“Pinóquio”

Matteo Garrone optou  por aquilo a poderíamos classificar de naturalismo fantástico para fazer esta nova adaptação do clássico de Carlo Collodi, ambientada na Itália rural do século XIX, por onde se movimentam as personagens e se dão as peripécias do menino de madeira (o jovem Federico Ielapi com três horas de maquilhagem em cima) talhado por Gepeto (Roberto Benigni, que já foi Pinóquio na versão que rodou em 2002). Este “Pinóquio” pertence ao universo de outro filme de Garrone, “O Conto dos Contos” (2015). É filmado em imagem real com atores de carne e osso, recorre muito mais a efeitos especiais tradicionais (cenários de estúdio, maquilhagens fantasiosas, grotescas ou antropomórficas, trucagens mecânicas, etc.) do que aos digitais, e não omite algumas das sequências mais cruéis da história (o enforcamento de Pinóquio numa árvore, por exemplo). Sem dúvida uma das melhores adaptações ao cinema do livro de Collodi.

“Pig-Porco”

Há muito mais no cinema iraniano do que os filmes de Kiarostami, Panahi, Farhadi ou da família Makhmalbaf, como se pode ver por este extravagante “Pig-Porco”, do ator e também realizador Mani Haghighi. É a primeira obra de Haghighi que se estreia em Portugal, que tem um fraquinho pelo absurdo e por um certo experimentalismo, e se fez notar graças a títulos como “Canaan” (2008) ou “50 Kilos of Sour Cherries” (2016). “Pig-Porco” é uma comédia negra, satírica e onírica sobre um realizador espalhafatoso, imaturo e “anarquista”, Hasan Kasmai, que está proibido de filmar pelo governo iraniano e se vê acusado de ser a pessoa que anda a assassinar e decapitar vários colegas seus e a aterrorizar Teerão. Haghighi mete-se com o meio cinematográfico e artístico a que pertence e com o regime dos “mollahs”, e atira-se às redes sociais, e apesar de ser um bocado trapalhão e autocondescendente, “Pig-Porco” merece atenção.

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“Vivarium”

Em “Vivarum”, de Lorcan Finnegan, Tom (Jesse Eisenberg), um médico de árvores americano, e Gemma (Imogen Poots), uma professora primária inglesa, andam à procura de casa para se instalarem e depois casarem e formarem família. E são conduzidos por um agente imobiliário algo estranho para uma das moradias do enorme bairro suburbano de Yonder, a número 9, onde cada casa parece um “clone” da outra e mais ninguém lá vive. Ou assim parece. Quando Tom e Gemma dão por eles, o agente desapareceu e estão presos no labirinto do imenso bairro uniforme e vazio de gente, onde tudo parece artificial, incluindo as nuvens no céu e a relva dos jardins. Não importa quantas voltas eles dêem com o carro, vão sempre desembocar no mesmo sítio, a casa número 9, onde acabam por se instalar. Mas as surpresas não vão ficar por aí. “Vivarium” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.