O discurso de Biden, que falou com a sua candidata a vicepresidente Kamala Harris por perto, chegou a ser pensado como discurso em que se declararia vencedor das eleições, mas serviu para vincar a distância dos resultados já apurados para Donald Trump e para mostrar que “já se trabalha” no seio dos Democratas para encontrar soluções para o rasto de crise deixado pela Covid-19 no país. A ausência de projeções de vitória trocou as voltas a Biden, mas não lhe tirou o otimismo: “Espero falar amanhã”.

Biden começou com garantias: “Não temos ainda uma declaração final de vitória, mas os números mostram de forma clara e convincente: vamos ganhar esta eleição”. “Olhem para o que aconteceu desde ontem. Há 24 horas estávamos atrás na Geórgia e agora estamos à frente — e vamos ganhar esse Estado. Há 24 horas estávamos atrás na Pensilvânia e vamos ganhar a Pensilvânia. E estamos à frente no Arizona e no Nevada”, disse Joe Biden.

No Nevada, referiu o candidato Democrata, a vantagem “duplicou”. Para Biden, tudo somado mostra uma coisa: “Estamos a caminho de ter mais de 300 votos para o Colégio Eleitoral. Vamos ganhar esta corrida com uma maioria clara e com uma nação a apoiar-nos. Tivemos mais de 74 milhões de votos. É mais do que qualquer outro candidato a Presidente na história da América”.

Prosseguindo Joe Biden compara-se com o oponente Republicano: “Estamos a ganhar a Donald Trump por mais de quatro milhões de votos. E essa margem ainda está a crescer”.

“Vamos ser a primeira campanha Democrata a ganhar no Arizona em 24 anos. Vamos ser os primeiros candidatos Democratas a ganhar na Geórgia em 28 anos. E reconstruímos o muro azul no centro do país, que se desmoronou há quatro anos. Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, as terras no coração deste país”, concluiu.

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Defendendo que a pandemia está “a tornar-se mais preocupante em todo o país”, que o número de casos diários de infeção com o novo coronavírus “estão a disparar” e que o número de mortes “está a aproximar-se das 140 mil vidas perdidas com este vírus”, Biden referiu: “Nunca vamos ser capazes de medir toda a dor, perda e sofrimento que tantas famílias estão a viver. Sabemos alguma coisa sobre o que é perder alguém. Quero que as pessoas saibam: não estão sozinhas e os nossos corações partem-se juntamente com o vosso”.

Quero que todos saibam que desde o primeiro dia vamos pôr em prática o nosso plano para controlar este vírus. Não podemos salvar as vidas já perdidas, mas podemos salvar muitas vidas daqui em diante”.

Sobre a economia, Biden referiu: “Eu e a Senadora Harris também ouvimos ontem detalhes sobre o quão lenta está a ser a recuperação [económica]. Devido ao falhanço em controlar a pandemia, mais de 20 milhões de pessoas estão desempregadas e milhões de pessoas estão preocupadas com como pagar renda e como pôr comida na mesa”.

“Não estamos à espera para começar a trabalhar”. Já começaram as primeiras reuniões

“O que se está a tornar mais claro a cada hora é o número recorde de americanos de todas as faces, raças e religiões que escolheram a mudança em detrimento de mais do mesmo”, apontou Joe Biden: “Deram-nos um mandato para agirmos, em resposta à Covid-19, à economia, às alterações climáticas, ao racismo sistémico. Tornaram claro que querem que o país se una, em vez de se continuar a separar. As pessoas falaram: mais de 74 milhões de americanos disseram bem alto que querem a nossa candidatura”.

O candidato Demorata apontou ainda: “Apesar de estarmos à espera dos resultados finais, quero que as pessoas saibam que não estamos à espera para começar a trabalhar. Ontem, a senadora Harris e eu tivemos reuniões com grupos de especialistas de saúde pública e de economia, face às crises que este país está a enfrentar”.

Já em resposta aos pedidos de Trump para travar a contagem de votos (nos Estados cuja votação lhe é neste momento desfavorável), Joe Biden prosseguiu a declaração sem direito a perguntas de jornalistas: “Sabemos que as tensões estão altas, que podem estar altas depois de uma eleição difícil como a que tivemos. Mas temos de permanecer calmos e pacientes. Deixemos o processo decorrer, enquanto todos os votos são contados”.

Estamos a provar mais uma vez o que provámos por 244 anos neste país: a democracia funciona. O vosso voto vai ser contado. Não me interessa o quão arduamente as pessoas tentem parar isto, não deixarei que aconteça. As pessoas serão ouvidas”, prometeu.

Na parte final do discurso, o Democrata começou com um apelo à união nos EUA. “Na América temos visões fortes e discordâncias fortes. Algumas são inevitáveis na nossa democracia e são saudáveis, sinais de um vigoroso debate”. Porém, notou Biden, o propósito da política é “resolver problemas, garantir justiça, dar a todos uma oportunidade justa, melhorar a vida das pessoas”.

“Podemos ser oponentes mas não somos inimigos. Somos americanos. Certamente não vamos concordar em muitos assuntos, mas pelo menos podemos concordar em sermos civilizados uns com os outros. Temos de pôr a raiva e a demonização para trás.”

Rematando, o candidato Democrata afirmou: “Esta é a altura de nos unirmos como nação para sarar as feridas. Não vai ser fácil, mas temos de tentar. A nossa responsabilidade na Presidência será representar toda a nação. Quero que saibam: vou trabalhar tanto por aqueles que votaram contra mim quanto por aqueles que votaram em mim. É esse o trabalho. Chama-se cuidar de todos os americanos”.

Biden finalizou assim: “Temos problemas muito sérios com os quais temos de lidar: a Covid-19, a economia, a justiça racial, as alterações climáticas. Não temos mais tempo para desperdiçar em lutas partidárias. Temos uma oportunidade fantástica para construir o futuro que queremos para os nossos filhos e os nossos netos. Isto são os Estados Unidos da América. E nunca houve nada, nada que não fossemos capazes de fazer ou atingir. E fizemo-lo juntos. Espero falar amanhã [este sábado]. Quero agradecer-vos a todos. Que Deus vos abençoe e que Deus proteja as nossas tropas”.