Depois da saída de Marco Silva e da passagem como interino do mítico Duncan Ferguson pelo banco, a chegada do italiano Carlo Ancelotti ao comando técnico do Everton era o equivalente à aposta no treinador com mais currículo que algum dia passara por Goodison Park, tricampeão europeu por AC Milan e Real Madrid e campeão nacional em Itália, em Inglaterra, em França e na Alemanha. Também por isso, e de forma natural, as expetativas subiram. Os resultados é que nem por isso, a ponto de, em determinados jogos, dar ideia que o transalpino estava quase como naqueles conjuntos da NBA sem hipóteses de ir playoff que estão já a trabalhar para a época seguinte (e que, no basquetebol americano, pode valer uma escolha mais alta do draft, o que não aplica aqui). Esta temporada, as coisas mudaram. Ou, pelo menos, foram diferentes enquanto houve James Rodríguez em campo.

Era um jogo sem história até Pogba rasgar a página e oferecer a vitória de bandeja ao Arsenal

O internacional colombiano que era um elemento a mais no Real Madrid esteve em duas ocasiões perto de chegar à Premier League mas pelo Manchester United, numa primeira instância quando saiu em 2013 para o Mónaco e mais recentemente antes de ir para o Bayern e agora para o Everton. Foi uma espécie de sonho adiado mas que trouxe bons resultados, pela forma como chegou ao Mundial de 2014 antes de ser vendido aos merengues nesse mesmo verão. Esta semana, soube-se também que, antes de rumar ao FC Porto, o esquerdino estava referenciado pelo olheiro do clube na América do Sul mas os responsáveis dos red devils consideraram que não se iria adaptar ao tipo de futebol praticado em Inglaterra. Agora, e pela primeira vez na principal prova, James Rodríguez podia defrontar a equipa que várias vezes esteve para ser a sua, numa notícia que era também positiva para o Everton.

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“Temos praticamente todo o plantel à disposição à exceção do Richarlison e do Delph, todos os outros já encontram disponíveis. É importante ter o James de volta, o Coleman de volta e o Digne de volta porque com eles somos uma equipa e um plantel mais forte. Vamos ter um jogo complicado pela frente. O James diz que está a 100%, eu tenho algumas dúvidas mas se ele diz…”, confirmou na antecâmara do jogo o próprio Ancelotti, ciente que, quando teve o colombiano em campo, em seis jornadas, somou 13 dos 18 pontos possíveis incluindo uma vitória com o Tottenham e um empate com o Liverpool com três golos e outras tantas assistências nesses jogos, antes de uma jornada abaixo do normal frente ao Newcastle sem o sul-americano em que a equipa somou a segunda derrota.

O Everton tinha condições para melhorar, o Manchester United seria sempre uma incógnita, até por já ter feito o melhor e o pior neste início de época antes de dois jogos falhados com Arsenal e Basaksehir, sobretudo na Turquia onde Solskjaer trocou várias unidades na zona do meio-campo, onde perdeu o encontro com os londrinos, com poucas ou nenhumas melhorias. O técnico foi criticado, a defesa foi criticado, o coletivo foi criticado, Bruno Fernandes também não fugiu à crítica, “das movimentações desnecessárias e passes de Hollywood”. “Após duas derrotas, é complicado dizer alguma coisa sobre a confiança da equipa. Temos de olhar para a semana anterior. Todos diziam que estávamos bem e a fazer jogos incríveis. Ganhámos ao Newcastle, ao PSG, ao RB Leipzig e empatámos com o Chelsea. Não estamos bem na Premier League mas temos de fazer muito melhor e temos de fazer alguma coisa já no próximo jogo”, comentou o português após a derrota em Istambul.

Num encontro que teve mais um momento arrepiante no início de homenagem a todos os combatentes na Primeira Guerra Mundial pelo Remembrance Day que assinala a assinatura do armistício em 1918, Solskjaer, cada vez mais pressionado no cargo, retomou o meio-campo que defrontara o Arsenal com McTominay e Fred nas costas de Bruno Fernandes e Juan Mata em vez de Pogba no apoio a Rashford e Martial. E essa composição deu uma maior qualidade na posse, com os red devils a terem mais bola mas o Everton sempre à espreita de transições como uma logo no início em que Bernard cruzou e o desvio de cabeça de Calvert-Lewin saiu um pouco por cima (6′). Todavia, a melhor oportunidade no arranque acabaria por pertencer a Martial, a rematar ao lado após ressalto (15′). Havia ainda assim um problema no Manchester United que o conjunto de Ancelotti mostrou como se resolvia: aquilo que os visitantes não conseguiam em 20 passes conseguiram os visitados em três, com Pickford a bater longo, Calvert-Lewin a ganhar entre os centrais e Bernard a puxar para dentro para o remate rasteiro (19′).

Em desvantagem, o Manchester United precisava procurar novas formas de abordar a baliza de Pickford. E foi à procura disso, numa primeira instância com McTominay a arriscar o passe longo em diagonal para Rashford mas o remate a sair sem o arco que o avançado queria dar. Depois, apareceu Bruno Fernandes a fazer tudo o que Bruno Fernandes não costuma fazer: combinação de Mata e Luke Shaw na esquerda, cruzamento do lateral e grande cabeceamento do médio português no meio dos centrais a fazer o empate (25′). Mesmo com nomes como Allan, Doucouré, Fred ou McTominay, os meio-campos tinham dificuldade em segurar um jogo cada vez mais partido e as aproximações com perigo sucediam-se, com Digne a acertar no poste (28′) e Bruno a bisar, numa saída rápida em que o cruzamento em arco acabou por não ser desviado por Rashford mas bateu no poste e entrou (33′).

Ao intervalo começavam a surgir os primeiros números de uma exibição que começou modesta como a da equipa mas que teve meia hora ao nível do melhor que fez desde que chegou a Inglaterra. Sobre o jogo, cinco remates (três enquadrados), 50 passes, a velocidade máxima de 32,44 km/hora. Sobre a trajetória na Premier League, sendo o jogador com melhor rendimento nos primeiros dez jogos fora realizados no Campeonato, com dez golos e quatro assistências. Mais: atingiu os 100 golos na carreira como sénior entre Novara, Udinese, Sampdória, Sporting e agora Manchester United, demorando quase três vezes menos jogos a apontar os últimos 50. Na segunda parte, que teve demasiadas entradas mais duras e umas quantas confusões à mistura (e o português também viu um amarelo por isso), não houve tantos momentos de registo, apesar de duas oportunidades flagrantes de Rashford travadas por Pickford que podiam ter decidido mais cedo o encontro, que acabou mesmo com o triunfo por 3-1 dos red devils, com muitos amarelos e com o primeiro golo de Cavani na Premier após assistência de… Bruno Fernandes.