O que começou como um “projeto divertido” de recuperar o Cemitério dos Ingleses em Elvas acabou por ocupar mais de 20 anos da vida de Nick Hallidie, trabalho reconhecido este ano pela rainha Isabell II.

O presidente da Associação dos Amigos do Cemitério dos Ingleses foi incluído na lista deste ano de condecorações emitida pelo aniversário da Rainha e distinguido com o grau de Membro da Ordem do Império Britânico (MBE) “por serviços de proteção do património histórico britânico em Portugal”.

Em declarações à Agência Lusa a partir de Sudbury, cerca de 100 quilómetros a nordeste de Londres, onde reside atualmente, o antigo militar disse que a notícia, recebida no início de outubro, deixou-o “bastante lisonjeado”.

“É uma honra para mim, mas também envolve muitas outras pessoas”, vincou Nick Hallidie, presidente da Associação desde a sua fundação em 1996 e considerado o principal impulsionador da restauração do Cemitério Militar Britânico em Elvas.

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O seu envolvimento começou em 1995, quando acompanhou uma visita à cidade de Elvas, onde a vivia na altura numa propriedade familiar, conduzida por um autarca que pretendia que a cidade fosse declarada Património da Humanidade, o que aconteceu em 2012.

Na altura, o Cemitério estava abandonado, cheio de ervas e Hallidie iniciou uma série de contactos para iniciar a sua recuperação, acabando por lhe ser pedido que tratasse da limpeza, financiada pelo ministério dos Negócios Estrangeiros britânico.

“A embaixada pediu-me porque sabia que eu tinha experiência como militar. Eu achei o projeto divertido, juntei umas 14 pessoas das redondezas e fomos cortar as ervas e limpar o local”, recordou.

A associação foi formada no ano seguinte e Hallidie foi escolhido como presidente, cargo que exerce desde então.

“Tem sido agradável e muito gratificante. Mas vou ter de abandonar em breve”, explicou.

O cemitério dos ingleses situa-se no baluarte de S. João de Corujeira, ao alto da muralha Leste da cidade de Elvas e inclui uma capela fundada em 1228 pelos frades da Ordem dos Hospitalários.

No cemitério estão sepultados cinco militares britânicos, que morreram na batalha de La Albuera, na província de Badajoz (Espanha) e são representativos dos milhares de soldados aliados que perderam a vida na batalha, travada a 16 de maio de 1811.

O confronto militar enquadrou-se na Guerra Peninsular, onde as forças aliadas de Portugal, Espanha e Inglaterra lutaram contra o exército invasor de Napoleão Bonaparte.

A Guerra Peninsular ocorreu no início do século XIX, entre 1807 e 1814, na Península Ibérica e todos os anos, a data é evocada pela Associação dos Amigos do Cemitério dos Ingleses, em colaboração com militares de Portugal e Extremadura espanhola.

Atualmente, a associação conta com cerca de 300 membros, a maioria em Portugal, Reino Unido e Espanha, mas também em países mais remotos como Barbados.

Graças à angariação de 100 mil euros, a Associação financiou obras de recuperação da capela de São João da Corujeira, que reabriu em 2011 e onde pretende criar um museu evocativo da Guerra Peninsular.

Por razões de saúde da mulher, Hallidie regressou ao Reino Unido em 2005, mas continuou a organizar ações de angariação de fundos e todos os anos regressa a Elvas para a cerimónia anual da Associação, que este ano foi cancelada devido à pandemia de covid-19.

Olhando para atrás e para o trabalho feito, disse que “foi fascinante e valeu completamente a pena”.