Há pilotos que só conseguem mesmo andar em pista seca, há pilotos que se dão bem com as dificuldades de uma pista molhada. Na Fórmula 1, no MotoGP, em vários desportos motorizados. E também aí uma pequena alteração pode fazer toda a diferença, como se viu na qualificação para o Grande Prémio da Europa: com a pista molhada após a chuva da manhã, Miguel Oliveira voou na quarta sessão de treinos livres e na Q1; depois, em dez minutos, algumas partes da pista ficaram secas, as “regras de jogo” mudaram e o português não foi a tempo de entrar.

Nem tudo a chuva levou: Oliveira voou na Q1, andou na primeira linha da Q2 e sai de oitavo lugar no GP da Europa

“Foi um dia positivo, começámos com bom ritmo na sessão da manhã, no quarto treino livre também. Fizemos o trabalho que tínhamos a fazer na Q1, passámos à Q2. Aí, ficámos um pouco aquém do que podíamos fazer mas a pista começou a secar, sobreaqueci os pneus e não consegui ter a mesma tração para ser tão rápido como tinha sido dez minutos antes. Ainda assim, estou contente com a oitava posição. Amanhã [domingo] entraremos em território desconhecido, com uma pista provavelmente seca, por isso temos de estar alerta, adaptarmo-nos rapidamente ao que encontrarmos e fazer uma boa corrida”, explicou este sábado após a qualificação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Desta forma, e à partida para a antepenúltima prova do calendário no circuito Ricardo Tormo, em Valência, nem Miguel Oliveira nem qualquer outro piloto poderiam fazer grandes antevisões do que poderia acontecer, tendo em conta esse sem número de fatores variáveis entre sol ou tempo encoberto, pista seca ou pista molhada, céu a abrir ou a fechar. Era chegar, ver, perceber, utilizar o warm up da melhor forma e escolher da forma certa com essa garantia à partida: ao contrário do que aconteceu por exemplo na primeira prova em Aragão (depois, na semana seguinte, o Grande Prémio de Teruel foi outra história), as KTM estavam com um bom ritmo, capaz de ombrear com as restantes equipas ao ponto de Pol Espargaró, com moto de fábrica, ter conseguido a pole position.

O registo do português no warm up até foi modesto mas Miguel Oliveira teve de longe a melhor largada deste ano, subindo da oitava para a quinta posição logo na primeira curva antes de ultrapassar também Nakagami pouco depois, chegando ao final da segunda volta a aproveitar a luta intensa entre Álex Rins, Pol Espargaró e Joan Mir na frente para colar aos lugares do pódio enquanto lá atrás Fabio Quartararo deu mais uma mostra da inexperiência nos momentos decisivos ao cair numa curva mais fechada com Aleix Espargaró, num gesto que poderia ter uma influência determinante na luta pelo título mundial de Marc Márquez. E essa era a toada principal, que deixava a Tech3 entusiasmada: os três da frente tentavam descolar mas Miguel Oliveira continuava na sua roda.

As Suzuki passaram mesmo para a frente e a corrida do português voltava a ser discutida com Pol Espargaró, com avanços e recuos na vantagem entre ambos à mínima trajetória falhada ou feita de forma mais larga. Lá atrás, e nas notícias que também interessavam ao piloto de Almada (porque agora todos os pontos contam), Maverick Viñales sofreu uma saída de pista, Pecco Bagnaia, Cal Crutchlow e Valentino Rossi já estavam mesmo fora de prova. No entanto, os pneus começaram a falhar ao português, que em vez de espreitar a possibilidade de somar o segundo pódio em MotoGP depois da vitória na Estíria estava mais a defender o quarto posto de Nakagami, com o japonês a saltar mesmo para a frente do piloto da Tech3 a 12 voltas do final do Grande Prémio da Europa.

Nas voltas seguintes, o português ainda conseguiu voltar a aproximar-se da Honda de Nakagami mas a diferença aumentou de novo para quase dois segundos, embora tivesse mais de três segundos de avanço também em relação a Jack Miller, que entretanto tinha ultrapassado Johann Zarco na sexta posição. Lá na frente, Joan Mir continuava a dominar por completo para um triunfo que pode ser fundamental para a conquista do título mundial quando ficam apenas a faltar duas provas para o final da época de 2020. Atrás, Álex Márquez apanhou uma pequena zona ainda mais húmida e teve uma saída de pista quando estava no top 10, falhando assim os pontos numa fase onde a luta mais interessante era pelo sétimo poste entre Brad Binder, Andrea Dovizioso e Zarco.

Miguel Oliveira terminou mesmo no quinto lugar, igualando o segundo melhor registo do ano só superado pela vitória na Estíria. No final, o português mostrou-se satisfeito com o resultado dentro das condicionantes habituais da corrida. “Estou contente. Estávamos com receio porque não sabíamos o que iríamos encontrar em termos de condições atmosféricas. Julgo que a estratégia do warm up resultou na corrida. Infelizmente, não consegui manter o ritmo a sete ou oito voltas do final. Comecei a ter dificuldades para manter aderência. Depois de algumas situações em que quase caí, decidi baixar o ritmo e trazer a moto até final”, destacou à assessoria de imprensa. Com este resultado, o piloto da Tech3 manteve o décimo lugar do Mundial com 90 pontos, aproximando-se mais um ponto de Jack Miller. Já Joan Mir leva 37 pontos de avanço sobre Quartararo e Álex Rins, o que coloca o espanhol da Suzuki cada vez mais próximo de suceder a Marc Márquez como campeão no MotoGP.