O Liverpool tinha acabado de ser campeão, o Manchester City teve de fazer a guarda de honra aos novos detentores do título, no final houve goleada e para o segundo classificado. O último encontro entre as duas melhores equipas da Premier League nos derradeiros três anos foi tudo menos um barómetro do que se passara no passado, de como estava o presente e do que daí seria retirado para o futuro. A época acabou, o paradigma voltou ao normal. E mais dois portugueses entraram no léxico diários de ambos os conjuntos projetando a luta pelo título.

Rúben Dias teve problemas para entrar no estádio mas lá arranjou a app para ver dois ex-jogadores do Benfica a brilhar

De um lado, Rúben Dias. A contratação mais cara da temporada, a contratação para tentar fazer esquecer muitas outras quase tão caras que não funcionaram como pretendido. Desde que chegou ao Manchester City, e mesmo estando ainda num período de adaptação, o central foi apenas poupado no recente encontro com o Olympiacos, nunca perdeu e a equipas sofreu apenas três golos em seis jogos, num início de estabilização do setor que mais dores de cabeça deu a Guardiola na última época. Do outro, Diogo Jota. A contratação mais cara da temporada, a contratação para dar outra rotatividade a um tridente ofensivo caracterizado como um dos melhores da Europa. Desde que chegou ao Liverpool, tendo superado um período de adaptação, o avançado conseguiu nos últimos jogos ganhar a titularidade, marcou seis golos nos últimos quatro encontros incluindo um hat-trick na Liga dos Campeões com a Atalanta e tornou-se o sangue fresco que muitas vezes Klopp não teve na última época. Com eles e atrás deles estavam os dois grandes candidatos ao título na Premier League. E um grande jogo.

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Liverpool goleia, Diogoal faz hat-trick e continua a Jotamania, que tem em Klopp o fã número 1 e chega a todos (menos Firmino)

“Nunca subestimo um adversário mas quando estava no Bayern havia o B. Dortmund do Thomas Tuchel ou do Jürgen [Klopp] que eram equipas incríveis, quando estava no Barcelona o Real Madrid também era sempre muito complicado e desde que cheguei aqui sempre considerei o Liverpool como o principal opositor. Defrontei muitas equipas, tenho muito respeito por todas elas mas aquilo que sinto é que o Liverpool nos últimos anos e o Barcelona do Luis Enrique com quem joguei nas meias da Champions com o Bayern foram as equipas mais complicadas que alguma vez defrontei. Vamos procurar a vitória mas isso é uma parte do processo. Talvez daqui a uns anos o City tenha outro rival ou o Liverpool tenha outro rival, não é algo eterno, mas nos últimos três anos foram sempre eles os nossos grandes rivais na Premier League”, destacou Pep Guardiola no lançamento do jogo.

“Tenho um recorde positivo com Pep Guardiola? Então devíamos jogar mais vezes! Mas fico feliz por não jogarmos tantas vezes contra eles, para ser sincero, pela qualidade que ele e a equipa têm. Não tenho noção dos registos que temos. Sabemos que nos defrontamos de vez em quando, que nem sempre perdemos e que todos os jogos foram incrivelmente difíceis, eles tiveram grande intensidade. Essa é a única coisa que me preocupa realmente e não como foi o último jogo que fizemos ou antes disso. Para ganharmos teremos de ter uma organização muito perto da perfeição e teremos de ser corajosos, muito corajosos, porque jogando o nosso futebol também podemos causar problemas. Tudo isto junto pode parecer fácil mas não é uma ciência, até pela pressão que colocam. Esperemos que seja um jogo interessante, estávamos na direção certa”, comentou Jürgen Klopp.

Muito respeito, ainda mais elogios, uma incógnita em relação às equipas iniciais até pelas constantes mudanças de Manchester City e Liverpool nos últimos encontros. E foi aí, por não confundir respeito com receio, que o alemão começou por ganhar a batalha ao espanhol: à semelhança do que já tinha feito frente ao Sheffield United, e que poucos acreditavam que fosse possível num jogo grande como este, Klopp apostou em Salah, Mané, Diogo Jota e Firmino de início, deixando Henderson e Wijnaldum numa linha à frente dos centrais e os laterais a terem total liberdade para subirem pelos corredores. Sem Van Dijk, o que fragilizava e muito o setor recuado, a aposta era fazer do ataque a melhor defesa. Assim aconteceu, com resultados práticos à vista: depois de um bom arranque com dois lances de perigo de Firmino, Kyle Walker carregou Mané na área num lance que começou com um encosto de Jota na pressão sobre Sterling e Salah não perdoou de grande penalidade, fazendo o 1-0 (13′).

Aos poucos, as zonas de pressão mais altas do Liverpool deixaram de ser tão eficazes, houve algumas saídas de bola a partir de trás com passes errados e o Manchester City cresceu no jogo, vendo Alisson evitar o golo a Sterling após assistência de Kevin De Bruyne e recuperação de Ferran Torres (25′) e chegando mesmo ao empate por volta da meia hora, com Mané a falhar a marcação ao opositor mais direto Kyle Walker e a bola a avançar na vertical até Gabriel Jesus sempre aproveitando as unidades que estavam isoladas, com o brasileiro a ter um fantástico toque de calcanhar na área antes do remate rasteiro para o 1-1 (31′). Os estados emocionais estavam invertidos e, logo no minuto seguinte, De Bruyne arriscou a meia distância que passou a rasar o poste. O belga era o melhor dos citizens mas também mostrava uma pontaria particularmente desafinada, como se viu num penálti desperdiçado em cima do intervalo por mão de Gomez na área que marcou também ao lado (42′). E foi mesmo Ederson a salvar a equipa de males maiores, ao travar um remate de Alexander-Arnold que por pouco não teve recarga de Jota (44′).

Passou o descanso, voltou o jogo. E sem tempo para readaptações a estilos, com bola nas duas áreas a todo o gás e Diogo Jota a ter uma boa oportunidade para desequilibrar mais uma vez mas o remate saiu fraco para defesa de Ederson. Ato contínuo, na área contrária, João Cancelo teve uma grande assistência para Gabriel Jesus mas o brasileiro não conseguiu dar o melhor seguimento. E ainda houve mais um remate de Kevin de Bruyne, a passar muito perto da trave da baliza de Alisson. Depois, até pela evidente quebra física de algumas unidades (e lesões, como a de Alexander-Arnold), o encontro entrou num ritmo diferente já com Bernardo Silva em campo no lugar de Ferran Torres e percebeu-se que, por muito que o objetivo fosse ganhar, não perder já começava também a ser algo aceitável. E foi mesmo isso que aconteceu, com um empate onde o melhor português até acabou por ser João Cancelo e que mostra que a Premier League pode ser bem mais aberta na presente temporada. E além de ser o Leicester o atual líder, ainda há também o Tottenham de José Mourinho com os mesmos pontos dos reds.