Os representantes de bares e discotecas consideram que as ajudas anunciadas pelo Governo, nomeadamente apoios majorados, são “bem-vindas”, mas denunciam que já chegam tarde para muitas empresas que vivem da noite e que não faturam há nove meses.

“Este programa já vem um pouco tarde, é sempre bom, mas vem um bocadinho tarde”, disse à Lusa a porta-voz do Movimento para a Abertura dos Bares, Maria João Pinto Coelho, explicando que o programa agora anunciado é “uma extensão” daquele que existiu no início da pandemia e que chegou a “poucos estabelecimentos, não sendo a salvação para muitos”.

O ministro da Economia anunciou na sexta-feira que o novo programa de apoio a empresas – Apoiar.pt – com um montante global de 1.550 milhões de euros, prevê uma majoração para discotecas, bares e outros estabelecimentos que estão encerrados desde março.

“A animação noturna […] é uma situação bastante preocupante, está claro do ponto de vista sanitário que estes estabelecimentos têm muita dificuldade em evitar contaminações, por isso, infelizmente, têm de continuar fechados”, disse Pedro Siza Vieira, que falava na audição conjunta das comissões de Orçamento e Finanças e Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, no âmbito do debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2021 (OE2021).

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De acordo com Maria João Coelho, o programa será “um apoio para sobreviver à crise”, no entanto, é com expetativa que aguarda os resultados práticos.

Este parece ser o [apoio] mais sério desde o início da pandemia, mas com as dificuldades que houve na primeira fase, na primeira tranche, só depois de estar online vamos ter feedback dos associados e dar mais informação”.

Questionada sobre uma estimativa de quantos bares fecharam desde março, Maria João Carvalho reconheceu a dificuldade em avançar com números, lembrando que as empresas “estão a falir, a declarar insolvência e a despedir todos os dias”, e nem as próprias entidades oficiais “conseguem fazer uma validação do que está a acontecer”.

“É catastrófico”, lamentou, sublinhando que “poucos serão os estabelecimentos que vão sobreviver” às novas restrições anunciadas no âmbito do estado de emergência, que teve esta segunda-feira início, nomeadamente o horário de encerramento até às 22h30 durante a semana e às 13h00 aos sábados.

Foi a estocada final”.

Também o presidente da Associação Nacional de Discotecas, José Gouveia, adiantou à Lusa que, em virtude das novas medidas previstas para as próximas duas semanas, muitas empresas que adaptaram os espaços para restauração e similares “vêm agora o seu investimento deitado por terra”.

Inicialmente fizeram encerrar mais cedo, e agora na totalidade ao fim de semana, que era uma altura em que podiam produzir algum lucro e que assim não o conseguem. Aquilo que se pode dizer nestas empresas é que quem não faliu está a preparar-se para falir, quem não fez despedimentos e está em lay-off está a preparar para o deixar de fazer, é um futuro negro que se está a almejar”.

Segundo o empresário, neste momento, “não há nenhum pensamento positivo” sobre o futuro e sobre as medidas anunciadas, que refere serem “sempre bem-vindas, apesar de serem insuficientes passado oito meses”.

De acordo com José Gouveia, as ajudas anunciadas pelo ministro da Economia estão “inseridas num pacote que só chegará em janeiro“, salientando que as empresas “que já se encontram moribundas precisam de apoios no imediato”.

José Gouveia avançou ainda que a Autoridade Tributária tem os registos das despesas destas empresas que se encontram encerradas, pelo que, no seu entender, seria fácil saber os lucros que perderam nos últimos meses e as despesas que continuaram a ter, apesar de fechados, e ajudar a aproximar do seu break even point (ponto de equilíbrio).

O empresário salientou também que os empresários da noite “sabem e entendem não haver viabilidade para a abertura dos estabelecimentos como antes acontecia”.

“Tal não é o momento, mas para esse efeito [continuar fechados] têm de ser apoiados”, afirmou, reiterando que as empresas fecharam em 12 de março por iniciativa própria, antes de ter sido declarado o primeiro estado de emergência.

Oito meses após o início da pandemia, em 02 de março, Portugal voltou ao estado de emergência até 23 de novembro (o primeiro período decorreu entre março e maio).

Entre as medidas restritivas estão o recolher obrigatório noturno durante a semana (entre as 23h00 e as 05h00 e ao fim de semana a partir das 13h00) nos 121 concelhos de maior risco de contágio.

Nestes 121 municípios, abrangendo 70% da população residente, estão incluídos todos os concelhos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto.