesãos nos arredores de Hanói.

Poison é o tabuleiro mais caro, custa 2.120 euros © Divulgação

Mas este foi apenas o primeiro lançamento de uma marca que quer expandir-se para outras zonas da casa — “mesa, cama e banho”, nas palavras da fundadora. Para dar o próximo passo, com lançamento marcado entre dezembro e o início do próximo ano, não vai ser preciso sair de Portugal. “Já na universidade, tinha uma queda por artesanato português, achava fascinante. É um país muito rico e nós viajámos de norte a sul, a explorar os lugares rurais, onde as tradições ainda persistem”, conta. Atualmente, a Côco Gin está a trabalhar com uma cooperativa de bordadeiras no norte do país, mas também com artesãos especializados em trabalhar porcelana, na zona das Caldas da Rainha. Guardanapos, individuais, serviços, velas e cinzeiros são apenas uma amostra do que está por vir.

Fora do circuito das grandes fábricas, a produção manual e de pequena escala abre espaços para a costumização — “alterar um pouco o tamanho, colocar as iniciais, encomendar um presente de casamento”, esclarece Lucília de La Bédoyère. Por enquanto, é na Europa que a marca está a dar cartaz, sobretudo nos mercados britânico e francês, embora seja crescente o interesse de clientes nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes Unidos.

Depois dos tabuleiros, o casal prepara o lançamento de peças em linho para a mesa e de porcelanas © Divulgação

A marca chegou ao mercado em março deste ano e já atraiu atenções internacionais. A plataforma Moda Operandi desafiou a dupla a integrar a lista de trunkshows natalícios. A Masion Objet deu-lhes acesso à sua secção mais exclusiva. O evento decorre habitualmente em janeiro, em Paris. As últimas notícias dão conta de um adiamento para março. O atual contexto levou a uma adaptação do negócio. O canal online sempre foi o preferencial, embora a Côco Gin queira também explorar o formato do lojas pop up um pouco por toda a Europa.

Quanto ao país que serve de base, Lucília garante que veio para ficar, tal como a marca, que pretende tirar partido do made in Portugal. “A Côco Gin vai se dividir em duas frentes e uma delas é a tradição portuguesa, reconhecida lá fora como etiqueta de excelência. Mas parte da identidade da marca é esta busca por artesãos e, sendo brasileira, gostaria muito de vir a trabalhar com artesãos do Brasil”.