A manifestação realizada esta sexta-feira para pedir mais eficácia na aplicação da lei contra Violência Baseado no Género (VBG) teve fraca adesão na cidade da Praia, defraudando as expectativas da organização, que mesmo assim promete continuar as suas ações.

Segundo disse à Lusa a membro da organização Lúcia Brito, na capital de Cabo Verde, a manifestação, uma iniciativa de um grupo denominado “Mulher inspira mulher”, não conseguiu mobilizar muita gente.  “Aqui na Praia as nossas expectativas foram defraudadas”, lamentou Lúcia Brito, dizendo que a organização estava a contar com muito mais de 100 pessoas, mas as que marcaram presença não chegaram a três dezenas, sobretudo mulheres.

Depois do fracasso na Praia, que teve concentração em frente à Assembleia Nacional, a porta-voz disse que o grupo vai agora tentar perceber o que terá acontecido. “É uma questão de nós entendermos o que está por trás e tentarmos identificar e trabalhar. Se calhar temos que analisar as nossas ações ou tentar escolher outro caminho”, afirmou Lúcio Brito, em declarações à Lusa.

Se na Praia a adesão foi fraca, Lúcia Brito disse que, das informações que tem, é que nas outras ilhas, especialmente São Vicente e Santo Antão, adesão foi melhor, de mulheres e homens.

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A organização promete não ficar por aqui e, segundo a representante, o grupo “Mulher inspira mulher”, vai continuar a realizar outras ações, a começar por palestras nas escolas de ensino secundário. Na terça-feira, Lúcia Brito disse à Lusa que a manifestação pretendia “despertar” as autoridades cabo-verdianas para a aplicação efetiva da lei contra a VBG, que existe há mais de 10 anos.

A lei não é aplicada de forma rigorosa como se pretende, tanto é que os casos aqui em Cabo Verde têm aumentado ano após ano”, deu conta, recordando um caso recente, na ilha da Boa Vista, em que um homem matou a sua namorada. “Aconteceu de uma forma muito horrenda e despertou em todos nós mulheres e em todo o ser humano de uma forma geral uma certa revolta, impotência”, lamentou.

Só nos últimos dois anos, Lúcia Brito disse que já aconteceram cerca de 40 casos de violência de género em Cabo Verde, numa tendência cada vez de aumentar, em que as mulheres são as maiores vítimas mortais. “São situações que têm que ser vistas, têm que ser pensadas e têm de ser trabalhadas de forma urgente. Estamos a falar de vida humana, de pessoas que estão em risco”, insistiu, dizendo que há várias mulheres no país em situação de risco e que a qualquer momento pode acontecer uma tragédia.

Em julho, a sociedade civil cabo-verdiana criou uma carta-manifesto e organizou uma manifestação na ilha de São Vicente também para dizer “basta” à violência contra mulheres e meninas e insurgir-se contra o “silêncio das autoridades”. As duas iniciativas surgem poucos dias depois de notícias em órgãos de comunicação social cabo-verdiana a dar conta de um caso em que seis homens ficaram em liberdade sob Termo de Identidade e Residência (TIR) após serem acusados de violar de forma continuada uma criança de 12 anos no concelho do Paul, ilha de Santo Antão.

Mas também na sequência de todas as notícias sobre este tipo de crime no país e os mais recentes dados estatísticos, que dão conta que, apesar de uma diminuição, 11% das mulheres ainda são vítimas de violência física e 5,8% sofrem violência sexual, desde os 15 anos. O Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG) também tem realizado várias ações no país para o combate à VBG, incentivando a todos para a denúncia dos casos, mas também uma aposta na educação para a tolerância, respeito, paz e não violência.