“É o futebolista do momento na Liga. Puro caviar. O Atlético tem um diamante e agora que deslumbra com o seu brilho poucos se recordam do seu preço”. O artigo de opinião de Carlos Carpio na Marca é mais elogioso ainda do que todos os elogios que o português tem recebido nos últimos tempos mas serve como exemplo paradigmático de mais um ponto que mudou neste segundo ano do avançado: o conjunto de Madrid pode continuar com alguma irregularidade nos resultados entre Campeonato e Champions mas até mesmo quando não ganha, como aconteceu a meio da semana em Moscovo, o número 7 destaca-se e não se apaga como na época passada.

João Félix volta a bisar no triunfo do Atlético de Madrid por 3-1 em casa do Osasuna

Melhor marcador do Atl. Madrid no ano civil de 2020, João Félix, a poucos dias de fazer 21, numa fase em que ia com quatro golos nos últimos três jogos incluindo dois bis frente a Salzburgo e Osasuna, as explicações estavam também na forma como o próprio Diego Simeone foi mudando a ideia coletiva sem perder os princípios há anos enraizados na equipa. “Félix soltou-se e isso está estreitamente relacionado com aquilo que o técnico decretou no jogo do Atlético, mais alegre, a mandar em campo, a criar oportunidades e a divertir os adeptos. O miúdo, que joga agora mais pendente em fazer o que lhe passe pela cabeça do que em cumprir as obrigações que eram impostas pelo treinador, deu-se às maravilhas com a chegada de Luis Suárez, que forçou esse passe em frente para que lhe possa fazer chegar a bola”, acrescenta a opinião, explicando essa progressão do português.

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Era neste contexto que chegava a receção ao Cádiz, equipa surpresa da Liga que ganhou ao Real Madrid, numa fase em que o Atlético levava três triunfos consecutivos na prova e permanecia como a única sem derrotas em toda a competição. E para manter essa série, a imprensa espanhola apostava num triângulo ofensivo com Herrera, Koke e Saúl Ñiguez, tendo Correa no apoio à dupla João Félix-Luis Suárez que tem vindo a ser sempre utilizada até pela lesão de Diego Costa, que chegou a fazer dupla com o português e com o uruguaio. Simeone, esse, não queria abrir o jogo, assumindo apenas que os colchoneros teriam de estar no máximo para somar mais um triunfo.

“O Cádiz é uma equipa muito forte fora de casa, que ganhou todos os quatro jogos como visitante, muito compacta. Gosta da sua forma de trabalhar e do seu jogo coletivo. Depois temos também a falta do público, no final nota-se a ausência porque não nos podem ajudar quando os resultados estão apertados. É algo que estranhamos muito e oxalá nos possamos começar a aproximar do que acontece já na Rússia”, comentou, destacando ainda a chamada de Marcos Llorente à seleção pela primeira vez e a posição em que prefere ver o ex-portista Héctor Herrera no corredor central, “mais como interior e não tanto como médio defensivo, como joga na seleção”.

As opções ofensivas confirmaram-se mesmo (só Marcos Llorente entrou no onze em relação ao previsto, no lugar de Correa) e Suárez fez dupla com João Félix no dia em que concedeu uma entrevista ao jornal As onde deixou também ele muitos elogios ao português. “Não me surpreendeu porque já no Benfica mostrou a classe de jogador que era com a idade tão jovem que tinha. Não é fácil quando vens do estrangeiro. O primeiro ano dele foi de adaptação e deixou detalhes de grande qualidade. Creio que este ano está a começar a deixar as pessoas entusiasmadas. Ele sente-se com muita confiança. Se o ajudarmos e lhe dermos o que precisa, pode fazer a diferença. No entanto, ele não tem de carregar toda a responsabilidade. Somos uma equipa e todos devemos acrescentar. Creio que isso vai ser benéfico para ele e para todos”, defendeu. Em oito minutos, o jogo deu-lhe razão.

O Cádiz teve uma entrada personalizada em campo mas o Atl. Madrid chegou cedo à vantagem, com o guarda-redes Ledesma a ter uma saída despropositada da baliza que deixou a bola para Marcos Llorente cruzar e João Félix inaugurar o marcador de cabeça. A equipa de Diego Simeone ganhou outra confiança, sobretudo nas ações ofensivas, e não demorou a aumentar o avanço no marcador em mais um lance em que o guardião não ficou bem na fotografia depois de um remate de Llorente perante a passividade de toda a defesa do Cádiz (22′). O intervalo chegou mas a influência do português no jogo ofensivo não se alterou, fazendo depois a assistência para o 3-0 por Luis Suárez num jogo que necessitou de confirmação do VAR mas que sentenciou a partida aos 51′, o que permitiu outra gestão dos colchoneros, a estreia de Kondogbia (médio francês recentemente contratado) e o sexto golo de João Félix nos últimos quatro jogos, a dominar no peito e a chutar de primeira após passe de Correa (90′).