Salas de espera ampliadas, contentores para urgências Covid-19, uma nova sala de cirurgia de ambulatório e uma unidade de internamento para pequenas cirurgias foram transformações operadas pelo Centro Hospitalar Lisboa Central para conseguir assegurar o tratamento a todos os doentes.

A pensar nos utentes que têm de aguardar na rua pela sua vez para ir à consulta de especialidade no Hospital São José, devido às regras de distanciamento impostas pela pandemia, o centro hospitalar montou uma tenda provisória e está a ampliar a sala de espera que abrirá dentro de duas semanas.

Ao entrarem para as Consulta Externas, os doentes medem a temperatura, desinfetam as mãos e mudam de máscara, como medidas de precaução contra a Covid-19.

No dia em que a agência Lusa visitou o Hospital São José, as obras estavam já numa fase muito avançada. A velha e pequena sala de espera escura das consultas de especialidade está a transformar-se numa sala ampla, branca e azul, onde sobressai numa parede a frase: “Inovar no cuidar”.

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Ao mesmo tempo, ultimavam-se os trabalhos de instalação de estruturas pré-fabricadas para urgências Covid-19, no Pátio do Relógio, que vão ter acesso direto à urgência geral polivalente e ao serviço de radiologia para os doentes poderem fazer uma TAC.

Os contentores, que têm 22 boxes, uma sala de raio-X, camas e cadeirões e todo o equipamento necessário para atender estes doentes, vão abrir para desocupar algumas zonas, disse à agência Lusa a presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), Rosa Valente Matos.

Antes destas obras, já tinham aberto as remodeladas instalações da urgência polivalente do São José, que tiveram de ser readaptadas com a pandemia, criando-se circuitos distintos para o doente respiratório e não respiratório e um terceiro circuito para o doente diagnosticado com covid.

Também estão a ser feitas adaptações nas urgências do Hospital D. Estefânia, onde vai ser aumentada a sala de espera e aberto um contentor externo, e na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), onde já abriu uma sala para grávidas com Covid-19.

Outras unidades, como a de Neurofisiologia, saíram do velho edifício do São José e foram instaladas noutro local do hospital com mais espaço e luz e melhores condições para acolher os doentes.

As obras fazem parte do Plano de Contingência do CHULC, que integra os hospitais São José, Curry Cabral, Santo António dos Capuchos, Santa Marta, D. Estefânia e MAC, que está ativo desde o início da pandemia e foi agora adaptado à segunda fase da pandemia, que “chegou um bocadinho mais cedo”.

“Estamos a cumprir o plano, através da adaptação das instalações, dos equipamentos, dos recursos humanos para que os doentes com covid-19 tenham o seu tratamento e os doentes não Covid-19 continuem a vir ao hospital e continuem a ser tratados”, explica Rosa Valente Matos, admitindo, contundo, não saber até quando vai possível cumpri-lo.

O Plano de Contingência, que tem três níveis com sete fases, estando agora na fase quatro, prevê a abertura de camas para doentes Covid-19 de forma progressiva, segundo as necessidades, numa articulação entre os seis hospitais.

Em solução limite o Plano de Contingência permite a utilização de cerca de 300 camas em enfermaria e cerca de 90 em cuidados intensivos.

Começámos com a infeciologia, depois avançámos para mais internamentos na área da medicina e agora já estamos também na área das cirurgias, ou seja, estamos a ocupar camas que eram de outras especialidades e estamos a colocar essas especialidades noutros sítios”.

Pavilhão quase em ruína do Curry Cabral dá lugar a unidade de internamento

Um pavilhão quase em ruína do Hospital Curry Cabral foi transformado numa unidade de internamento de curta duração para que a atividade cirúrgica não seja interrompida e para que haja mais camas disponíveis em tempo de pandemia.

É um espaço com muita luz, pintado de azul e branco, onde os quartos em vez de portas têm cortinas azuis. No final do corredor há uma sala de refeições com mesas brancas, onde apenas pode estar um doente por mesa, para assegurar o distanciamento necessário imposto pela pandemia.

O desafio de criar esta unidade foi lançado à enfermeira Helena Pestana, chefe da nova “Unidade de Internamento Cirurgia E”, inaugurada no dia 29 de outubro, como a própria contou à agência Lusa.

Este foi um desafio que me foi lançado e que num contexto de pandemia assume uma proporção maior ainda – os internamentos curtos – de forma a atender o maior número de doentes [que fazem cirurgias menos complexas] com uma qualidade que lhes assiste”.

Os doentes ficam agradados quando veem o “espaço com muita luz” e já vão preparados para “um internamento curto e rápido”, relatou Helena Pestana, que fala com orgulho do espaço criado e pensar no bem-estar do doente.

A obra quando foi desenhada foi a pensar na humanização dos cuidados, em proporcionar um ambiente menos hospitalar e mais acolhedor, com muita luz, e permitir o contacto com o mundo exterior”.

A unidade recebe doentes de vários serviços para libertar camas para cirurgias mais complexas, sendo a prioridade a cirurgia programada.

No dia em que a agência Lusa visitou o serviço, que tem capacidade para 14 doentes, estavam 10 camas ocupadas.

“Até ao final do dia vai encher e vai vazar novamente, porque estes 10 doentes hão de mudar e hão de vir outros”, comentou Helena Pestana, adiantando que a média de internamento atualmente é de 48 horas.

No mesmo hospital, também foi aberta mais uma sala de cirurgia ambulatória, uma das grandes apostas do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central para não parar a atividade cirúrgica, disse a presidente do Conselho de Administração, Rosa Valente Matos.

O Curry Cabral passa assim a ter quatro salas de cirurgia de ambulatório a funcionar com um horário mais alargado, com o objetivo de realizar, em média, mais 100 intervenções por mês (em novembro e dezembro), um aumento de 30% face ao período homólogo de 2019.

Com a pandemia, a unidade de ambulatório teve de fazer algumas adaptações, como criar um espaçamento de metro e meio entre cada cama, cortinados para dividir o espaço entre os doentes, que estão todos de máscara e testados à Covid-19 para “não haver hipótese de infeção”, disse a médica Paula Tavares, responsável pelo serviço.

Temos todos os cuidados para não haver transmissão de algum caso que possa vir falso negativo e ser positivo e até hoje não temos casos de transmissão”.

No serviço de ambulatório, fazem-se cirurgias cada vez mais complexas. Por exemplo a ortopedia faz toda a cirurgia da mão, do pé, a artroscopia do joelho e já há ortopedistas a fazer cirurgia do ombro.

Quando começámos só fazíamos doentes com uma hérnia (…) agora fazemos duas hérnias mais umas varizes no mesmo doente sem problemas”.

Enfermeira na Unidade de Cirurgia de Ambulatório, que abriu em 2004, Nilza Lima, destacou a importância na recuperação o doente ir para casa a seguir à cirurgia.

“É o pensamento positivo. Se eu posso ir para casa não estou tão doente assim”, aliado ao facto de ir para o seu ambiente e estar apoiado emocionalmente pela sua família, o que também garante “uma recuperação muito mais rápida”.

Por outro lado, “é mais seguro para o doente se formos pensar em termos de infeções hospitalares e em termos de estabilidade emocional”, salientou Nilza Lima