O segundo volume da poesia completa de Artur do Cruzeiro Seixas, que está a ser reeditada pela Porto Editora, vai ser publicado a 3 de dezembro, dia em que o artista completava 100 anos de vida. Cruzeiro Seixas morreu este domingo, em Lisboa.
O livro com 516 páginas reúne os “Poemas de África”, como lhes chamou Isabel Meyrelles, organizadora do volume publicado originalmente pela editora Quasi no início dos anos 2000. Estes foram escritos entre 1950 e 1964, a maioria em África, onde o artista viveu durante um período e onde realizou duas exposições, em 1953 e 1955.
“Diz Cruzeiro Seixas que o que pintou e escreveu são apenas fragmentos; ‘São fragmentos o que o meu dia a dia me dá; fragmentos de amor, fragmentos de génio, fragmentos de sonho etc, etc…, neste fragmento de país’. Por aqui seguimos, cegos pela intensidade da luz. Creio que é Jean Paulhan que refere ‘o furor poético do surrealismo’, e creio eu que é esse furor que passa nesta poesia como passa nessa África afinal ainda subjugada”, escreveu Meyrelles num texto que serve de introdução ao volume e onde se referiu à “África mítica” do pintor e poeta.
Leia aqui um dos poemas de Cruzeiro Seixas que será publicado neste volume
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Tenho as mãos sujas de poesia
o caminho lacerado por certas aves,
o corpo em farrapos.
Com este absorto entardecer
por sobre os ombros
olho o espaço.
Aberta a paisagem inquieta
espera
inocente e inanimada.
Estamos frente a frente
como duas sombras inúteis
caídas ao lado da estrada.
Luanda 55
O primeiro volume da poesia completa de Cruzeiro Seixas, que está a ser reeditada no âmbito da coleção “elogio da sombra”, coordenada por Valter Hugo Mãe, saiu no passado mês de junho. Está programa a publicação de outros três volumes, de dois que também saíram pela Quasi e de um quarto, nunca editado, que contém dispersos e os poucos inéditos que existem. Esta só deverá acontecer no decorrer do próximo ano.
Cruzeiro Seixas morreu este domingo no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, aos 99 anos. A notícia da sua morte foi divulgada pela Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, onde funciona o Centro Português do Surrealismo. Reagindo à morte do artista, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou a “vida longa e livre” de “uma figura multímoda da cultura portuguesa”.
António Costa declarou: “O rei Artur deixou-nos, mas a sua obra seguirá sendo uma inspiração”.